nicorobin 17/03/2023
? Primeira parte
"A cada década, declaramos, cheios de astúcia, que já enterramos as divisões de classe; e a cada década o caixão continua vazio."
George Orwell fez um incrível trabalho jornalístico ao se infiltrar nas margens da sociedade e relatar detalhadamente a vida dura daquelas pessoas. Suas descrições são tão pessoais e vívidas que te fazem sentir como se viajasse no tempo, mas claro, para quem está familiarizado com a situação econômica do Brasil, não é preciso se esforçar muito para sentir o que acontecia naquela Inglaterra. A verdade é que a maioria dos problemas vivenciados pelos ingleses daquela época até agora são, infelizmente, comuns em todo o mundo e não há sinal de que isso vá acabar tão cedo. Além de falar sobre a insalubridade, os trabalhos análogos à escravidão e o desemprego, Orwell ainda comenta sobre a situação feminina diante de tudo isso e, por fim, condena o industrialismo pela degeneração humana e apresenta duras críticas a xenofobia, ao classismo e ao nacionalimo.
? Segunda parte
"As pessoas que precisam agir juntas são todas aquelas que se encolhem de medo do patrão e todas as que estremecem ao pensar no aluguel."
O principal propósito de Orwell nestes capítulos é criticar a forma com que os socialistas de sua época falhavam ao tentar unir a população geral contra a onda de fascismo crescente.
Para ele, é um desserviço classificar o fascismo apenas como "sadismo de massas" e ele alerta sobre os perigos de se confortar com essa falsa sensação de segurança. Então afirma que, para derrotar o fascismo, é preciso analisá-lo e reconhecer que, nele, há algo de bom (ou pelo menos há algo que pessoas desesperadas e bem-intencionadas veem como uma esperança para o futuro) e convencer seus apoiadores comuns que, seja lá qual for o bem que o fascismo contenha, o socialismo também pode oferecer (e é claro que aqui ele está falando sobre esse "futuro melhor" que as pessoas tanto ansiavam).
Ele também fala de como foi ensinado a tratar a classe operária quando ainda era criança:
"Era o que nos ensinavam: a classe baixa fede. (...) O ódio racial, o ódio religioso, as diferenças de educação, temperamento, intelecto, até as diferenças nos códigos morais, tudo isso pode ser superado, mas não a repugnância física."
de sua experiência como policial na antiga Birmânia:
"Nunca entrei em uma prisão sem sentir que meu lugar era do outro lado das grades."
e apresenta críticas a respeito do progresso mecânico, culpando-o, mais uma vez, pela degeneração humana:
"Quando tivermos este nosso planeta perfeitamente ajustado, iniciaremos a tarefa de alcançar e colonizar outro planeta.(...) Ao se vincular ao ideal de eficiência mecânica, você se vincula ao ideal da suavidade, da maciez. Mas tudo que é mole e frouxo é repulsivo; e assim, todo o progresso é visto como uma luta frenética rumo a um objetivo que você espera que jamais seja alcançado."
E é importante destacar aqui que toda essa repulsa dele pela tecnologia não é apenas conservadorismo e saudosismo cego, é necessário reconhecer que seus receios tinham fundamento, pois estamos falando de um Inglaterra poluída que praticamente escraviza sua população e está prestes a entrar em uma guerra, mas claro que isso também não significa que ele estava necessariamente certo sobre essa questão.
Orwell ainda aponta a necessidade de se criar novos socialistas e unir a classe média à luta ao invés de afastá-la ainda mais ? pois do contrário estariam apenas produzindo novos fascistas ? e encerra reforçando que os verdadeiros socialistas não devem apenas conceber ver a tirania derrubada como algo desejável, mas que o devem desejar ativamente.