Paula Juliana 20/06/2015
Resenha: Há muito o que contar....aqui - A. L. Kennedy
'' Você podia evitar algumas lembranças, se evadir delas, mas ainda assim elas o assombrariam.''
Liberdade!
A liberdade existe quando uma pessoas se encontra pressa dentro de si mesma? Há muito o que contar....aqui, realmente conta muito, conta sobre o auto conhecimento humano, conta sobre superação, conta sobre os horrores de um homem que sobreviveu a Segunda Guerra Mundial, um homem que sobreviveu ser prisioneiro de Guerra, e que depois teve que descobrir como VIVER novamente, como superar seus problemas, superar seus medos, e aceitar sua história!
''E o fato de ter de pensar, por si só, não ajudava em nada, mas mesmo assim você era obrigada a pensar o tempo todo.''
Alfred Day, mais conhecido como Chefe, mesmo nunca tendo sido Chefe de nada, é um cara aparentemente normal, não é nenhum bonitão, com sua baixa estatura, seus um metro e sessenta e dois, ele é calvo, um pouquinho avantajado na cintura e agora deixou seu bigode crescer!
''Qualquer um poderia te abandonar.''
É aviador da Força Aérea Britânica, ex-prisioneiro de guerra, mesmo com sua posição de ''artilheiro da torre de cauda'', isso é, o cara que fica atirando na casinha embaixo da cauda do avião, uma das posições mais perigosas de se ter na guerra, Alfred sobreviveu a Segunda Guerra Mundial, sobreviveu a ser prisioneiro naquela época negra, e mesmo comendo tudo que tem pela sua frente e dormindo muito mal todas as noites, ele está vivo. Não que ele realmente quisesse viver, agora quase seis anos depois da guerra ter acabado, Chefe está enfrentando seus demônios interiores, e por mais que pareça estranho, está participando como figurante de um filme sobre a Segunda Guerra e seus campos de prisioneiros.
O livro viaja entre o passado de Guerra do Chefe, suas experiências no campo de batalha, seus companheiros, seu capitão, e o presente, seu momento, seus sentimentos, emoções, e tudo que acontece quando ele revive certos fatos em meio a ficção do cinema.
''É isso mesmo. Eu fui um bom garoto. Eu matei, roubei e usei grandes palavras, mas nunca fumei e fui um bom garoto. Que rapaz bonzinho eu fui.''
Alfred achava que sabia das coisas, autodidata, estava acostumado a aprender sozinho em seus livros e achou que isso bastaria, quando partiu para a Guerra achou que estava preparado, mas a guerra pode mudar e mexer com a cabeça de um homem, dificilmente ele sai o mesmo que entrou, ser prisioneiro também não ajudou, ele agora quer se recuperar, quer sair do abismo, sentir novamente, se sentir vivo.
A autora conta a historia de Day com muita sensibilidade, estamos direto na cabeça desse homem, que viaja pelas suas lembranças e revive seus traumas, Chefe dividi com o leitor muito mais que sua história, ele dividi tudo que resta, tudo que tem e tudo que vai descobrir existir dentro de si novamente, mesmo que se encontre em um lugar um tanto inusitado!
'' Você tem sido e não tem sido. Você não faz e não fez.''
Há muito o que contar....aqui é um tremendo drama, uma ótima história para se ler com o coração aberto, aqui não vai se encontrar um romance avassalador, ou vilões e grandes mocinho, o próprio protagonista briga com esse bem e esse mau que existe dentro de si, tem que conviver com o que fez, com as mortes que causou. Indico A. L. Kennedy e sua gostosa escrita para os leitores que amam viajar pela Segunda Guerra mundial, e que gostam de desvendar a profundidade da alma de um personagem! Recomodadíssimo!
''O infinito aprecia as guerras, ele permite que elas surjam.''
Paula Juliana
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