Lara 05/09/2011
O propósito do Andrew Lane é mostrar o Sherlock Holmes como um menino normal que, depois de passar por traumas na infância e adolescência, se tornou o adulto problemático que nós conhecemos nos livros do Conan Doyle.
Primeiramente, eu não concordo com a visão do Lane. Pra mim, Sherlock nunca foi uma pessoa normal: não creio que ele tenha sido um menino melancólico e desesperado por ter amigos. Na minha mente ele sempre foi esquisito, muito mais inteligente do que os outros e completamente ciente disso. Não duvido que a habilidade em luta que ele tem quando adulto seja por ele ter aprendido a se defender depois de apanhar na escola por ser o moleque chato, intrometido e estraga prazeres que sabe demais sobre tudo e todos que adora mostrar a própria inteligência.
Se é pra explicar a personalidade esquisita de Sherlock, seria bom encontrar uma explicação para a do irmão dele, Mycroft Holmes. Mycroft não é tão problemático quanto o irmão caçula mas, em compensação, é um dos fundadores do Diogenes Club, lugar onde conversar é proibido. O que quero dizer é: os Holmes são esquisitos - pra mim só isso já é uma ótima desculpa.
Duas coisas que me irritaram principalmente enquanto eu lia: a primeira é que o Lane fez parecer que a explicação de certas ações do Sherlock adulto foram copiadas de coisas que ele viu outros fazerem quando era criança, e assim fica como se o nosso caro detetive não fosse a criatura bizarra e única que nós conhecemos, mas sim alguém que "pegou emprestada" a personalidade alheia pra se tornar tal personagem. A segunda é ele parando de pensar no crime e em coisas importantes para pensar em uma garota e nos cabelos dela caindo pelos ombros e ah, vá. Cadê o Sherlock obcecado por resolver quebra-cabeças? Pra não falar da falta de interesse em mulheres que ele tem no Cânone, mas isso dá uma ótima discussão, então deixa pra lá. Aposto que a explicação vai ser que ele perdeu o grande amor da vida dele quando era jovem e por isso resolveu viver no celibato etc.
A história e o caso são legais, mas o livro não parece em nada com Sherlock Holmes. As deduções não são muitas e nem muito empolgantes, o que imagino que vá melhorando nos próximos volumes da série, quando o Sherlock for ficando a cada vez mais experiente, mais esquisito e mais parecido com ele mesmo.
Concluindo, se você nunca tiver lido a obra original ou se tiver mas não for um fã cheio de frescuras (que eu, como já devem ter percebido, sou), provavelmente vai gostar de A Nuvem da Morte.