João Vitor Gallo 09/10/2015
O Forte é um dos “livros avulsos” do britânico Bernard Cornwell, bem mais conhecido pelas suas séries mais longas como “As crônicas de Arthur”, “A busca do Graal” e “As crônicas saxônicas”, muito amadas e, até não exagerando, idolatradas aqui no Brasil. Mas nesse livro, assim como nos livros da série “As aventuras de Sharpe”, troca-se o arco, os machados e as espadas pelos canhões, rifles e mosquetes, embora vejamos novamente os ingleses como os protagonistas, porém desta vez em batalhas contra os americanos.
A história se passa em 1779, três anos após a independência dos Estados Unidos, e uma pequena força inglesa se estabelece no vilarejo de Majabigwaduce (livros do Cornwell sem nomes complicados não são livros do Cornwell), situado na península de Penobscot, em Massachusetts. Os britânicos, contando com o apoio de alguns poucos leais à Coroa nessa empreitada que visava estabelecer uma província britânica que viria a se chamar Nova Irlanda, constroem um forte no vilarejo e o nomeiam de “Forte George”. Os americanos por sua vez, cientes da presença dos invasores, mandam uma grande expedição para expulsar o resto dos casacas-vermelhas de seu território de uma vez por todas, porém o que parecia ser uma tarefa fácil se mostra mais complicada que deveria ser e acaba vindo a se tornar o pior desastre naval dos Estados Unidos antes de Pearl Harbor.
Em uma resenha de um livro que fala de batalhas espera-se que se comente sobre elas, mas só pelo nome do autor estampado na capa do livro você já sabe que pode ficar tranquilo quanto a esse ponto e esperar lutas viscerais, cruas e realistas, nisso o Bernard Cornwell é mestre, e ele não decepciona em “O Forte”. Destaco as cenas das batalhas navais, muito bem feitas e que te prendem facilmente. As lutas envolvendo os canhões, em terra e nos navios, também são excelentes. Pontos positivos também para a ambientação, não posso deixar de mencionar isso, é fácil imaginar os cenários na descrição detalhada do Cornwell.
Os personagens são bem trabalhados e o autor inglês não puxa sardinha para o lado dos seus compatriotas, tanto os americanos quanto os ingleses não são taxados em momento algum como bonzinhos e malvados, são dois lados que lutam pelos seus interesses. Do lado yankee o general Peleg Wadsworth, o major John Welch, e aquele que o talvez seja o mais conhecido, o tenente-coronel Paul Revere são os destaques, já no lado dos britânicos destacam-se o general escocês Francis McLean e pelo tenente John Moore.
Confesso que eu larguei o livro por algum tempo e fui ler outros mais leves antes de voltar para terminar a história. Esse é um problema que tenho com o Cornwell, acho o estilo da escrita dele meio arrastado no início dos livros, mas depois engrena e o livro transcorre maravilhosamente bem, e vale a pena aguentar essa preparação toda especialmente pelas cenas de luta, não é à toa que comecei achando o livro chato e terminei gostando dele.
Os trechos de documentos verídicos entre os capítulos dão ao leitor a oportunidade de conhecer melhor os envolvidos e as situações vividas, dão também mais credibilidade a aquela história, pois é tão bem descrita, e tão interessante que é fácil imaginar que é só uma obra ficção, e não algo inspirado em fatos reais. Falando nisso, devo também comentar sobre as notas históricas, que são comuns a esse tipo de livros, mas que mesmo assim são sempre fascinantes, especialmente porque você acaba se apegando a história e aos personagens e quer saber o que é verdade e o que é ficção.
É interessante ver como a desorganização e indisciplina, a falta de um comando mais forte e definido, as desavenças, os egos e vaidades dos que estavam em posição de liderança, como esses fatores colocam tudo a perder, mesmo as batalhas tidas como fáceis, esse ponto é muito bem explorado na história. A História geralmente é ingrata com uns e generosa com outros, homens cheios de defeitos são transformados em heroicos e nobres, e muitos dos heróis ficam esquecidos pelo tempo, e esse livro mostra bem esse tipo de coisa, principalmente com o caso do Paul Revere, que deve muito de sua fama a Henry Longfellow, neto de Wadsworth. As palavras do Cornwell que enceram o livro na nota histórica definem bem isso “[…] a história é uma musa caprichosa e a fama é a sua filha injusta.”.
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