Ana Luiza 19/08/2018
Os Diários de Sylvia Plath – Sylvia Plath e Karen V. Kukil
SOBRE O LIVRO
Sylvia Plath faleceu jovem e nos deixou poucos de seus trabalhos como legado, além de uma história de vida fascinante. Em 2004 a editora Globo lançou a primeira edição de um compilado de seus diários em um volume único organizado por Karen V. Kukil que logo saiu do mercado.
“É impossível ‘capturar a vida’ se a gente não mantém diários.”
Os diários são relatos, entradas escritas por Sylvia nos anos de 1950 à 1962. Alguns dos cadernos teriam sido lacrados por seu marido Ted Hughes e só poderiam ser liberados em 2013, no entanto, em 1998 percebendo que sua saúde estava debilitada ele liberou os diários pouco antes de sua morte, dando aos fãs da autora uma oportunidade de conhece-la através de suas próprias impressões e personalidade.
Além dos escritos que compõe a obra existiriam ainda mais três cadernos, escritos até pouco antes de ela cometer o suicídio. Contudo, dois destes cadernos foram destruídos pelo marido e aparentemente um deles ainda está perdido.
MINHA OPINIÃO
Começando pelo final, ou talvez o início para o entendimento da descrição da obra, o que Ted Hughes fez foi manter trancados os diários onde a esposa falava sobre o relacionamento dos dois, fazendo com que eles fossem publicados somente após sua morte. O que pode ter sido consequência de existirem neles alguns relatos de certa forma inconvenientes para o marido, já que mais para o final dos escritos vamos acompanhar a “decadência” do relacionamento entre os dois. Em uma das entradas ela relata com detalhes um ocorrido na universidade em que Ted lecionava, em um local escondido onde ela o flagra com uma aluna; além disto ela deixa escapar outros pontos não muito explícitos sobre a infidelidade dele, descritos em momentos de raiva ou tristeza.
É importante saber que os relatos são variados de acordo com o humor de Sylvia, sendo assim, enquanto algumas entradas são extremamente bem humoradas, outras são bastante deprimentes. É claro que todos temos momentos de altos e baixos, mas aqui, devido à personalidade dela, tudo é muito intenso, tanto os momentos bons quanto os ruins. O que quero trazer à tona é que deve-se prestar bastante atenção ao momento em que você se encontra quando decidir ler os diários.
“Para mim, o presente é para sempre, e o eterno está sempre mudando, fluindo, se dissolvendo. Este segundo é vida.”
Talvez a parte mais interessantes de ler algo assim de alguém é o exato fato de que normalmente a pessoa não tem a intenção de outros tenham conhecimento de seus pensamentos, desta forma, elas são na maior parte do tempo sinceros e espontâneos, exceto talvez, quando buscam enganar a si mesmos. Entre uma juventude cheia de farras mas ao mesmo tempo cheia de questionamentos, Sylvia se propõe pensar sobre questões cotidianas que a acometeram de certa forma, em sua maioria, algo o qual ela não considerava justo ou correto, como por exemplo os bons costumes quanto a comportamentos femininos não só físicos mas intelectuais.
Uma vida repleta de pessoas, pessoas com as quais ela se apaixonava por seus mínimos defeitos. Todos eram personagens potenciais, personalidades a serem exploradas. Tanto amor e necessidade de estar entre outros acaba explicitando a insegurança, a necessidade de se provar e até mesmo a falta de fé em si. Algumas pessoas podem dizer que ela deixou indícios de que futuramente cometeria suicídio, mas em minha opinião, mais do que pensamentos tristes são necessários para isto.
Após o casamento, ela oscila a maior parte do tempo entre inveja do marido por ele ser um poeta publicado e ela não (tinha algumas poesias publicadas mas nada tão grandioso) e o amor que sente por ele. O que fica claro também é que sua produtividade não foi a mesma desde então, afinal ela convivia diariamente com o sucesso dele enquanto seus escritos era rejeitados, sempre: “cru demais” , “sincero demais”. Existem alguns esboços de contos e poesias ao longo dos diários além de algumas ilustrações e, o que nos vem em mente enquanto lemos é o porque ela, tão talentosa, nunca fez nada com suas grandes ideias, talvez, porque não tenha tido tempo. A maioria de seus trabalhos foram publicados postumamente e ela só ganhou notoriedade significativa depois de morta.
“Se eu não pensasse, seria muito mais feliz; se não tivesse órgãos sexuais, não vacilaria à beira de um ataque de nervos e lágrimas o tempo todo.”
O início dos diários é marcado pela adolescência da escritora e seus encontros com namoradinhos e empregos de férias de verão. São em minha opinião, a parte mais divertida da história, apesar de explicitarem a necessidade de companhia, principalmente do sexo masculino. Um fato que talvez tenha colaborado para a carência foi o fato de seu pai ter falecido quando ela ainda era muito pequena, e ela o procurava, de certa forma, nos homens com os quais saia. O relacionamento conturbado com a mãe e a forma com que ela retrata o pai para a garota são pontos chaves para alguns questionamentos.
A maior parte do tempo se passa com esboços de criações, ideias para roteiros, nomes para personagens e descrições de lugares e pessoas. As ideias são fragmentadas na maior parte do tempo, sejam os relatos ficcionais ou reais. Em 1963 ela falece e a última entrada de seu diário é de 1959, e somente nos apêndices temos algumas entradas de 61 e 62 sobre seu dia a dia sendo a última, sobre um funeral.
Finalmente, este é um livro que não se esgota com apenas uma leitura e com toda certeza irei relê-lo daqui há algum tempo. É claro que é importante ter-se atenção com o momento já que se trata de uma personalidade delicada que oscila entre sentimentos bons e ruins, momentos de felicidade e extremo mal humor e, é claro, separar o que se leva, mais uma vez lembrando que a ideia de um diário é ser pessoal. Para mim que nunca li nada de Sylvia Plath, posso dizer que foi uma experiência fascinante e que me fez ter vontade de conhecer tudo o que ela escreveu, além do sentimento de proximidade com uma vida tão conturbada, mas ao mesmo tempo tão boa em suas singularidades.
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