Tarsila 18/12/2011Uma paixão por palavrasMarina Albertini é uma estudante de Moda de 25 anos, que saiu do interior para morar em São Paulo. Não queria trabalhar na padaria da família, almejava, sim, ser uma “estilista famosa”. Vai em busca dos seus sonhos, e trabalha nos Correios para pagar as despesas com o aluguel e o curso. Um dia discute com sua colega o quanto é raro, atualmente, com outras formas de comunicação mais práticas, as pessoas mandarem cartas – cartas escritas com paixão. Logo após esse momento, uma jovem manda uma carta escrita à mão. E aparece uma semana depois, com mais cartas. Marina se espanta, porém não sabe como isso mudará sua vida...
Uma carta, destinada a uma mulher recentemente falecida, cai em suas mãos, talvez por obra do destino. A descoberta de quem é este destinatário e as circunstâncias pelas quais a carta foi enviada muda tudo, e Marina se vê tentada a desvendar seu conteúdo. Assim conhece Heitor, senhor de idade que mora em Portugal, com quem passa a relacionar-se. Ele escreve acreditando que as cartas chegam à sua amada Milena, que ela finge ser. A situação passa do ponto da dissimulação: ela fica deveras tocada... Marina passa a mandar as cartas escrevendo sobre o que lhe acontece, sobre os seus sentimentos mais íntimos e verdadeiros. Aguarda os 25 dias que levam para a resposta chegar ansiosamente, e faz sua uma antiga história de amor.
“Mas perdi tudo, e hoje a única coisa da qual não me arrependo nesta vida é ter-te amado. Porque não ter ficado contigo foi além da minha vontade. Ah, se o tempo pudesse retroceder! Se eu pudesse voltar àqueles anos em que tínhamos a inconsequência como norte! Nunca te deixaria ir embora, nunca te deixaria ficar nos braços de outro, nunca aceitaria que não fosses minha por toda a minha existência.
Neste instante em que te escrevo as minhas breves palavras, posso sentir o teu perfume. A minha memória pode não ser das mais confiáveis, mas há coisas impossíveis de esquecer.
A principal delas? Tu, minha querida Milena...”
Pág. 132
Enquanto acontece toda essa correspondência em segredo, a vida de Marina segue, e ela começa um relacionamento com seu cobiçado professor de Fotografia (depois de muito incentivo de suas amigas), continua com o blog que tem tido êxito, e se empenha para vencer um concurso destinado a estudantes de Moda, que tem como prêmio um estágio em Paris (é claro que as cartas, e as rosas, com seus significados, vão lhe inspirar na sua criação)...
O livro tem muitos personagens cativantes, sejam os da família descendente de italianos de Marina, ou suas colegas e vizinhos; gostei bastante de como eles foram desenvolvidos. A história abrange várias áreas da vida dela, de forma satisfatória. Acompanhamos medos, dúvidas e reflexões a respeito de conceitos sociais, da romântica Marina e de todos ao seu redor.
Ainda Não Te Disse Nada conta uma história deliciosa, que você pode ler rapidamente devido à linguagem fluente e a curiosidade que decerto ela provocará. Os capítulos curtos mesclam diálogos coloquiais que arrancam risadas e cartas carregadas de sentimentos que arrancam suspiros. A história de um amor que nasce no escuro, de longe, de outro amor. Uma paixão por palavras. É possível? E temos mesmo tanto mais que palavras, quando elas vêm da alma? O livro é ainda melhor que O Mundo de Vidro; é mais maduro, afasta-se do humor para se aprofundar no romance, sendo ainda leve e doce.
Se você acabar suspeitando do final, como eu, ou chegar ao final do livro “ainda não sabendo nada”, de todo modo há grandes probabilidades de considerar esse um ótimo livro, e ficar encantado. O livro tem trilha sonora própria, e está repleto de citações de cantores, bandas, músicas, e trechos delas. A qualidade do livro é ótima, a capa muito bem-elaborada, e a diagramação bem-feita. Enfim, considerando todos os aspectos, recomendado!