spoiler visualizarSofia.Poderoso 12/04/2024
Killing An Arab
Ok, vamos lá. Falar sobre esse livro é sempre muito empolgante pra mim por todos os motivos que me fizeram chegar até ele, mas também por tudo que Camus apresenta brilhantemente em seu romance de estreia (eu NUNCA vou superar isso). Dessa forma, essa resenha pode parecer um pouco pessoal demais, mas como é uma releitura não vejo problemas.
Bem, eu li "O Estrangeiro" quando tinha 17 ou 18 anos devido a uma sucessão de acontecimentos que ainda hoje são muito queridos por mim. Inicialmente, descobri a existência do livro no filme brasileiro "Califórnia", um dos meus preferidos da vida, quando JM apresenta a obra a Estela e fala que a música "Killing An Arab" da banda The Cure era sobre essa história. Isso prendeu a minha atenção instantaneamente, pois amo aquela música e amo The Cure, mas não sabia a história por trás da composição. Essa curiosidade teve um impacto muito legal em mim e agora três formas de arte se conectam de uma maneira muito especial na minha vida.
Enfim, indo diretamente para o livro, eu AMO a forma como Camus aborda a total indisposição e indiferença para o mundo. O parágrafo de abertura do livro é, talvez, um dos mais marcantes da literatura e, inicialmente, talvez não tenha tanto impacto, mas em uma releitura é uma lembrança brusca de toda a personalidade de Meursault. Todas as interações dele com as outras personagens do livro são marcadas por "tanto faz", por respostas indiferentes, monossilábicas e completamente alheias a consequências ou até mesmo à humanidade. Ao mesmo tempo, o seu senso de sinceridade é muito apurado. Ele não hesita em dizer a Marie que não a ama, enquanto encara a proposta de casamento como se alguém o tivesse perguntado se ele prefere uma ou duas colheres de açúcar no café, irrelevante.
É também por isso que a passagem de Meursault pela cadeia é tão marcante. A sua indiferença com tudo e com todos passa por sua vida até mesmo em sua privação de liberdade, como dizia a sua mãe, dá para acostumar-se com tudo. E ele aceita o seu destino sem reclamações ou pestanejos. Até que a sua sentença é divulgada e ele se agarra a um pequeno pedaço de ilusão, apenas para deixá-lo ir com o capelão e abraçar novamente a indiferença, o "c'est comme ça, it is what it is".
É uma leitura que recomendo para todas as pessoas. Realmente, acho que tem a capacidade dicotômica de fazer uma pessoa se aproximar de si. Além de ser genial.
"I can turn and walk away, or I can fire that gun
Staring at the sky, staring at the sun
Whichever I choose, it amounts to the same
Absolutely nothing
I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab"