gleicepcouto 23/03/2012Sherlock Holmes adolescente mostra que inteligência e juventude podem andar de mãos dadas na literaturaSherlock Holmes está de volta. Mas não o super detetive de 33 anos, já com sua perspicaz mente lógica, ótimo lutador de boxe e esgrimista. Apesar de seguir para esse destino, aqui, ele ainda tem 14 anos.
O escritor Andrew Lane, um inveterado fã do personagem de Arthur Doyle, propõe com a série O Jovem Sherlock Holmes, lançado pela Editora Intrínseca, mostrar como o astuto adolescente Sherlock se transformou no mestre da dedução e raciocínio lógico.
Em Nuvem da Morte, volume de estréia da série, Holmes, pela primeira vez na vida, se vê envolvido em uma morte misteriosa. Tudo começa quando ele vai passar suas férias com os estranhos tios, e até então desconhecidos, Sherrinford e Anna, em uma cidade chamada Farnham. Ele não queria, mas não teve escolha quando seu pai teve que viajar às pressas para a Índia e seu irmão, Mycroft, não poderia ficar com ele devido aos seus compromissos no trabalho.
O que estava fadado a ser a pior e mais monótona férias de sua vida muda completamente quando uma pessoa é encontrada morta em um bosque, no limite da propriedade de seus tios. O motivo da causa mortis é uma incógnita, o cadáver está repleto de pústulas. Uma fumaça negra que se move sob o corpo, que desaparece sem deixar rastros, só faz aumentar o enigma.
A partir de então, o adolescente Sherlock Holmes, junto com seus novos amigos Matthew (um esperto garoto órfão e sem teto) e Sr. Crowe (um tutor americano contratado pelo irmão de Sherlock para lhe ajudar nos estudos), fazem de tudo para descobrir o que está por detrás desta morte.
Não precisa ser conhecedor do “velho” Sherlock Holmes para ler a série, mas é interessantíssimo quando você o conhece. Clara e sutilmente, percebe-se características do “jovem” detetive que terão repercussão no ‘adulto’.
O autor foi muito feliz nesses paralelos entre o “novo” e o “velho”, sempre respeitando certos limites. Até porque Doyle pouco revelou sobre a juventude de seu personagem. Basicamente, Lane pegou essas escassas informações acerca de Sherlock e as projetou em sentido contrário (para o passado) de modo que pudesse levar ao personagem criado por Doyle.
Um bom exemplo é Mycroft. A ligação de Holmes com o irmão é tão genuína e coerente, que você passa a acreditar que eles devem ter tido, apesar de distantes, uma relação de admiração mútua.
É importante também identificar a insegurança desse garoto de 14 anos e como seu aprendizado foi desenvolvido. Afinal, Sherlock Holmes não virou o melhor detetive da Inglaterra de uma hora pra outra.
A narrativa, que se adapta de acordo com a situação – detalhista e sensorial quando tem que ser descritiva, e empolgante nas ações -, é forte e concisa. Lane realmente te transporta para a Inglaterra do século XIX, e faz você suar de tensão junto com Holmes a cada ação – cenas muito bem escritas e complexas, com várias idas e vindas.
Com uma storyline coesa e personagens bem desenvolvidos, Andrew Lane comete poucos erros. Talvez, peca um pouco na extensão de suas cenas de ação – na metade delas, tinha que parar para pegar fôlego, principalmente no final do livro. O outro deslize é logo na dedicatória, mas não posso explicar sem correr o risco de soltar um spoiler (quando ler o livro saberá a que me refiro). No geral, entretanto, o autor faz uma obra revigorante e inteligente, trazendo esperança para a literatura estrangeira infanto-juvenil – hoje, recheada de livros acéfalos.
Andrew Lane é inglês e autor de outros romances, e livros dedicados a filmes e personagens importantes. Além deste, a série, por enquanto, tem mais três volumes: Parasita Vermelho (ainda sem data de lançamento no Brasil, mas já em processo de tradução), Black Ice e Fire Storm (lançados no ano passado nos EUA).
http://murmuriospessoais.com/?p=951