Cláudia 07/05/2024
Tão poucas páginas, e eu precisei parar e respirar fundo tantas vezes.
Clarice cria até um falso autor para seu livro, o narrador Rodrigo S.M., mas nem assim consegue se esconder. O desejo de desaparecimento, que a morte real logo depois consolidaria, se frustra. (Amazon)
Macabéa vive de forma miserável, alienada à própria existência, passando seus dias ouvindo a Rádio Relógio e sem grandes aspirações. Seu breve romance com Olímpico de Jesus, que esmaga o coração da gente a cada diálogo, acaba logo, quando é trocada por sua amiga, levando-a a buscar consolo em uma cartomante que lhe promete um futuro brilhante, contrastando com sua realidade sombria.
"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos." (narrador Rodrigo S.M, a própria Clarice Lispector)
"E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
? Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?"
"Sabe o que eu mais queria na vida? Pois era ser artista de cinema. Só vou ao cinema no dia em que o chefe me paga. Eu escolho cinema poeira, sai mais barato. Adoro as artistas. Sabe que Marylin era toda cor-de-rosa?
E você tem cor de suja. Nem tem rosto nem corpo para ser artista de cinema
Você acha mesmo?
Tá na cara"
Gostei muito