pimet800 04/01/2022
14 contos sobre Tormenta
Os catorze contos que compõem o volume 1 de Crônicas da Tormenta apresentam histórias relacionadas a personagens, lendas e localidades dentro do mundo de Arton, cenário fictício de fantasia medieval. Os contos foram escritos por doze autores diferentes, o que traz pluralidade de ideias e concepções sobre como cada uma imagina este universo. Além dos autores que criaram o cenário na década de 1990, como Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e JM Trevisan, que foi quem organizou a coletânea, outros escritores também contribuíram na criação desta antologia de contos, como Leonel Caldela, autor dos romances que ficaram conhecidos como Trilogia Tormenta, lançados nos anos 2000, em que, neles, descobrimos a origem da terrível tempestade rubra de sangue ácido, bem como aprendemos um pouco mais sobre o modo de combatê-la.
A seguir, listo brevemente cada um dos contos, sem entrar na área dos spoilers, e deixo minha impressão sobre cada um deles.
História de Herói: escrito por Leonel Caldela, este conto, ao lado de “O Cerco”, é o mais importante da antologia, uma vez que descreve o momento exato em que ocorre uma grande mudança no cenário onde se passam as histórias. Aqui, um paladino de Khalmyr, o deus da justiça, é convocado a retornar à sua terra natal, e assim que chega no vilarejo nota algumas coisas fora do lugar. O conto possui dois núcleos distintos, que num primeiro momento não aparentam ter conexão um com o outro, mas, à medida que se vai lendo, as duas histórias parecem ter algo bastante em comum. A forma como o conto foi escrito lembra a estrutura do romance “O Inimigo do Mundo”, do mesmo autor.
Teopatia: um aprendiz de açougueiro que vivia na capital do Reinado, Valkaria, passa a ter perturbadas visões em diversos momentos de sua vida. Com o passar do tempo, as visões passam a ter forte influência em seu modo de agir e acabam tendo impacto na vida das outras pessoas que o cercam. Apesar de o conto apresentar uma faceta relativamente pouco discutida no cenário de Tormenta como um todo, sua relevância para a história dos grandes personagens é ínfima. Penso que este conto poderia estar mais para a metade final do livro, pois não empolga o leitor que está no começo da leitura da antologia.
O Último Golpe de Javelin: um ladino experiente busca um plano que permitirá com que se aposente e tenha uma vida confortável longe das aventuras. Contudo, sua reputação o precede, e isso faz com que algumas coisas não saiam exatamente como ele planejara. As poucas páginas que contemplam esta história são fáceis e muito divertidas de se ler. Enquanto que nos contos anteriores a sensação ao se ler era mais sombria, aqui o leitor sente que está assistindo a um filme de aventura da Sessão da Tarde, o que não é algo ruim, pelo contrário.
Ária noturna: um pirata descobre que nas longínquas águas do oceano existe uma ilha contendo uma montanha de ouro e resolve preparar sua tripulação para chegar até lá. Este conto, em certa medida, lembrou-me a história do português Aleixo Garcia, que no século XVI, após ter passado anos vivendo entre os índios brasileiros, formou um exército de nativos e marchou em direção ao Império Inca em busca de ouro. Ária noturna, em que pese a pouca relevância para o arco principal de Tormenta, é um dos melhores contos da coletânea.
Canção para Duas Vozes: um bardo famoso e respeitado viaja em busca de inspiração para compor a sua masterpiece. Os desafios que servirão de base para sua obra, no entanto, podem se tornar assustadores. Felizmente, o bardo não está sozinho nesta viagem. Um conto emocionante, com reviravoltas e final emblemático. Além disso, possui relevância para a história de Tormenta no que se refere ao avanço da tempestade sobre os reinos.
Revés: uma garotinha que sonha acordada brinca com seu gato no momento em que se depara com uma construção abandonada na floresta. A meu ver, o mais fraco dos contos da coletânea. A uma, porque não traz absolutamente nada de novo para o cenário; a duas, porque a história é bastante genérica, podendo ser transportada para qualquer cenário de fantasia com pouquíssimos ajustes; a três, porque penso que hoje em dia este conto não entraria na coletânea, em razão de haver uma situação de violência desnecessária para a história que se estava contando e que era bem menos discutida há 11 anos, quando a coletânea foi formada. Hoje, não se encorajaria a criação deste tipo de história, pelo menos não da forma leviana como foi tratada.
O Perfil do Escorpião: Abdullah, um experiente guerreiro do deus-sol Azgher é contratado para guiar e proteger uma caravana que precisa atravessar o Deserto da Perdição. No caminho, diversos perigos vêm ao seu encontro. Conto escrito por um dos autores originais de Tormenta, Rogério Saladino. Uma excelente e fluida leitura, que narra uma história localizada numa região pouco explorada do cenário de Arton.
Lua de Trevas: um homem comum, entregue às bebidas, passa um tempo na taverna onde morreu seu irmão, no momento em que um caçador, trajando capa e armadura, com a orelha sangrando, entra no local e passa a contar o que se sucedeu até que ele chegasse ali. Um dos melhores contos da coletânea, que faz com que o leitor prenda a respiração em alguns momentos e fique angustiado para saber o desenrolar da história.
Hedryl: um paladino do deus da justiça, em sua missão sagrada, extrai de pessoas comuns força que elas não sabiam que possuíam. Ótimo conto, extremamente relevante, bem escrito e empolgante. Diz-se: “Como era ruim debater com paladinos”.
O Rouxinol e os Espinhos: no reino das intrigas, uma elfa aprisionada possui um dom raro, e muitos desejam se aproveitar disso para obter vantagens diversas. Embora a história seja interessante, o texto é demasiada e desnecessariamente empolado. Talvez na mão de outro autor mais experiente, o texto fluísse melhor e agradasse mais, mas não foi o que ocorreu. Não chega a ser um conto ruim, como “Revés”, mas certamente não o coloco entre os melhores.
Arautos da Guerra: um infame grupo da ordem do deus da guerra recebe uma missão difícil e demorada. Será o objetivo final a maior dificuldade da empreitada ou o convívio entre as próprias personalidades do grupo que poderá colocar tudo em risco? Uma dura jornada ao melhor estilo de aventuras de RPG, em que os personagens serão testados de diversas maneiras. No fim, somente os mais resilientes e convictos sobreviverão. Ótimo conto de Antonio Augusto Shaftiel. Gostaria de conhecer mais sobre os personagens em outras histórias.
Vingador de Aço: a história de Taskan Skylander, um dos personagens clássicos de Tormenta. Um guerreiro de Khalmyr que após cometer um incorrigível erro se exila para buscar expiação e quem sabe a tão almejada redenção. Para isso contará com a ajuda de seu irmão grifo e de seu misterioso mestre. Escrito por Marcelo Cassaro, um dos autores originais de Tormenta, este conto serve para ilustrar como os autores do cenário concebem o mundo que criaram. Um dos melhores contos já produzidos sobre Tormenta.
Ressurreição: Leonel Caldela mais uma vez entrega um conto cheio de personagens emblemáticos, sendo os principais: Ellen Redblade e seu amigo inseparável Sillith, um jovem dragão negro. Além de representar personagens importantes do cenário, algumas localidades também se fazem presentes neste conto repleto de reviravoltas. Leitura mais que recomendada.
O cerco: fechando a coletânea, JM Trevisan traz outro conto clássico deste universo. Nele, uma invasão da Aliança Negra, um exército formado por diferentes raças goblinoides, mexe com a vida dos moradores de Arton. Ao lado do conto “História de Herói”, é a história mais relevante da coletânea, visto que trata de um assunto divisor de águas do cenário. Excelente conto!
Finalizando minha impressões sobre a leitura, em minha opinião os cinco melhores contos da coletânea, não necessariamente nessa ordem, são:
O Cerco
Vingador de Aço
Lua de Trevas
História de Herói
Ária noturna