caiohlp 18/09/2022
Todo livro é um esconderijo, cada palavra é também máscara.
Como sempre, ler Nietzsche é encontrar um novo eu ao final da obra, não há como percorrer seus livros sem o olhar crítico, que finda por recair sobre o próprio leitor. A filosofia do martelo é incômoda, não deixa pedra sob pedra, nada sustentado apenas pela tradição escapa dos duros golpes, o poeta e, quem sabe, amigo da verdade, condensa livros e temáticas inteiras em poucas linhas. Contudo, por mais raro que seja o quilate do escritor alemão, ele é produto de seu meio, carregado de preconceitos vãos, avaliações tendenciosas e críticas desproporcionais, há muito ultrapassadas, fatos esses, que não arranham em nada seu olhar acurado sobre temáticas universais, que ainda hoje são debatidas. É evidente que debruçar-se sobre essa obra é um trabalho árduo, mas também genuíno, já que o pouso seguro nunca fez parte dos planos de Além do Bem e do Mal, e é assim que o tom destrutivo e provocante nos adverte que o subversivo é mera questão de maioria, que a existência só pode ser menos melancólica com a aceitação da finitude e que o verdadeiro amor e muitas outras coisas estão sempre além de qualquer suspeita moral. Mas, afinal, qual a força motriz de Nietzsche e de seu tomo? É o medo da degeneração completa, o asco pela cultura de inverdades, a repugnância pela fraqueza de espírito e a náusea pelo afastamento permanente de nossas vontades, promovidos diuturnamente pela busca de grilhões repaginados.