Paulo Silas 05/08/2015Uma crítica contra toda a filosofia ocidental praticada até Nietzsche, prosseguindo (e indo além) com as ideias expostas em “Assim Falou Zaratustra” – o livro se pauta não apenas na superação da moral tida como moral até então, mas na transvaloração de todos os valores.
Uma obra polêmica, assim como o seu autor. Em “Além do Bem e do Mal” Nietzsche vocifera contra a filosofia praticada e desenvolvida até seu tempo, vez que tal estaria pautada em diversos preconceitos morais, principalmente cristãos. Daí que a análise do conceito de bem e de mal (ou do bom e do mau) deveria ser feita sob outra perspectiva. No moralismo pregado pelo cristianismo o bom (ou o bem) seria o humilde, o que ama os inimigos, o compassivo, o que segue, enquanto o mau (ou o mal) seria o egoísta, o orgulhoso, o que respeita apenas os altos. Já na visão proposta pelo filósofo tais conceitos deveriam ser reformulados, de modo que deve se ter um novo olhar sobre o bem e sobre o mal. Para tanto, Nietzsche formula aquilo que seria a “moral de senhor” (o bem, o bom – o que se impõe e é seguido) e a “moral de escravo” (o mau, o mal – o que segue o que é imposto), construindo aí em cada conceito os parâmetros que definiriam cada tipo de moral. O egoísmo, por exemplo, dentro ainda de uma perspectiva própria, situa-se na “moral de senhor”, vez que seria uma das condições necessárias para trilhar pela transvaloração de todos os valores.
Um novo posicionamento é clamado pelo autor, sendo necessário o rompimento com paradigmas arraigados na cultura para que seja possível lograr êxito numa nova e correta perspectiva do homem enquanto ser vivente no mundo. O futuro da humanidade dependeria disso: o aceitar da finitude humana, o viver soberano na verdade da dor e do bem estar inerentes à condição existencial, o ultrapassar e romper dos valores.
Sempre polêmico, quando não perturbado, Nietzsche mostra neste livro também o seu lado misógino, chegando a tecer “sete ditinhos de mulher”. Dentre as suas objeções, consta que as mulheres deveriam “manter o bico fechado” e aceitar sua posição na sociedade, enfim, a defesa do autor é que a mulher deveria reconhecer e aceitar uma suposta inferioridade ao homem.
Entre tropeços, com erros e acertos (vai do leitor), Nietzsche evidencia que não existem fenômenos morais, mas sim interpretações morais de fenômenos. Sua luta é pela transvaloração de todos os valores, retornando ao conceito do eterno retorno para demonstrar que o homem aspira à imortalidade, sendo que o rompimento das barreiras morais é condição necessária para o super-homem.
A leitura requer atenção, dada a densidade com a qual o tema é abordado, além de se tratar de um escrito filosófico – fato este que por si só já enseja na necessidade da paciência na leitura da obra, em que pese Nietzsche possuir uma característica particular em seus textos que já o levou a ser chamado de filósofo-poeta.
Concordando ou não com a visão de mundo do filósofo, a leitura não deixa de ser interessante. Recomendo!