Hildeberto 12/09/2016Século XII, Idade Média.
O rei da Inglaterra ainda é soberano sobre boa parte do território francês. Uma das monarquias mais fortes da cristandade sofre um forte abalo quando o rei Henrique I morre sem deixar herdeiros masculinos.
Instaura-se a guerra civil pelo trono entre sua filha Matilde e seu irmão Estevão.
Esse é o cenário do romance "Os Pilares da Terra", de Ken Follet, que se desenvolve entre os anos de 1123 e 1174. Romance histórico extenso, que requer bastante folêgo, sob esse pano de fundo aborda a construção da catedral de Kingsbridge. É a partir desse ponto que o autor desenvolve toda a trama.
Para isso, lança mão de diversos personagens. Philip e Waleran representam a Igreja Católica, no que há de melhor e de pior. William, Aliena e suas respectivas famílias representam a nobreza do reino, novamente pondo em contraste aspecto elogiosos com outros depreciativos. Tom, o Construtor, representa a plebe (ou, mais precisamente, uma classe média de artífices). Ellen e Jack, são os personagens que fogem do padrão usual, representando uma bruxa e um artista. Além disso. Aliena e Ellen são duas personagens que estabelecem a mulher como sujeitos ativos da história, indo de encontro a ideia estereotipada de que na Idade Média as mulheres eram apenas seres submissos.
Com esse enredo e esses personagens principais, muita coisa acontece durante os 51 anos da narrativa. Com sua leitura, é possível imaginar um cenário medieval de forma realística e conhecer os diversos aspectos do período de forma lúdica. A edição da Editora Rocco é impecável, com capa dura, papel muito agradável para a leitura, boa diagramação, etc. Tudo isso torna o livro bastante interessante. A forma de escrita de Ken Follet também é bastante agradável.
Mas, embora considere que os aspectos positivos são superiores aos negativos, não poderia deixar de expor alguns pontos que não me agradaram. O primeiro diz respeito ao estilo da narrativa. Todo o livro é escrito com uma narrativa em terceira pessoal. Não tenho nenhum problema específico com isso, mas acho que tal escolha prejudicou o desenvolvimento do livro, o que nos leva ao segundo ponto de crítica, que diz respeito as personagens.
Embora tenha desenvolvido diversas personagens interessantes e tentado estabelecer uma personalidade peculiar para cada uma, o autor fracassa quando se trata de profundidade. Talvez tenha sido o aspecto que mais me decepcionou no livro, pois considerando a extensão da obra, esperava que cada personagem fosse mais bem desenvolvida. Porém, o autor apenas usa adjetivos para descreve-las (por exemplo: Philipe era inteligente; Ellen, misteriosa; William, violento; etc) e a partir daí cria uma série de fatos para corresponder a essa descrição. O efeito colateral disto é que todos os personagens se tornam monolíticos, sendo ou do bem ou do mal, o que ao meu ver os deixa bastante rasos (talvez, e não muito seguramente, William seja uma exceção). Mas o pior de tudo, o que me remete a crítica da narração em terceira pessoa, é que embora ele alterne a centralidade da narrativa entre os personagens, Follet não esboça uma mínima mudança na forma como escreve os capítulos. Ou seja, tanto para os "mocinhos" como para os "vilões" ele escreve da mesma forma, mudando apenas os acontecimentos (mocinhos fazem coisas boas - sempre - e vilões fazem coisas más - sempre). Isto é uma fraqueza muita grande do livro.
Por fim, minha terceira e última crítica diz respeito sobre a extensão do livro. Nenhum problema que o livro tenha 942 páginas, pelo contrário, é louvável em um mercado editorial que preza por livros menores e mais vendáveis. Porém, em algumas partes, Follet adotou um esquema de "encher linguiça". Alguns capítulos são extremamente enfadonhos e, de certo modo, desnecessários. Poderiam ter sido suprimidos sem prejuízo a estória. Visto que ele não quis se aprofundar muito nos personagens, talvez desse até uma maior dinamicidade no livro. Sem essas partes "desnecessárias", o livro permaneceria com umas 700 páginas. Se não fosse pela parte final, eu lhe teria dado menos estrelas.
E, não como crítica, mas como acréscimo ao que eu disse antes, as cenas de sexo são ridículas.
Embora esta resenha tenha se dedicado mais as críticas do que aos elogios, considero "Os Pilares da Terra" um bom livro. Por sua extensão, talvez não seja para todos os públicos e gostos. Mas a história é interessante, o autor escreve de forma aprazível, pode-se aprender muita coisa sobre a idade média, a Igreja Católica, a formação da monarquia Inglesa, etc... Como fã do gênero, aconselharia o livros para outros amantes de romances históricos e da Idade Média. E para uma pessoa curiosa, por que não? Afinal de contas, com todos os seus defeitos "Os Pilares da Terra" ainda é um livro muito superior a boa parte das publicações de ficção existente. Mas é um livro para quem tem paciência. Aqueles que se identificarem com isso, não se arrependerão se fizerem a leitura, pois ela é bastante prazerosa (tirando algumas partes meio tediosas, é claro).