Memorial do Convento

Memorial do Convento José Saramago




Resenhas - Memorial do Convento


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Andreia Santana 24/07/2010

O amor nos tempos de Saramago
Memorial do Convento, de José Saramago, me lembra Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques). Não porque as histórias sejam parecidas. Muito menos pelo estilo dos dois autores, que são bem diferentes (ambos inimitáveis e maravilhosos). Mas apenas por lançar mão de recursos narrativos que remetem ao Dom Quixote de Cervantes. Comparo os três livros porque leio Memorial como uma fabulosa novela de cavalaria ambientada no Portugal do século XVIII, com sua fé católica fanática (Inquisição) tão sangrenta quanto as touradas nas ruas de Lisboa, no período.

Cem Anos de Solidão, apenas para esclarecer a comparação, seria uma novela de cavalaria (ou uma epopéia quixotesca) que a partir da saga de uma família (os Buendía) reproduz a história colombiana, e por tabela, a latino-americana, de fortes laços com a Península Ibérica (Portugal-Espanha) de Saramago.

Pego emprestado, porém, o nome de outra obra de GGM (O Amor nos Tempos do Cólera) para titular essa tentativa de resenha para Memorial do Convento. Pois para mim, trata-se de uma história de amor, que pensando bem, me remete a outro autor, desta vez brasileiro, Ariano Suassuna (O auto da compadecida, Romance da Pedra do Reino), assumidamente um Quixote da cultura popular nordestina.

A saga de Balthasar Mateus Sete Sóis e de Blimunda Sete Luas, sua inquietante companheira, figura, ao menos para mim, como um dos romances mais bem construídos, delicados e comoventes da literatura. A presença do padre Bartolomeu de Gusmão (figura real da história, com origem no recôncavo baiano), como coadjuvante dessa aventura de um homem e uma mulher em suas andanças pelo mundo, torna o livro uma das obras-primas não do autor português, porque dele é difícil enumerar as obras-primas, todas merecem o título, mas da literatura contemporânea. Sem dúvida, para habitar ao lado de Dom Quixote no panteão dos clássicos inesquecíveis.

Memorial do Convento tem alicerces em fatos reais, mas fala dos impossíveis sonhos humanos. A construção do faraônico convento de Mafra a mando de D. João, o quinto de seu nome na linha sucessória, e as experiências igualmente reais com a passarola (máquina de voar), construída pelo padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o Ícaro do Recôncavo, são a metáfora do autor para o seu tema favorito: o ser humano e suas paixões, motivações, medos...

O visionário religioso, que questiona Deus e a fé ao mesmo tempo em que repele a ignorância, quer alcançar o céu com um objeto mais pesado que o ar em pleno século XVIII. Enquanto o rei almeja cair nas boas graças divinas (e com isso conseguir um herdeiro), por meio de um templo grandioso, erguido a custa do sangue de milhares de trabalhadores. E aqui, o lado politizado do autor interpõem-se ao romântico (à moda de Quixote) novelista.

Balthasar e Blimunda, convertidos em ajudantes na construção da passarola e em operário (ele) na obra do convento, habitam esse mundo arcaico (o Portugal das procissões, autos de fé e penitências), mas com idéias e visões de um mundo futuro que a principio parece irreal (onde homens voadores são capazes de competir com Deus na criação). Inocentes, os dois são como anjos sem asas, ou como deveriam ter sido o Adão e Eva do começo dos tempos, sem a culpa do pecado original.

Na base dos sonhos de grandeza do padre e do rei, ou dos sonhos de amor dos sempre leais Balthasar e Blimunda, gravita toda uma arraia miúda que nas obras de Saramago assume a cena como protagonista. A capacidade do autor de dar voz a personagens simples, tornando a rudeza do homem do campo em poesia, é proporcional à sua capacidade de criar diálogos filosóficos de grande profundidade e beleza.

Só um autor como José Saramago consegue a proeza de tornar o rei em coadjuvante da história de amor entre uma mulher capaz de enxergar as pessoas por dentro e um soldado maneta em busca de apaziguar o coração cansado de guerra.

O Portugal barroco, a obra do convento de Mafra, a vida indolente da corte, e a loucura (genialidade?!) de Bartolomeu de Gusmão são o cenário do grande palco da vida onde o casal protagonista passeia e encena seu drama. Memorial do Convento me lembra um cordel, consigo até ouvir a voz cadenciada de um cordelista contando a história do amor da encantadora feiticeira de Lisboa com o soldado de Mafra. Daí a referência a Suassuna.

A cumplicidade entre Balthasar e Blimunda, como homem e mulher e como seres humanos, é uma utopia só possível nos livros. Mas, uma vez chegando ao final da obra, fica uma esperança mínima, lá no fundo da alma (ou da vontade humana, como bem nomeia o padre Bartolomeu) de que todas as histórias de amor sejam eternas não como a de Romeu e Julieta, mas como essa do sol e da lua.
Mag 24/07/2010minha estante
Excelente sua resenha!Adorei a referência a Ariano Suassuna!Não li o livro, mas entendo claramente o que você quis dizer.


Carla Macedo 02/09/2010minha estante
Violet sua resenha está ótima! O que dizer mais? Só recomendar que leiam! Não irão se arrender!


Andreia Santana 02/09/2010minha estante
Obrigada, Mag e Carla :)


Guilherme 28/02/2011minha estante
Sua resenha me intriga. MUito boa. Quero fazer uma igual e imprimirei seu texto para estudá-lo.


Andreia Santana 28/02/2011minha estante
Obrigada pelo interesse, Guilherme. Boa sorte com as futuras resenhas. Abs!


Renata 18/12/2014minha estante
Depois de ler a sua resenha, é impossível não querer ler o livro.
Já estou apaixonada por ele, principalmente pela sua interpretação.


Paulinho 17/04/2015minha estante
Maravilhoso seu texto. Você realizou uma leitura muito interessante!


Alex 15/07/2015minha estante
Sua resenha está quase tão boa quanto o próprio livro. Se eu nunca tivesse lido Memorial do Convento, que é um dos meus favoritos, com certeza o procuraria imediatamente. Quando vejo resenhas como a sua, eu lembro porque nunca resenhei nenhum livro. Não tenho essa capacidade de esmiuçar e extrair ideias e fazer analogias tão boas. Parabéns! O livro é realmente espetacular e seu texto também.


arlete.augusto.1 09/01/2021minha estante
Maravilhosa sua resenha, impecável na descrição dessa grande obra de Saramago (uma entre tantas escritas por ele, concordo com vc)


Andreia Santana 09/01/2021minha estante
Obrigada, Arlete?


Katia.Borges 28/02/2022minha estante
Maravilhosa...já 3stou com o livro em mãos.


Andreia Santana 28/02/2022minha estante
Espero que goste, Kátia




Léia Viana 20/07/2015

“...os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer...”
Um livro e duas histórias em paralelo. Nesta obra, que se situa em um momento histórico real para falar de personagens e situações fictícias, temos: a construção do Convento de Mafra por D. João V e a história de amor entre Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, envolvidos na construção da Passarola idealizada pelo Padre Bartolomeu Dias, que cultivava o sonho de voar é que compõem essa obra riquíssima em detalhes, com personagens marcantes em um cenário totalmente característico da época em que se passa a história, meados do século XVIII.

É o segundo livro que leio do Saramago, o encanto permanece e estou ansiosa para ler as demais obras do escritor. Esta história não me conquistou como “Ensaio sobre a cegueira”, mas gostei muito de lê-la, especialmente as metáforas usadas para criticar a sociedade da época.

“...são assim os tropeções da vida, um homem vai à guerra, volta de lá aleijado, depois voa por artes misteriosas, confidenciais, e enfim se quer ganhar o pobre pão de cada dia, é o que se vê, e pode gabar-se da sorte, que há mil anos, se calhar, ainda não se fabricavam ganchetas a fazer de mãozinha, como será daqui a outros mil.”

Quase chorei no final da leitura. Fiquei emocionada, mas não saberei descrever se por ter sido esse o fim, pelo desenrolar da obra ou se pela beleza da história em si.

Leitura recomendada!
Manuella_3 20/07/2015minha estante
Leia, ainda não li Memorial, mas como vc tb adorei Ensaio. Li A Caverna e achei belíssimo. Fiquei curiosa e com saudades de ler o mestre.


Léia Viana 21/07/2015minha estante
Eu pretendo ler outros dele também. Você leu mais algum outro dele além de A Caverna e Ensaio? Estou querendo indicações :)


Manuella_3 21/07/2015minha estante
Sim, li As intermitências da morte. É muito bom tb, o estilo Saramago de criar um caos e em cima fazer a crítica, as observações inteligentes e que nos poem a pensar. Mas, como vc, comecei pelo grandioso Ensaio, então, parece que todos são ótimos, mas sempre atrás do primeiro, rs... Falam muito bem do Evangelho, será meu próximo do portuga. Bj


Manuella_3 21/07/2015minha estante
Ah, Leia, saiu o filme do Homem Duplicado, outro que já tenho e ainda não li. Vc viu o filme do Ensaio sobre a Cegueira? Muito interessante e quase todo fiel ao livro.


Léia Viana 21/07/2015minha estante
E assim vai aumentando a minha listinha de Saramago, rs. Ensaio, ainda, esta no topo dos meus livros que mais gostei.
Beijos.


Léia Viana 22/07/2015minha estante
Eu estou vasculhando a minha memória a respeito do filme "O Homem Duplicado", acho que já vi alguma coisa assim, entrei no Filmow para verificar e fiquei mais confusa, rs. Esse filme foi com Rodrigo Santoro?




Raquel 27/04/2020

Chato
Estava bastante empolgada para ler Saramago, dado que é um vencedor do Nobel de Literatura e esse livro foi uma decepção.

Não tem uma escrita agradável, principalmente pelos diálogos confusos devido à ausência de pontuação. Não possui uma estória que prende o leitor. Os personagens não cativam, apesar de ter alguns momentos bem interessantes, e é por isso que avaliei com duas estrelas ao invés de uma.

Em suma, um livro chato que não vale a leitura.
May @maynemet 27/04/2020minha estante
Olá! Tente as Intermitências da Morte... Vale a Pena


May @maynemet 27/04/2020minha estante
Essa estrutura de escrita do Samarago é chata, mas você acaba se adaptando.
Ensaio Sobre a Cegueira é maravilhoso tbm ?


May @maynemet 27/04/2020minha estante
Me senti assim decepcionada com Clarice Lispector ??.. foi uma tortura pra mim ?


Raquel 27/04/2020minha estante
Obrigada! Falaram muito bem de Ensaio Sobre a Cegueira e decidi dar mais uma chance ao Saramago, mas não agora rs




G. 30/11/2010

Memorial de um sonho...
Memorial do convento, publicado em 1982, é o romance em que o consagrado escritor José Saramago começa a ganhar mais popularidade.

Um ano inteiro via esse livro nas estantes da biblioteca de minha escola e, um dia, pouco após ter lido "o conto da ilha desconhecida" do mesmo autor, tomei coragem e o peguei para ler.

O inicio é um pouco monótono e fala bastante das relações reais na corte de Portugal, época em que governava o rei D. João V. Logo no início, Saramago já traz algumas críticas à igreja.

Porém, é quando entra em cena os personagens Baltasar Sete-Sóis, soldado maneta de guerra, e Blimunda futuramente Sete-Luas, mulher que tinha poderes especiais, é onde a trama começa ficando boa... Baltasar e Blimunda no decorrer da história acabam se revelando um dos casais mais fiéis e lindos da literatura tamanho o seu amor mutuo.

José Saramago nesse romance une fatos históricos, como a construção de um convento gigantesco em Mafra, com ficção entrando até um pouco no ramo do sobrenatural, que é onde aparece o padre Bartolomeu Lourenço com sua máquina voadora ajudado pelo casal Sete-Sóis e Sete-Luas a ser construida.

Se ou como eles conseguiram executar esse voo? Só lendo...

Acima de tudo, Memorial é um livro intenso, com muitas críticas a formas majoritárias de poder, o que gera muitas reflexões...

E no final do livro, bate uma sensação de saudade da história, das personagens, de toda genialidade que Saramago nos dispõe...
Thiago 28/12/2010minha estante
Gostei demais da sua resenha. Terminei de ler estes dias! Perfeito seus comentários, perfeito Saramago!


Guilherme 28/02/2011minha estante
Gera umas reflexões, mas creio que o autor escreveu de tal forma esse Memorial não me despertou lá muitas reflexões...


mariainesmr 11/04/2015minha estante
Concordo contigo. Acabei de ler o livro hoje e já tenho saudades do Baltasar e da Blimunda, do amor entre elas e tá das críticas irónicas de Saramago.




Pedro Nabuco 31/10/2015

"Tudo no mundo está dando respostas o que demora é o tempo das perguntas."
Saramago é, sem dúvidas, um mestre das palavras, elas são suas servas leais e incondicionais. Nesse livro, o lusitano nos brinda com a história da construção de um convento em Mafra, que também é a história de um padre cientista que questiona os dogmas de sua doutrina, que também é a história de um amor que surgiu numa simples pergunta, que também é um retrato ficcional (ou nem tanto) da sociedade portuguesa monárquica e que também é, em muitos aspectos, um painel da condição humana.

Em que pese os elogios feitos acima, há certas ressalvas a fazer à leitura desta obra, Saramago embora tenha um estilo de escrita irresistível, em "Memorial do Convento" esse estilo parece não estar tão desenvolvido ou tão límpido como em "As Intermitências da Morte" por exemplo. O que não chega a ser um demérito, apenas um obstáculo a mais na leitura, que não faz ela perder sua graça, apesar de atrapalhar um pouco na fluidez do texto. Contudo, o real objetivo desta ressalva é alertar possíveis leitores virgens dos encantos do português, a buscarem algum outro romance para a primeira vez com este mestre, já que esse, embora espetacular, não é de tão fácil digestão.

Feita a ressalva, volto aos elogios. Me espanta a facilidade que Saramago tem para encaixar observações contundentes e borrifar filosofia no meio da simples descrição de uma cena banal, sem falar na sutileza de sua ironia. Suas críticas a hipocrisia da igreja são sensacionais, posto que não é um ataque a fé cristã e sim aos homens que alardeiam esta fé e esta ideologia e agem de encontro a ela.
Quanto ao enredo da história, ele é, deveras, interessante e convidativo, embora eu não vá tecer mais comentários acerca dele, basta dizer que Saramago consegue partir para a ficção mais extravagante, embora tal não ocorra tanto neste livro, sem perder uma gota de verossimilhança.

Por fim, fica recomendada a leitura deste livro especialmente àqueles que já conhecem o luso de outras datas, para os que pretendem iniciar a jornada no mundo linguístico de Saramago, recomendo "As Intermitências da Morte", livro curto, mas não menos genial.
Júlio 31/10/2015minha estante
Pedro, lembro quando intentei a primeira leitura desse Memorial e, como ocê disse bem, encontrei muitos obstáculos, tantos que abandonei a leitura pela metade. Mas na segunda vez, anos depois dessa primeira tentativa, este se tornou um dos meus favoritos pra toda vida. Parabéns pela resenha!
Abs!


Pedro Nabuco 31/10/2015minha estante
Júlio, eu demorei mais ou menos um mês para ler este livro, intercalando com outras leituras, por conta do embaralhamento de sentenças que o Saramago cria, contudo, depois que você "pega o jeito" a leitura corre solta. E concordo com você, depois que passa o estranhamento inicial, o que fica é uma obra marcante, entrou na minha lista de grandes livros também.
Abraço!




Nando 08/05/2013

Um livro pra ser digerido
Nunca escondi minha dificuldade em ler Saramago, embora eu tenha, sempre ao admiti-la, admitido também a grande admiração que cultivo pelo autor. Saramago não é uma leitura fácil, pois sua forma de escrever não segue os padrões que a gente aprende na aula de produção de texto: "meu filho, antes de um parágrafo, salte para a próxima linha; antes de uma fala coloque dois pontos, um em cima e outro em baixo, vá para a próxima linha e, afastado da margem, trace um travessão." O seu jeito de escrever, como já disse em outros textos, me fez implicar e ficar sem lê-lo durante um bom tempo, até que o seu blog na internet me fez enxergar toda a sua genialidade, mas isso aí é outra história, procurem um artigo-antigo em que eu falo sobre "a redenção de Saramago" na minha vida de leitor, é chato, mas é meu.
Quanto ao livro, é o quarto que leio dele e mesmo com toda a implicância que reservo ao seu estilo desparagrafado e virgulado que me leva a ter que repetir duas vezes uma mesma página, hora ou outra, para compreender o que se diz num momento de distração (desculpem, não sou perfeito), ainda assim permanece viva a admiração que tenho pelo autor e pela obra. O mesmo Saramago que se mostra genial ao apresentar males fantasiosos e modernos que amedrontam a humanidade contemporânea (A cegueira epidêmica, a sensação de haver uma pessoa igualzinha a si na mesma cidade, a ausência temporária da morte) e as consequências desses males para as ações humanas, mostra igual genialidade ao relatar um fato histórico e neste relato enfiar alguns outros fatos de sua própria cabeça e opinião, diálogos imaginados, mas que enriquecem a história e demonstram sua ironia para com os temas que vêm tratados na narrativa. Inquisição, o poderio do rei, os acordos entre reinos europeus, a pobreza do povo em contradição à riqueza dos nobres, as velhas críticas à fé cristã, tudo isso vem tratado com um humor típico do autor português, aquela fina ironia, que ao mesmo tempo zomba e faz refletir. Que é a vida? Que é a morte? Que é a fé?
Na minha opinião, Memorial do Convento é um livro para ser lido com calma, degustado, saboreado, digerido, ou, como dizia o Álvaro de Campos sobre outra coisa, mas com palavras que pego emprestadas agora, "não é prato que se coma frio". E acrescento eu, nem às correrias.
raissa 15/06/2013minha estante
concordo em tudo. é o meu primeiro dele e foi difícil. mas vale a pena.vale muitas penas. nao entendi o comentário do álvaro de campos, porque se o prato se come frio é porque tivemos que ter a paciência de esperá-lo esfriar, assim como devemos ter paci~encia com esse livro.


Daniel 22/10/2013minha estante
Concordo também com tudo o que vc escreveu. A gente sabe que está lendo algo bem escrito, literatura de primeira ordem, mas o estilo cansa, exige disposição e entrega do leitor.




Bruno Oliveira 23/04/2023

CUTUCANDO VESPEIROS COM TOQUES FANTÁSTICOS BEM ÁCIDOS
Memorial do convento, do português José Saramago é um romance feito para os próprios portugueses lerem. Há nele certos pontos, certos causos e fatos que estão lá justamente para ferir e provocar a ira e o ódio mortal desses leitores ao autor do livro – é Saramago sendo Saramago, então, não há nenhum carinho, não há nenhum afago à realeza portuguesa, à sua igreja e tampouco à sua história. Saramago mostra os podres (as verdades) por baixo dos panos, entende? Há uns toques fantásticos aqui e ali baseados em fatos e figuras reais (Blimunda com olhos de raio-x, passarola voadora em plena Idade Média europeia e tal), mas tudo isso são só joguetes para o autor ilustrar melhor os absurdos que são feitos em prol de alguma “entidade superior”. As pessoas comuns, as que trabalham arduamente, e sofrem horrores, seja pelo rei, seja pela igreja, essas sim, são as verdadeiras heroínas dignas da história de um país; e aqui elas têm vez, e, como na vida real, um trágico (infeliz) fim.
Derso 28/04/2023minha estante
Tenho ele na estante, confesso que fiquei curioso com o livro.


Bruno Oliveira 28/04/2023minha estante
Prepare-se: o texto do Saramago aqui é daquele jeito que o conhecemos bem, mas, aqui, ele ainda estava o lapidando, moldando -- é possível considerá-lo entroncado, "difícil" ainda. Mas vale a pena o ler sim!




Alan360 18/07/2020

Um final de arrepiar
Em alguns momentos tem a leitura truncada pelo vocabulário diferente do que estamos acostumados aqui no Brasil. Mas tirando isso, é um livro sensacional. Gostei bastante da ironia do narrador. Tem cenas inesquecíveis, como quando Blimunda conhece Baltazar. E um final de arrepiar!
Debora.Andrade 27/02/2021minha estante
Começando hoje ?


Alan360 04/03/2021minha estante
Que bom! Depois me conta




Vênus_Alice 29/06/2023

Memorial do convento
Que livro! Essa história tem uma narrativa um tanto quanto diferente dos outros livros do Saramago, eu adorei.
Uma alegoria da história de Portugal, pontuando sua influência sobre o Brasil, assim como a África e a Índia.
Mescla a história da corte, com trabalhadores comuns.

Aqui há tanta crítica social, algumas descaradas e outras numa nuance de sutileza e muito bem feitas, achei incrível o humor e a troca de clima, o livro me fez rir, ficar com raiva, agoniada, triste....
Vale muito a pena a experiência.
Josiane.Lopes 29/06/2023minha estante
Quero muito ler!!!


Vênus_Alice 29/06/2023minha estante
gostei demais, acho que vale a pena!




Thiago Ernesto 19/02/2013

História ou estória?
Se em 1982, quando foi publicada a primeira edição de Memorial do Convento, o nome de José Saramago era, em grande parte, desconhecido, tanto pela crítica quanto pelos leitores médios, o mesmo não se pode dizer atualmente do primeiro e, ainda, único, escritor de língua portuguesa vencedor do Nobel. O autor, que não chamou a atenção, nem encantou em sua primeira fase, quando surgiu, ainda jovem, na literatura, posteriormente, quando retornou, já maduro, atraiu olhares curiosos para seu estilo inconfundível e original.
Originalidade esta que, para muito além de sua escrita com pontuação econômica, reflete seu, não raro, olhar para a história. Saramago, em vários romances seus, revisita o passado histórico de forma analítica e busca, através da ficção, construir possibilidades para este. É o caso de Memorial do Convento, uma de suas mais conhecidas e bem avaliadas obras.
O romance tem como plano de fundo a construção do convento de Mafra, por D. João V, no século XVIII, se configurando, portanto, como um romance histórico. Entretanto, é necessário ter cuidado com essa classificação pois, para Saramago, escrever um romance histórico não significa, necessariamente, ser fiel à história. Pelo contrário: o escritor a reinventa, usando elementos próprios ou outros, frutos de pesquisas ou de conhecimentos próprios.
Em Memorial, Saramago conta a seus leitores a história de um rei que, fatigado à espera de um filho, faz uma promessa, orientado pelos monges franciscanos, de construir um grande convento caso recebesse um herdeiro. Atendido, o rei dá ordens para que se inicie a construção do grande convento. Obra-prima da arquitetura, este que é um dos mais belos prédios em solo português, não deixa de sofrer duras críticas do escritor, ex-membro do Partido Comunista Português, fortemente influenciado pela ótica marxista.
É nítido que a construção da obra é só um pretexto para que Saramago investigue as personalidades que realmente o interessam: os construtores. Estes, que, segundo boatos sobreviventes ao tempo, passaram de cem mil, foram, segundo a concepção saramaguiana, instrumentos de um rei vaidoso e de uma igreja condizente, usados para erguer um monumento opulento que consumiu, muito mal, as riquezas que vieram da colônia.
É nesse contexto que surgem as interessantes personagens da narrativa: o construtor, maneta, Baltasar Sete-Sóis e sua companheira, a vidente Blimunda. O primeiro vai a Mafra para trabalhar da construção da majestosa obra de João V, trazendo consigo a amiga que possui o dom de ver o interior das pessoas. Dom este que será explorado por um padre jesuíta obcecado por sua máquina voadora, chamada “passarola.” Esta realmente existiu e diz-se que foi o primeiro objeto a voar, tendo o feito em solo português. Saramago, brilhantemente, se apropria dessa história, verídica, contemporânea à construção do convento, para realizar um paralelismo belíssimo entre as duas.
Entretanto, mais que um historiador improvisado, Saramago é, e por isso também um mestre da literatura, um grande contador de estórias. A história, em suas mãos, toma forma de ficção, incorporando elementos fantásticos que seduzem o leitor ávido de uma boa narrativa. No romance em questão, a história da construção do convento, divide espaço com outras histórias, igualmente interessantes e banhadas em fatos históricos.
Assim, sua passarola é distinta daquela presente na história. É alimentada pelo éter que, segundo o padre Bartolomeu, seu construtor, seria mais leve que o ar, fazendo a máquina voar. O éter estaria escondido no interior das pessoas, sendo nada mais que suas vontades. Para capturar essa substância invisível, o padre tem ajuda de Blimunda, uma das mais interessantes personagens que permeiam a obra do escritor português. Capaz de ver o interior das pessoas, a moça captura o éter dentro de um pote e o entrega para o padre. Com isso, o jesuíta consegue por sua passarola para funcionar e realiza uma façanha para a época: voar.
É nesse sentido que os romances históricos de Saramago são maravilhosos: incorporam a um fato histórico, elementos mágicos, dando nova significação a eventos, muitas vezes, sem brilho. No caso da passarola, o autor dá um novo significado ao ato de voar, atribuindo este à vontade humana que é capaz de superar os limites impostos ao homem. Valoriza o impulso humano ao ponto de caracterizá-lo como aquilo que mantem o próprio Deus vivo, como se vê no trecho: “(...) o éter, deem agora muita atenção ao que vou dizer-lhes, antes de subir aos ares para ser o onde as estrelas se suspendem e o ar que Deus respira, vive dentro dos homens e das mulheres (...)”.
Se de um lado temos o grande sonho do padre Bartolomeu sendo realizado, de outro o que está em jogo não é a perseguição de um sonho humano, mas a concretização de sua soberba. Temos Blimunda trabalhando com o padre na passarola e Baltasar, na construção do convento. Aqui se dá um topos da obra de Saramago: a presença feminina capaz de redimir o universo humano.
Essa tópica foi explorada em grande parte dos romances do autor, com destaque para Ensaio Sobre a Cegueira, onde todo um país se queda cego com a exceção de uma mulher. Cabe então a ela guiar os outros cegos pelo mundo devastado. Tão forte quando esta é Blimunda que, ao participar da construção da passarola, em contraposição a Baltazar, construtor do convento, explicita a predileção de Saramago por heroínas que, mesmo anônimas, se mostram mais sensatas que os homens que detêm poder sobre o mundo.
Por último, outro aspecto importante de Memorial, já comentado acima, é sua constante crítica política e religiosa. Política pela maneira que o governo português gastou o dinheiro do ouro brasileiro, na construção de um prédio que não traria benefícios diretos à população. Religioso, fazendo jus ao ateísmo convicto de Saramago, criticando a cumplicidade da igreja com tudo que ocorria e a monstruosidade do Santo Ofício que caçava os infiéis.
Assim, com Memorial do Convento, José Saramago consegue realizar um grande feito: uma narrativa envolvente, crítica e bela. Seu estilo rebuscado, como o próprio convento de Mafra, tomava forma com esse romance. Em 1982, quando publicada, pouco se sabia sobre as proporções que a obra tomaria. Hoje, depois de tantos livros que poderiam ser tratados como magnum opus do autor, o romance ainda guarda um lugar único na obra de Saramago. É aquele capaz de trazer a realidade, crua, para o maravilhoso e fantástico mundo da ficção, transformando a história em estória, digna de ser contada por um grande narrador.
larissa dowdney 31/01/2020minha estante
Belíssima resenha!




Rosi Ramos 12/03/2012

Na obra, Saramago retrata a excêntrica e megalomaníaca personalidade do rei D. João V que busca se equiparar a Luís XIV, rei da França conhecido como rei Sol, por suas extravagâncias e seu absolutismo no poder exercido junto ao povo. Narra também a vida de vários operários anônimos que contribuíram na quixotesca construção do Convento de Mafra, monumento a vontade da igreja e do rei de expressar todo o poder sobre o povo. Entre esses operários estavam Baltasar, e Blimunda que o romance foca, entre outras coisas, o grande amor entre os dois, sendo Blimunda, mulher dotada do estranho poder de ver o interior das pessoas. Os dois conhecem Bartolomeu de Gusmão, padre-cientista que entra na história como ícone de pioneirismo na aviação, este expressando a antítese do clero perante a aceitação da ciência (o padre acredita no poder da ciência e na construção de um futuro melhor por esta).
O trio inicia a construção de um aparelho voador, a Passarola, que sobe em direção ao Sol, sendo que este atrai as vontades, que estão presas dentro da Passarola. Blimunda, ao ver o interior das pessoas, recolhe as suas vontades, descrita pelo autor como nuvens abertas ou nuvens fechadas.
A história se desenrola mostrando os contrastes sociais e culturais nos estames da sociedade portuguesa, fala do período de inquisição ferrenha que o povo viveu e as conseqüências desta no povo português, sendo a aeronave o símbolo que leva Baltasar a ser considerado um bruxo e condenado a fogueira como tal.
Enfim, Saramago, constrói de forma magistral essa obra magnífica da literatura portuguesa que nesta perspectiva não pode deixar de fazer parte de qualquer biblioteca daqueles que amam a literatura mundial.
Mesmo que quisesse nunca conseguiria expressar todo o prazer e conhecimento que esta leitura me proporcionou, por isso deixo um gostinho do que o livro traz:
"Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento de Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez."
Gabriel H. Grotto 22/01/2017minha estante
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Pepê 23/02/2020

Confuso
Considero a narrativa um pouco confusa, comparada com outros livros do próprio autor. O melhor horário para ler este livro e entrar no clima que ele se propõe é no final da tarde.
Julia 18/03/2021minha estante
O livro é um pouco confuso mesmo, embora "confuso" não seria a palavra principal que eu usaria para descrevê-lo. Agora o que você disse de o melhor horário para ler o livro ser no fim da tarde foi pura poesia!




spoiler visualizar
Walter 10/10/2020minha estante
Perfeito!




spoiler visualizar
Debora.Vilar 24/02/2023minha estante
Leia-se: A separação é como ácido que corrói o amor e mata os sentimentos frágeis é a união que cola todas as partes.
A união une o casal de tal maneira, que mesmo quando os corpos estão separados é possível achar onde está a alma do outro.




Paulo Mandarino 24/05/2010

Poesia pura
saramago foi tremendamente feliz ao escrever esse livro. poesia pura do início ao fim.
Alexandre Kovacs / Mundo de K 24/09/2012minha estante
Grande livro, gostei muito.




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