Memorial do Convento

Memorial do Convento José Saramago




Resenhas - Memorial do Convento


183 encontrados | exibindo 166 a 181
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 12 | 13


G. 30/11/2010

Memorial de um sonho...
Memorial do convento, publicado em 1982, é o romance em que o consagrado escritor José Saramago começa a ganhar mais popularidade.

Um ano inteiro via esse livro nas estantes da biblioteca de minha escola e, um dia, pouco após ter lido "o conto da ilha desconhecida" do mesmo autor, tomei coragem e o peguei para ler.

O inicio é um pouco monótono e fala bastante das relações reais na corte de Portugal, época em que governava o rei D. João V. Logo no início, Saramago já traz algumas críticas à igreja.

Porém, é quando entra em cena os personagens Baltasar Sete-Sóis, soldado maneta de guerra, e Blimunda futuramente Sete-Luas, mulher que tinha poderes especiais, é onde a trama começa ficando boa... Baltasar e Blimunda no decorrer da história acabam se revelando um dos casais mais fiéis e lindos da literatura tamanho o seu amor mutuo.

José Saramago nesse romance une fatos históricos, como a construção de um convento gigantesco em Mafra, com ficção entrando até um pouco no ramo do sobrenatural, que é onde aparece o padre Bartolomeu Lourenço com sua máquina voadora ajudado pelo casal Sete-Sóis e Sete-Luas a ser construida.

Se ou como eles conseguiram executar esse voo? Só lendo...

Acima de tudo, Memorial é um livro intenso, com muitas críticas a formas majoritárias de poder, o que gera muitas reflexões...

E no final do livro, bate uma sensação de saudade da história, das personagens, de toda genialidade que Saramago nos dispõe...
Thiago 28/12/2010minha estante
Gostei demais da sua resenha. Terminei de ler estes dias! Perfeito seus comentários, perfeito Saramago!


Guilherme 28/02/2011minha estante
Gera umas reflexões, mas creio que o autor escreveu de tal forma esse Memorial não me despertou lá muitas reflexões...


mariainesmr 11/04/2015minha estante
Concordo contigo. Acabei de ler o livro hoje e já tenho saudades do Baltasar e da Blimunda, do amor entre elas e tá das críticas irónicas de Saramago.




Iza 13/11/2010

genial Saramago !!

Apesar de achar a linguagem um tanto difícil a princípio, a sensibilidade do autor, aliada a sua fina ironia , me prenderam pela beleza e delicadeza do texto. Bonito também o amor que une Blimunda e Baltazar, amor verdadeiro, puro.
O olhar crítico sobre o cristianismo, à religião católica, às desigualdades sociais, com o sarcasmo peculiar de sua escrita, fazem desta uma leitura deliciosa!




comentários(0)comente



Carla Macedo 07/10/2010

Hoje tenho 39 anos e descobri Saramago tarde, aos vinte e tantos anos,(agora não me recordo bem) quando assistindo a um noticiário local, um garoto de 17 anos estava sendo entrevistado por ter passado no vestibular em várias instituições em 1o lugar. E a tônica que o jornalista dava era ao fato dele não ser um nerde. Disse, entre outras coisas, que o escritor predileto dele era Saramago. Quando terminou a entrevista ficou a sensação: um garoto de 17 já leu Saramago e eu ainda não fui apresentada, porque? Comprei o MEMORIAL DO CONVENTO para me apaixonar definitivamente e não parei mais.
Saramago é tão detalhista que várias passagens ficam na minha memória: Quando morri de rir ao "ver" um padre histérico querendo botar Santo Antônio de castigo por não ter protegido o altar do santo vizinho do roubo das ofertas; quando tentam levar uma laje de pedra para a obra (os detalhes são riquíssimos); quando Sete Sois e Sete Luas estão sob o luar em Mafra vendo a ilha Madeira (este trecho é tão singelo...); quando descobri por acaso que as máquinas de voar no Recôncavo Bahiano existiram de fato idealizadas por um padre que veio de Portugal, sem falar na delicadeza retirada dos seres marginalizados neste tempo histórico com verdadeira maestria.
O livro é encantador.
Quem achar que o início é arrastado pra ler, digo que sejam perseverantes e logo, logo não irão parar de lê-lo. Recomendo muito!
Alexandre Kovacs / Mundo de K 06/10/2010minha estante
Um dos melhores romances históricos que eu já li e com a marca inigualável de Saramago, um gênio! Parabéns pela resenha.


Guilherme 28/02/2011minha estante
Adorei o seu BAHIANO. Deveria ser assim. Sua resenha é sincera.




CrisBauer 18/09/2010

Esse foi meu primeiro Saramago e há alguns anos atrás. Talvez eu tenha que relê-lo para apreender melhor a história.
comentários(0)comente



Guga 27/07/2010

Saramago mostra porque ganhou o Prêmio Nobel.
comentários(0)comente



Andreia Santana 24/07/2010

O amor nos tempos de Saramago
Memorial do Convento, de José Saramago, me lembra Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques). Não porque as histórias sejam parecidas. Muito menos pelo estilo dos dois autores, que são bem diferentes (ambos inimitáveis e maravilhosos). Mas apenas por lançar mão de recursos narrativos que remetem ao Dom Quixote de Cervantes. Comparo os três livros porque leio Memorial como uma fabulosa novela de cavalaria ambientada no Portugal do século XVIII, com sua fé católica fanática (Inquisição) tão sangrenta quanto as touradas nas ruas de Lisboa, no período.

Cem Anos de Solidão, apenas para esclarecer a comparação, seria uma novela de cavalaria (ou uma epopéia quixotesca) que a partir da saga de uma família (os Buendía) reproduz a história colombiana, e por tabela, a latino-americana, de fortes laços com a Península Ibérica (Portugal-Espanha) de Saramago.

Pego emprestado, porém, o nome de outra obra de GGM (O Amor nos Tempos do Cólera) para titular essa tentativa de resenha para Memorial do Convento. Pois para mim, trata-se de uma história de amor, que pensando bem, me remete a outro autor, desta vez brasileiro, Ariano Suassuna (O auto da compadecida, Romance da Pedra do Reino), assumidamente um Quixote da cultura popular nordestina.

A saga de Balthasar Mateus Sete Sóis e de Blimunda Sete Luas, sua inquietante companheira, figura, ao menos para mim, como um dos romances mais bem construídos, delicados e comoventes da literatura. A presença do padre Bartolomeu de Gusmão (figura real da história, com origem no recôncavo baiano), como coadjuvante dessa aventura de um homem e uma mulher em suas andanças pelo mundo, torna o livro uma das obras-primas não do autor português, porque dele é difícil enumerar as obras-primas, todas merecem o título, mas da literatura contemporânea. Sem dúvida, para habitar ao lado de Dom Quixote no panteão dos clássicos inesquecíveis.

Memorial do Convento tem alicerces em fatos reais, mas fala dos impossíveis sonhos humanos. A construção do faraônico convento de Mafra a mando de D. João, o quinto de seu nome na linha sucessória, e as experiências igualmente reais com a passarola (máquina de voar), construída pelo padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o Ícaro do Recôncavo, são a metáfora do autor para o seu tema favorito: o ser humano e suas paixões, motivações, medos...

O visionário religioso, que questiona Deus e a fé ao mesmo tempo em que repele a ignorância, quer alcançar o céu com um objeto mais pesado que o ar em pleno século XVIII. Enquanto o rei almeja cair nas boas graças divinas (e com isso conseguir um herdeiro), por meio de um templo grandioso, erguido a custa do sangue de milhares de trabalhadores. E aqui, o lado politizado do autor interpõem-se ao romântico (à moda de Quixote) novelista.

Balthasar e Blimunda, convertidos em ajudantes na construção da passarola e em operário (ele) na obra do convento, habitam esse mundo arcaico (o Portugal das procissões, autos de fé e penitências), mas com idéias e visões de um mundo futuro que a principio parece irreal (onde homens voadores são capazes de competir com Deus na criação). Inocentes, os dois são como anjos sem asas, ou como deveriam ter sido o Adão e Eva do começo dos tempos, sem a culpa do pecado original.

Na base dos sonhos de grandeza do padre e do rei, ou dos sonhos de amor dos sempre leais Balthasar e Blimunda, gravita toda uma arraia miúda que nas obras de Saramago assume a cena como protagonista. A capacidade do autor de dar voz a personagens simples, tornando a rudeza do homem do campo em poesia, é proporcional à sua capacidade de criar diálogos filosóficos de grande profundidade e beleza.

Só um autor como José Saramago consegue a proeza de tornar o rei em coadjuvante da história de amor entre uma mulher capaz de enxergar as pessoas por dentro e um soldado maneta em busca de apaziguar o coração cansado de guerra.

O Portugal barroco, a obra do convento de Mafra, a vida indolente da corte, e a loucura (genialidade?!) de Bartolomeu de Gusmão são o cenário do grande palco da vida onde o casal protagonista passeia e encena seu drama. Memorial do Convento me lembra um cordel, consigo até ouvir a voz cadenciada de um cordelista contando a história do amor da encantadora feiticeira de Lisboa com o soldado de Mafra. Daí a referência a Suassuna.

A cumplicidade entre Balthasar e Blimunda, como homem e mulher e como seres humanos, é uma utopia só possível nos livros. Mas, uma vez chegando ao final da obra, fica uma esperança mínima, lá no fundo da alma (ou da vontade humana, como bem nomeia o padre Bartolomeu) de que todas as histórias de amor sejam eternas não como a de Romeu e Julieta, mas como essa do sol e da lua.
Mag 24/07/2010minha estante
Excelente sua resenha!Adorei a referência a Ariano Suassuna!Não li o livro, mas entendo claramente o que você quis dizer.


Carla Macedo 02/09/2010minha estante
Violet sua resenha está ótima! O que dizer mais? Só recomendar que leiam! Não irão se arrender!


Andreia Santana 02/09/2010minha estante
Obrigada, Mag e Carla :)


Guilherme 28/02/2011minha estante
Sua resenha me intriga. MUito boa. Quero fazer uma igual e imprimirei seu texto para estudá-lo.


Andreia Santana 28/02/2011minha estante
Obrigada pelo interesse, Guilherme. Boa sorte com as futuras resenhas. Abs!


Renata 18/12/2014minha estante
Depois de ler a sua resenha, é impossível não querer ler o livro.
Já estou apaixonada por ele, principalmente pela sua interpretação.


Paulinho 17/04/2015minha estante
Maravilhoso seu texto. Você realizou uma leitura muito interessante!


Alex 15/07/2015minha estante
Sua resenha está quase tão boa quanto o próprio livro. Se eu nunca tivesse lido Memorial do Convento, que é um dos meus favoritos, com certeza o procuraria imediatamente. Quando vejo resenhas como a sua, eu lembro porque nunca resenhei nenhum livro. Não tenho essa capacidade de esmiuçar e extrair ideias e fazer analogias tão boas. Parabéns! O livro é realmente espetacular e seu texto também.


arlete.augusto.1 09/01/2021minha estante
Maravilhosa sua resenha, impecável na descrição dessa grande obra de Saramago (uma entre tantas escritas por ele, concordo com vc)


Andreia Santana 09/01/2021minha estante
Obrigada, Arlete?


Katia.Borges 28/02/2022minha estante
Maravilhosa...já 3stou com o livro em mãos.


Andreia Santana 28/02/2022minha estante
Espero que goste, Kátia




Paulo Mandarino 24/05/2010

Poesia pura
saramago foi tremendamente feliz ao escrever esse livro. poesia pura do início ao fim.
Alexandre Kovacs / Mundo de K 24/09/2012minha estante
Grande livro, gostei muito.




pool 11/04/2010

Belíssimo livro. Além de nos ensinar a história do nosso antigo colonizador nos ensina muito sobre o ser humano.
Uma linda história de amor entre um soldado maneta e uma mulher que enxerga dentro das coisas e pessoa, amor herético mas abençoado pelo famoso padre Bartholomeu Gusmão um dos principais personages deste romance.
Nada como ler um livro de Saramago para nos depararmos com um clássico, pois é ele o único escritor contemporâneo capaz de fabricar um.
comentários(0)comente



Gláucia 31/03/2010

Surreal
Narra o amor de Baltazar e Blimunda de uma maneira que lembra um pouco o realismo mágico de Cem Anos de Solidão, ambientado numa Portugal medieval, na prosa poetisada de Saramago.
comentários(0)comente



Bruno 13/03/2010

Primeiro parágrafo do livro.
D. João, quinto nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são pudiadas tantas vezes, e segundo, mateial prova, se necessário ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se de portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda razão porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há-de ser naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações ocasionais. Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorasamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total depois de retirar-se de si a da cama o esposo, para que se não perturbem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano, como se espera de um homem que ainda não fez vinte e dois anos, nem isto nem aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana. Mas Deus é grande...
comentários(0)comente



Daniel 11/01/2010

Resenha feita para a Faculdade/2004
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

1º Semestre de 2004 - História Noturno

"Memorial do Convento" de José Saramago

Resenha realizada por Daniel "Jota"

História Ibérica I Professora Vera Lúcia Amaral Ferlini



Publicado em 1982, o Memorial do Convento, um romance histórico, é a obra mais conhecida do português José Saramago. Martim Vasques da Cunha, escritor, jornalista e um crítico de Saramago, disse que “Saramago não aceita Deus como Ele é. Talvez seja por isso que é escritor, numa espécie de missão pervertida. Ao criar seu próprio mundo, ele pode transformá-lo com mágicas ...” e é assim que em seu mundo a ficção, a fantasia, a imaginação e o sonho estão profundamente ligados à realidade e à sua interpretação. E é nesse mundo que se passa a história do seu segundo romance publicado: Memorial do Convento.

O Memorial conta a história da construção, que ocorreu entre os anos de 1711 e 1730, do Convento Franciscano de Mafra, nos arredores da cidade de Lisboa, por ordem do rei de Portugal, D. João V. Romance histórico de minuciosa descrição da sociedade portuguesa cortesã e popular da época. E é desta sociedade que surge os personagens Baltazar Sete-Sóis, Blimunda Sete-Luas e o Padre Bartolomeu Lourenço em que o narrador se baseará para contar a história da construção do convento.

E quem seria exatamente este narrador? Durante a leitura ele se mostra onisciente, surgindo às vezes de dentro de personagens: “... e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações...” (p.50), e até crítico direto da ação da sociedade portuguesa: “... por nascer uma criança em Lisboa levanta-se em Mafra um montanhão de pedra...” (p.79). Mas a pergunta continua: quem? Como o narrador conhece o passado, o presente e o futuro do povo português, pode-se considerar que Saramago ao dar-lhe vida, faz do Povo Português e sua língua o narrador do Memorial.

A história, no romance, nasce do desejo de D. João V, o Magnânimo, de ter um infante, herdeiro do trono português, com sua esposa D. Maria Ana Josefa, que não consegue realizar tal desejo. Após uma descrição pelo narrador do dever conjugal e suas pré e pós-cerimônias, o rei é assegurado por um frei franciscano que um infante teria se prometesse construir na vila de Mafra um convento franciscano, e após um tempo a rainha encontra-se grávida do primeiro filho “não bastardo” de D. João V, que na verdade é uma menina. O narrador deixa em dúvida o milagre aí realizado, ao citar a possibilidade de que a rainha já estivesse grávida antes da promessa do rei, e que esta notícia caíra no ouvido do frei e utilizando-se de tal informação, poderia realizar um sonho já antigo dos franciscanos em ter um convento em Mafra. E desde o princípio do romance, o narrador mostra como a sociedade usa da religião, tanto para a fé, quanto para ascensão social e prazeres carnais. Neste momento aparece uma marca muito importante de José Saramago, um ateu confesso, ao criticar a Igreja e seus dogmas: durante o livro inteiro há referências de atos impróprios para o cargo eclesiástico de quem o ocupa, como o já citado acima em relação ao frei franciscano, como no caso de freiras que chegam a fazer um reboliço por que o rei proibira que elas de terem contato com quaisquer pessoas que não fossem parentes (o rei na verdade queria a exclusividade de ter as freiras somente para ele, pois sendo rei, quase um Deus, e as freiras, as mulheres de Deus, apenas estaria cumprindo com o seu dever), ocasionando conseqüentemente a proibição de seus amantes, falsos parentes, que não a satisfariam mais. São citados outras tantas críticas a Igreja neste romance.

A figura mais importante politicamente é o rei, que acredita (assim como toda a população) ser um escolhido de Deus para governar Portugal, como em um sonho que teve: “Verá erguer-se do seu sexo uma árvore de Jessé, frondosa e toda povoada dos ascendentes de Cristo, até ao mesmo Cristo, herdeiro de todas as coroas...” (p. 18).

A Inquisição era presente em Portugal, mostrando o quanto era rigoroso em se tratando do Santo Ofício e seus interesses. Em um Auto-de-Fé, encontra-se Sebastiana Maria de Jesus, marrana (cristã-nova que ainda cultuava escondida o Judaísmo), que por ter um dom de ver além dos olhos comuns é condenada ao exílio. Sua filha, Blimunda, está presente e é “apresentada magicamente” por sua mãe a Baltazar Sete-Sóis, um ex-combatente que perdeu a mão esquerda em batalha e utiliza de um gancho e um espigão em sua substituição. Em relação ao nome de Blimunda, Saramago disse: “ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara”. Blimunda volta para casa junto com o recém conhecido Baltazar e seu amigo o Padre Bartolomeu Lourenço, que os casa: “Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras” (p. 88). Blimunda tem um dom que ocorria somente ao acordar em jejum, que a proporcionava ver através das pessoas e coisas.

O Padre Bartolomeu Lourenço, que após teria o Gusmão em seu nome, nascido no Brasil, é cheio de dúvidas em relação ao que aprendeu em relação à Igreja, e mostrou-se diferente ao se interessar por alquimia, e na tentativa de criar uma máquina que pudesse voar, tudo longe dos olhos do Santo Oficio, mas sobre a proteção do rei, curioso sobre tal possibilidade. Padre Bartolomeu pede a Baltazar que lhe ajudasse na construção da “passarola”, que a princípio se recusa por apenas possuir uma mão. “... maneta é Deus, e fez o universo” (p.65) diz o padre, e convence a Baltazar a trabalhar em sua invenção. Neste meio tempo nasce a filha de D. João V, D. Maria Bárbara, que em pouco tempo teria um irmão, D. Pedro.

Baltazar e Blimunda começam o trabalho na máquina voadora. Enquanto o padre viaja para a Holanda, onde pretende aprender a arte de comandar o éter, o que faria subir a nave até onde desejava, o casal Blimunda e Baltazar se encaminha até Mafra, aonde moram os pais de Baltazar. Enquanto isto em Lisboa, o infante D. Pedro falece, e sua mãe já aguarda o terceiro bebê. Após três anos o padre retorna de sua viajem, e descobre que a única coisa que poderia fazer sua máquina voar era a vontade dos vivos, era a vontade dos homens que segurava as estrelas e o ar que Deus respirava, explica Bartolomeu de Gusmão, e que somente Blimunda com o seu dom poderia achá-la dentro das pessoas e prendê-las em um âmbar.

Em Mafra se dá início as obras do Convento, e um grande evento com a presença do rei é realizada. E chega da Itália o maestro barroco Domenico Scarlatti a fim de dar lições de música a infanta D. Maria Bárbara. Maestro e Padre tornam-se amigos, e ao conhecer Baltazar e Blimunda pensa em Vênus e Vulcano, deuses romanos, a deusa da beleza e o feio, desengonçado e manco Vulcano, filho feito somente por Hera, a quem horrorizou o nascimento de filho tão feio. Neste momento se haviam passado 9 anos desde o início do romance. Nesta parte da história surge uma revelação, em que os três eram a Santíssima Trindade, e que sendo Deus Uno (p.166), todos seriam também um. Padre começa a dar os primeiros sinais de loucura, a princípio não notável, mas após a leitura de alguns capítulos a frente se notará que de tanto o padre pensar sobre quem ou o que realmente era Deus, chegando a se considerar de um certo modo Deus também, acabará enlouquecendo.

Após uma epidemia em Lisboa, Blimunda consegue as duas mil vontades humanas necessárias para levantar a passarola. Bartolomeu sente que o Santo Ofício está muito próximo de querer pegá-lo, e de que o acusem de haver se convertido ao judaísmo (o que aparentemente aconteceu na história real de Bartolomeu Lourenço de Gusmão), e que se entregara a feitiçarias. A máquina fica pronta e somente faltaria fazer um teste para mostrar ao rei. Mas o Santo Ofício chega antes e os três são obrigados a levantar vôo na passarola sem um teste prévio, e realmente funciona. Após um rápido aprendizado na prática sobre a pilotagem da passarola, eles pousam em lugar distante de Lisboa. O padre aparentemente enlouquece e desaparece deixando o casal a sós que após esconderem a máquina em meio a folhagens voltariam a pé para Mafra. De tempo em tempo Baltazar retornava ao local do pouso para restaurar algumas peças, mas acabou conseguindo emprego fixo de puxador de bois. A construção do convento continuava em ritmo cada vez mais forte.

Baltazar decide ir uma vez mais ao local de pouso e este momento será o último do casal juntos em vida, pois ele sem querer aciona a máquina e sai em vôo. Blimunda esperou o retorno em vão de seu homem, e decidiu sair à busca dele, que durou nove anos, e que somente terá fim quando em Lisboa ela reconhecer o corpo queimado de Baltazar pelo Santo Ofício, e fazer com que a vontade humana dele se junte a dela. E no dia 22 de outubro de 1730, no aniversário do rei, fica pronto o Convento de Mafra.

O reinado de D. João V foi marcado por grandes construções, como a Igreja do Menino Deus, em Lisboa, as Igrejas da Misericórdia e dos Clérigos, no Porto, a Sé de Lamego, a capela de S. João Baptista, na Igreja jesuítica de S. Roque, em Lisboa, renovação da capela-mor da Sé de Évora e o da já citado Convento de Mafra, a sua Versalhes, a maior construção religiosa do país, que na época a moda européia era a de edificar um grande palácio situado não muito longe do paço, justificada pela necessidade “aristocrática e barroca do isolamento do grande palco, esmagador e mágico, que era a corte” (Rui Bebiano). E além das grandes construções, D. João V também é lembrado pelo grande gasto do dinheiro de Portugal nestas construções, sendo grande parte disto financiado pelo ouro brasileiro.

A marca do tempo narrativo de Saramago são os fatos históricos, como os nascimentos dos infantes, a morte de um, e casamento de outro.

Outro ponto interessante em relação a Saramago é no momento em que ele tenta fazer parte da história, ao citar o nome Saramago como se pudesse ter um de seus ascendentes bem longínquos neste local: “... sabe-se lá que descendência a sua será, e que saiu penitenciado por culpas de insigne feiticeiro...” (p.93).

E nestas palavras finalizo esta resenha sobre o Memorial do Covento: “Na parábola do Memorial do Convento, Portugal é um país que desperdiçou inutilmente a riqueza que tem, onde as máquinas de voar caem porque a sociedade se divorcia dos criadores, e não há empenhamento cívico, nem político para dar lugar à imaginação”(Teolinda Gersão).



Bibliografia Ativa

SARAMAGO, José – “Memorial do Convento”. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2003.



Bibliografia Passiva

ALVIM, Pedro, "Memorial do Convento. Uma personagem chamada língua portuguesa" in Diário de Lisboa, Lisboa, 14 de Abril 1988, pág. 2.



ARNAUT, Ana Paula – “Memorial do Convento – História, ficção e ideologia”. Coimbra: Cooperativa Editorial de Coimbra, 1996.



BERBIANO, Rui – “D. João V – poder e espetáculo”. Aveiro: Ed. Estante, 1987.



CUNHA, Martim Vasques in: www.oindividuo.com/convidado/martim58.htm.



FILHO, Odil de Oliveira – “Carnaval no Convento, intertextualidade e paródia em José Saramago”. São Paulo: Ed. Unesp, 1993.



GERSÃO, Teolinda, in Diário de Notícias, Lisboa, 11 de Dezembro de 1998.



REAL, Miguel – “Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em Memorial do Convento de José Saramago”. Lisboa: Ed. Caminho, 1995.



REIS, Manuel – “A Falsa Questão: Ateísmo – Teísmo. Crítica Necessária a José Saramago”. Aveiro: Ed. Estante, 1992.



SARAMAGO, José, in Jornal de Letras, Lisboa, 15 de Maio de 1990, pág. 29.



www.caleida.pt/saramago

www.citi.pt/cultura/literatura/romance/saramago

www.olharliterario.hpg.ig.com.br/entrevistasaramago.html

www.instituto-camoes.pt/escritores/saramago
comentários(0)comente



Julinha 29/08/2009

Como outros romances de Saramago, a história e preenchida com histórias paralelas e reflexões do autor que as vezes cansam. Mas há tempos não via uma história de AMOR tão linda, as sutilezas do relacionamento de um homem maneta da guerra e uma mulher que é capaz de enxergar por dentro das pessoas me levou a refletir sobre o que constitui essa palavrinha de quatro letras tão banalizada hoje em dia. E Saramago consegue sintetizar em poucas palavras: Amor é quando as vontades se juntam, se pertencem, se querem...
comentários(0)comente



Franziska 06/08/2009

podia ser muito melhor
Fui obrigada a ler como trabalho escolar e tenho que admitir que não me convenceu muito nas primeiras páginas/capítulos. É cansativo e a escrita de Saramago demora a entrar.
No entanto, dou-lhe pontos por a história se tornar interessante e por todas as ironias escondidas.
comentários(0)comente



Mônica Firmida 13/07/2009

Mas achei bom!
Acho a escrita de Saramago interessante, mas de leitura cansativa.
Apesar de ter abandonado, eu estava gostando muito da estória deste livro.
Ainda pretendo ler.
comentários(0)comente



183 encontrados | exibindo 166 a 181
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 12 | 13


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR