Paulo 22/03/2022
What a Wonderful World, de Inio Asano, é uma espécie de slice of life antológico, uma coletânea de contos que acompanham o dia a dia de diferentes jovens adultos que vivem na mesma vizinhança na cidade de Tóquio.
Os capítulos, apesar de funcionarem como histórias fechadas e independentes, acabam também tendo uma espécie de vaga conexão, com uma personagem citada em uma história aparecendo em outra, ou através de uma personagem que é figurante num dos contos, e protagonista em outro, e assim por diante. Mas o que une mesmo as histórias é a temática, que gira em torno das difíceis decisões que todos nós somos obrigados a tomar quando do ingresso na vida adulta. As obrigações da vida adulta, e a pressão social de “vencer” na vida se impõem; os sonhos e a realização pessoal acabam jogados para segundo plano. Asano fala do sofrimento proveniente da consciência de que todos temos que crescer, e com isso, mudar. Na maioria das histórias, os personagens tem que tomar decisões importantes, muitas vezes é uma questão de o que fazer com suas vidas agora que estão se tornando adultos, abandonando, se necessário, sonhos juvenis que são claramente inatingíveis. E em cada capítulo, seus personagens encaram essa consciência de maneira diferente. Espanto, amargura, medo... Em várias histórias veremos pessoas se debruçando sobre seguir o sonho ou ser um membro comum da sociedade, sobre serem cobrados e criticados, sobre não pertencimento, fugas, ciclos que se repetem, indiferença e desilusão diante da vida, dentre diversas outras coisas. Mas embora o assunto seja abordado por diversos ângulos, o foco de Asano é invariavelmente o medo do fracasso, a insegurança diante das mudanças naturais da vida, a falta de objetivo e a desesperança ocasional, comuns em pessoas começando a vida adulta. Algumas histórias são protagonizadas por crianças ou adolescentes, mas a temática dificilmente muda: o sofrimento proveniente da consciência de que todos temos que crescer.
Mas tenha em mente que Inio Asano não é um coach, portanto não espere lições de seus contos. Suas narrativas tendem a retratar os personagens como seres humanos da forma mais normal possível. Asano diz que implicitamente ficava introduzindo a mensagem de que “não é possível tornar-se protagonista de mangás” em suas obras. Portanto, suas histórias são protagonizadas por personagens que, paradoxalmente, não são protagonistas. São pessoas ordinárias, com vidas ordinárias. É a representação da pequeneza da vida, em contos tanto curtos quanto poéticos. E por isso, você vai terminar a leitura se sentindo angustiado e melancólico em alguma medida. Mas apesar dessa miríade de temáticas interessantes, não é um mangá pra qualquer um. O formato antológico, somado ao fato de Asano estar ainda em início de carreira, dificulta que você se apegue aos personagens e as histórias. As histórias de What a Wonderful World variam bem em número de páginas, porque elas serviam pra preencher as páginas vazias da revista em que eram publicados, então Asano só descobria quanto espaço teria bem em cima da hora. Por isso, não há muito desenvolvimento de personagens e alguns contos terminam abruptamente. Somos tão brevemente jogados em suas vidas, que às vezes é difícil criar alguma conexão. Some a isso a pegada extremamente mundana de suas histórias (e digo isso da melhor maneira possível), e torna-se compreensível que nem todo mundo seja fisgado pela obra. Então, pense bem antes de comprar se é o seu tipo de leitura.
Dito isso, como qualquer antologia, não vá esperando gostar igualmente de todas as histórias. Alguns contos são excelentes, outros menos impressionantes, mas o saldo final é positivo. Pode não ser a melhor obra de Inio Asano, mas é um mangá altamente indicado para os fãs do autor, para quem gosta de obras com um viés altamente reflexivo e existencialista, e para quem gosta de antologias. Igualmente singelos e tematicamente profundos. Poéticos, belos e igualmente melancólicos, estes contos nos convidam a refletir sobre nossas próprias escolhas de vida e, sobretudo, sobre os próximos passos.