A casa das belas adormecidas

A casa das belas adormecidas Yasunari Kawabata




Resenhas - A Casa das Belas Adormecidas


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Felipe 27/08/2020

Essa foi uma das leituras que mais me incomodaram até hoje. Causa muito estranhamento um senhor ir até uma casa onde garotas ficam "adormecidas" durante todo o período em que ele está com elas. Talvez a busca que Eguchi está fazendo, é uma espécie de reconciliação com um passado já esquecido, e no corpo dessas meninas, ele procura não o prazer carnal em si, mas a busca de sensações, toques, cheiros, sem ser julgado, visto que as mesmas não sabem com quem estão se deitando, por conta do sonífero. É um exercício de tentar entender os motivos que o levam até essa casa, e na minha visão, a solidão da velhice é o maior motivo. Mas é um livro polêmico sim, ao estilo "Lolita" eu diria.

"[...] Decerto os velhotes não possuíam seu Buda, diante do qual pudessem ajoelhar-se e orar. Por mais que abraçassem fortemente a bela desnuda, derramassem lágrimas frias, se desmanchassem em choro convulsivo ou berrassem, a garota nada ficaria sabendo e jamais acordaria. Os velhotes não haveriam de se envergonhar, nem ficariam com seu orgulho ferido. Estavam inteiramente livres para se arrepender e se lamentar à vontade. Consideradas dessa forma, seriam as "belas adormecidas" uma espécie de Buda? E, além de tudo, um Buda vivo? A pele e o cheiro jovem das garotas seriam, então, o perdão e o consolo desses pobres velhotes."
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Natália 03/04/2020

O livro narra a história de Eguchi, um senhor de 67 anos, que passa a frequentar uma casa com a finalidade de passar a noite com jovens entorpecidas e inconscientes. Impressiona a beleza com que fatos repugnantes ou, no mínimo, reprováveis são narrados, além da experiência sinestésica provocada pelas descrições constantes e muito bem exploradas dos cheiros, texturas, cores e sons do ambiente. As visitas de Eguchi à casa são mescladas ainda com reflexões sobre a velhice, reminiscências ao passado e uma tensão permanente entre brutalidade e ternura.
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Bia Calixto 03/10/2023

Incomodo, mas necessário
A casa das Belas adormecidas é uma leitura incômoda, mas necessária.

O livro me trouxe muitas camadas de reflexões.
Causou certa repulsa, mas me questionei: em que ele perde para a realidade? Certas atitudes ele leva ao extremismo, mas é capaz de nos fazer enxergar situações que fazem parte, infelizmente, do cotidiano.

O livro traz a história do velho Eguchi, um senhor de 64 anos que descobre, através de um amigo, a "casa das belas adormecidas", onde moças muito jovens encontram-se em sono profundo, sob efeito de alguma substância. Nesse local existem regras que não podem ser ultrapassadas, tais como corromper as meninas, mas os clientes podem tocá-las e admirá-las a vontade.

É chocante e repulsivo pensar em uma história assim, mas recomendo fortemente que abra a mente e vá até o fim da história.

Não tem conteúdo sexual explícito, pois o livro fica a margem do erotismo. O foco principal é que ao longo de suas visitas e de sua experiência com cada garota, o velho Eguchi começa a reviver certos momentos de sua vida, principalmente sobre seus relacionamentos amorosos. O cerne do livro está na reflexão que o personagem principal faz com a sua velhice (negação sobre ela), com a proximidade do término da vida sexual dele e como isso o torna menos "homem".

Kawabata tem uma escrita muito fluída, que torna a leitura impossível de parar, mesmo que tenha incômodos.

Foi uma experiência interessante e estranha, mas produtiva, pois a partir dela, conseguimos estabelecer reflexões e pontos de melhoria para realizarmos em sociedade (todos nós, mulheres e principalmente os homens), seja para levar esses assuntos para os que estão próximos de nós, na aceitação de certas atitudes com quem nos relacionamos, a normalização cultural de certos comportamentos e na criação dos nossos filhos (pois as vezes acabamos reproduzindo algumas atitudes que reprovamos depois. Ex: diferença de criação entre meninos e meninas).

Livros que saem da nossa zona de conforto e que trazem sentimentos controversos, diversas vezes são leituras desafiadoras, mas que proporcionam grandes reflexões e expansões de visão de mundo. Que possamos nos permitir.

site: https://www.instagram.com/p/Cxk5DNhL7ji/
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Maria12015 06/02/2021

Interessante e repulsivo, como lidar?
Esse livro não é uma leitura fácil. Assim como "Memória de minhas putas tristes" de Gabriel García Márquez, "A casa das belas adormecidas" causou estranheza e desconforto em mim. Em várias partes do livro fiquei angustiada com o que estava acontecendo, porém o narrador me manteve ali. É inegável que essa obra traz reflexões interessantíssimas e sensíveis sobre a velhice e sobre a própria vida de Eguchi, personagem principal. Então, ao mesmo tempo em eu estava encantada com o efeito quase catártico da situação sob Eguchi, eu sentia a asquerosidade do contexto que provocava a catarse.
"A casa das belas adormecidas" é o espelho de alguns traços da cultura japonesa, portanto, a posição de subjugação da figura feminina na obra e o próprio enredo do homem mais velho e meninas mais novas, para mim, não foi uma grande surpresa (ainda assim são os principais causadores do meu desconforto).
No mais, indico o livro. Entretanto, vale ressaltar que não é uma leitura para todes, já que "A casa das belas adormecidas" trata diretamente com temáticas pesadas.
"Aos velhos, a morte, aos jovens, o amor; a morte, uma única vez, o amor infinitas vezes." (Yasunari Kawabata, A Casa das Belas Adormecidas).
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Felipe 27/03/2021

?A mulher é infinita?
Confesso que no início achei o livro meio monótono, porém os detalhes que o autor utiliza ao descrever as passagens do velho no bordel, no qual passava as noites em companhia de mulheres adormecidas que não acordavam de forma nenhuma e o retorno de lembranças da sua vida, fazem com que a obra alcance um outro nível de contemplação.
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iguteixeira 14/10/2020

Bom. Eu realmente queria ter gostado mais desse livro, foi o primeiro livro que li do Kawabata; sou bastante curioso para conhecer mais sobre a literatura do chamado ?lado ocidental? do planeta. A descrição minuciosa dos detalhes e das voltas temporais de vida do protagonista deixaram a minha leitura um pouco lenta e muitas vezes senti tédio. No entanto, e isso fica também como dica para mim: é necessário parar e contemplar os detalhes - até os que podem ser tediosos inicialmente - a valorização da vida acontece nesse processo de contemplação do vil, do cotidiano, do outro, do eu. Enfim, parar, desacelerar e contemplar o considerado ?descartável? e ?sem importância/valor? (nos dias de hoje) é essencial, principalmente na lógica capitalística em que estamos inseridos, na qual todo momento é tempo de produzir. NÃO! Parar e contemplar é necessário. Boa leitura, caros aventureiros ;))
Jessé 05/11/2020minha estante
Acho que vc deveria deixar Kawabata pra quando estiver mais acostumado com literatura Japonesa. Te aconselho começar pelos contemporâneos primeiro, e deixar esses mais clássicos pra depois, já que a literatura japonesa muitas das vezes é bastante contemplativa e detalhista. Quando morei lá, notei que a literatura deles, muitas das vezes é de uma cultura muita fechada.


iguteixeira 05/11/2020minha estante
Obrigado pela dica. E agora consertando a palavra que meu corretor trocou e não percebi: ?oriental?. Abraços :))




Alexandre Kovacs / Mundo de K 08/01/2014

Yasunari Kawabata - A Casa das Belas Adormecidas
Editora Estação Liberdade - 128 páginas - Tradução direta do japonês de Meiko Shimon (lançamento original 1961).

Este pequeno romance é um dos grandes clássicos da literatura mundial no qual Yasunari Kawabata (1899 - 1972), prêmio Nobel de 1968, soube lidar com realismo e ao mesmo tempo extrema delicadeza, temas difíceis como a busca pela felicidade após a perda da juventude e polêmicos como a morte, perversão e sensualidade. Kawabata imaginou um estranho bordel onde homens de idade avançada podem passar as noites com jovens virgens, adormecidas sob o efeito controlado de narcóticos. Este livro inspirou outros autores a escrever sobre os sentimentos e a sexualidade na terceira idade como o colombiano Gabriel Garcia Marques em "Memória de minhas putas tristes" que aborda a impossível história de amor entre um ancião e uma jovem prostituta. Existe uma tendência nas sociedades do ocidente e oriente a ignorar e evitar o assunto do erotismo na idade da impotência, quando o desejo e a atividade sexual certamente ainda existem.

O protagonista Eguchi, de 67 anos, encontra-se em uma situação diferente dos visitantes tradicionais uma vez que sexualmente ainda mantém o domínio de seu corpo mas, no seu caso, a situação é talvez mais triste porque ele tem a noção de proximidade da decadência física e de que, portanto, não está muito longe da melancólica humilhação dos outros clientes daquela casa. De acordo com os procedimentos da Casa das Belas Adormecidas, os clientes podem tocar as jovens nuas, mas nunca concretizar a relação sexual, fato limitado até mesmo pela falta de vigor físico dos idosos. Outra norma fundamental é que o conhecimento sobre os nomes das jovens com que passaram a noite e seus históricos sejam totalmente inacessíveis aos clientes; obviamente as meninas não têm a mínima noção do que foi feito aos seus corpos enquanto permaneceram entorpecidas durante o tempo da visita. Isto fica claro logo no capítulo inicial do romance:

" - Não faça nenhuma brincadeira de mau gosto, por favor. Não vá, por exemplo, enfiar o dedo na boca da menina adormecida - recomendara insistentemente a mulher da hospedaria ao velho Eguchi."

Eguchi se torna um frequentador assíduo da casa e, ao longo do tempo e das cinco noites compartilhadas com as diferentes jovens adormecidas, relembra passagens de sua vida amorosa de acordo com os estímulos e sensações despertadas que variam da inocência e cheiro de leite materno e bebê da primeira noite até os fortes apelos sedutores de outras belas adormecidas que induzem Eguchi ao desejo de quebrar as regras da casa, tanto no sentido de completar a relação sexual quanto de conhecer melhor as jovens e outros clientes da casa. Ao longo de suas experiências o nosso protagonista testemunhará de perto a ocorrência da morte, uma possibilidade sempre presente na Casa das Belas Adormecidas.

"Eguchi afrouxou o braço que apertava a garota com força, abraçou-a com carinho e ajeitou seus braços nus de modo que ela o enlaçasse. E ela o abraçou docilmente. O velho manteve-se nessa posição e permaneceu quieto. Fechou os olhos. Aquecido, sentia-se num deleite. Era quase um êxtase inconsciente. Parecia compreender o bem-estar e a felicidade sentidos pelos velhotes que frequentavam a casa. Ali eles não sentiriam apenas o pesar da velhice, sua fealdade e miséria, mas estariam se sentindo repletos de dádiva da vida jovem. Para um homem no extremo limite da sua velhice, não haveria um momento em que pudesse se esquecer por completo de si mesmo, a não ser quando envolvido por inteiro pelo corpo da jovem."

A literatura de Kawabata é importante porque incomoda e faz pensar quando desnuda através do erotismo não convencional, ou até mesmo pervertido, os medos universais do homem diante do final da vida e incerteza do futuro, não somos todos assim?
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iagofelipeh 04/05/2020

Grata surpresa!
Sou ainda pouco versado em literatura oriental como um todo, quase que todas minhas incursões foram em autores nipônicos. Embora pretenda abranger cada vez mais a gama de países e autores que fogem à minha zona de conforto ocidental, essa iniciação não poderia ser diferente, afinal os mangás e animações oriundas deles foram sempre muito presentes na minha infância e adolescência, sendo um segmento relevante do que posteriormente me tornou entusiasta de literatura.

Agora, deixando o que concerne a minha formação de lado e colocando em foco a obra, é sempre uma surpresa notar que os romances japoneses lidos por mim fogem ao mote mais comum dos quadrinhos e são de uma escola bem peculiar, sensível e arrebatadora.

Yasunari Kawabata foi o primeiro de seu país a ser galadoardo com o mais importante dos prêmios literários, o Nobel de 1968. Isso por si só já é um grande feito e o suficiente para chamar minha atenção. E o caso desse senhor é ainda mais característico, uma vez que discursou contra o suicídio ao receber o prêmio e, em 1972, acabou tirando a própria vida durante um grande surto depressivo. Tais fatos, tamanha incoerência, essa dicotomia trágica foi mais do que suficiente para me fazer pegar um livro seu pra ler de imediato, e o escolhido foi o que me pareceu ser mais elogiado.

"A Casa das Belas Adormecidas" é um romance curto (embora alguns considerem-no como pertencente ao gênero dos contos) cuja linguagem me surpreendeu em demasia pela sensibilidade e poesia colocadas de maneira orgânica na obra. De fato é uma prosa de tirar o fôlego, que vai prender-te do início ao fim; dispõe de uma rítmica ímpar. Poucos autores conseguem a proeza de unir elementos esses com incursões psicológicas e filosóficas de modo a manter a fluidez. Kawabata - digo sem medo de errar - foi um gênio e decerto não recebeu prêmios tão magnânimos à toa.

Pois bem, embora minha intenção aqui não seja entrar em detalhes sobre a trama (afinal quero que você leia esse livro!), vale pontuar que se trata de uma incursão sensível, com caráter profundamente memorial, de um senhor de 67 anos chamado Eguchi durante sua experiência com um tipo de casa de prostituição deveras peculiar, misteriosa e, claramente (pra se dizer o mínimo), problemática.

Vi também muitas críticas a forma como a mulher é objetificada no romance. De fato, não há o que discutir quanto a isso, esse incômodo e inconveniente é parte estrutural da atmosfera pretendida pelo autor. Todavia, ao meu ver, salvo um ou outro ponto, vejo que o enredo brinca com todos os elementos conflitantes. A cada nova experiência naquele local, na mesma medida que as garotas são retratadas de modo inerte, as lembranças do protagonista mostram mulheres fortes e que marcaram excessivamente a vida do então idoso, e foram muitas! Outrossim, me parece que o intuito do autor foi demonstrar muito mais a decadência da virilidade masculina, a humilhação e o ridículo que envolve, uma vez que, ainda decrépitos sexualmente, buscam satisfazer-se com jovens garotas de qualquer forma. Na verdade há muito o que se discutir sobre, creio ser um plote longe de ter sido esgotado.

Em suma, já falei bastante e fica evidente minha recomendação. É curioso ressaltar, além dos momentos finais do escritor, toda sua vida progressa, extremamente trágica e controversa. Perdeu gradualmente todos os parentes próximos, viveu maus bocados, além de ter sido polêmico quanto o seu posicionamento político que permeiou as duas grandes guerras mundiais.
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Jessé 06/11/2020

Estranho mas muito bom!
Cara, esse com certeza foi um dos livros mais estranhos que li na minha vida.
Foi um daqueles livros que eu gostei, mas ele causa uma certa repulsa. Quem já leu Lolita talvez tenha uma noção do que estou dizendo.

Inclusive já deixo avisado, que é livro que pode incomodar bastante, então vão com cuidado nessa leitura.

E eu não vou contar nada da estória, porque eu acho que seria legal as pessoas pegarem esse livro pra ler no escuro.

Até pra que já leu Kawabata como é o meu caso, vai perceber um certo diferencial nesse livro se comparado a outras obras dele.

Foi uma das coisas mais estranhas e diferentes que já li, e isso já são motivos suficientes eu dar 5 estrelas pra esse livro.
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Mauro.Cavalcante 17/07/2022

Bem diferente
Quis ler um livro de literatura japonesa e li esse, achei interessante, adorei o jeito que o autor detalha tudo.
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Luds 09/08/2020

Uma leitura um tanto quanto perturbadora, na qual não me conectei aos personagens mas pude compreender alguns dos aspectos que os levaram a agir de tais formas.
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herbert.goncalves 18/09/2020

reflexivo
livro com um ritmo moroso, mas que me agradou muito. tem algumas sequencias que me deixaram de queixo caido, e me fez repensar muitas coisas na vida. muito bom!!!

site: https://filmow.com/usuario/herbert_
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Marc 13/04/2024

Kawabata é um escritor que fala muito do tempo. Em alguns de seus livros, o passado retorna, porque deixou mágoas e dúvidas, imensos desertos de dor e solidão nos personagens e o reencontro traz um gosto amargo — mesmo que alguns esperem poder retomar e criar uma nova vida a partir daí. É difícil descrever, porque a escrita é muito complexa, sendo sutil e rica, muitas vezes sugerindo ao invés de apontar e quando percebemos, é como uma porta que se abre para um imenso pátio, mas que nada no restante da construção sugeria existir. Assim como o tempo aquieta as paixões, afasta os amantes, também parece ter a qualidade de reavivar os ressentimentos. É como se eles não passassem, apenas ficassem suspensos aguardando o momento de retornar com toda a força. Gosto muito de uma frase do filme “Magnólia”, que se encaixa muito bem aqui: nós superamos o passado, mas ele não nos supera.

Mas a vida não deixa apenas ressentimentos. E aqui, embora exista um amargor ao olhar a vida, ou melhor, ao sentir que a vida já não tem o mesmo colorido (o que causa tristeza), o tempo é sentido como aquele que tira, que afasta. Já não se é mais como antes e mesmo que a perda da virilidade seja sentida, é sobre o futuro que a preocupação de Eguchi se projeta. O passado serve como contraponto ao futuro, surgindo cada vez mais luminoso à medida que ele só enxerga trevas diante de si. E não são trevas comuns de não se saber o que tem pela frente, são trevas porque não lhe restam esperanças. É o tempo que lhe diz que está acabando, que suas forças jamais retornarão.

Incrível que não se note a referência ao conto de fadas da Bela Adormecida. Enquanto este último coloca a realização do amor através da força que o masculino desperta na mulher, literalmente tirando-a do sono, trazendo-a à vida concreta, aqui elas não são modificadas pela velhice, pois ela não tem mais a virilidade e o vigor. É como se aquilo que os homens tem a oferecer, toda a força que protege a mulher, que a retira do torpor de uma vida que não é plena, não pudesse ser satisfeito e não se realizasse. As mulheres, mesmo belas, não conseguem ser amadas e desejadas, pois essa fase da vida já passou para os homens que frequentam aquele lugar. Elas ficam ali, esperando eternamente, uma beleza que não pode ser plena, que não pode fazer aquilo que as mulheres podem fazer e os homens não. Literalmente, essas jovens não podem ser mães, pois os homens que as tocam não sentem real desejo e não são mais capazes de engravida-las. Por um lado, o desejo de retomar — mas sem sucesso — o poder da juventude e, por outro, a beleza que jamais leva à realização plena do feminino. Aquela casa encena possibilidades, mas elas jamais se realizam.

No conto de fadas, a Bela Adormecida se torna fértil, se torna mulher e cai na armadilha da bruxa (talvez seja um resquício dessa história a mulher que cuida da recepção para os homens velhos e adormece as jovens que ficam no quarto esperando, inconscientes). O que a bruxa deseja é que ela jamais acorde, perca seu período de fertilidade e se torne como ela, ressentida em relação à vida. Mas, numa leitura mais simbólica, é como se as mulheres estivessem durante sua adolescência, num período de latência, projetando o que virá mais tarde e será a realização de sua vida, que é a gravidez e o cuidado dos filhos. Mas somente um homem pode levar a esse estágio. Sem o casamento, a mulher jamais vai ser completa. É isso que o conto de fadas mostra, o simples ciclo da vida de uma mulher.

Aqui, no entanto, isso não pode se realizar. Ou melhor, seria uma espécie de brecha na vida dessas jovens, onde elas não apenas não esperam por ninguém, como não esperam que possa aparecer um homem naquele local que as retire desse período. As jovens que ficam adormecidas nos quartos não podem reagir, não sabem quem são os homens que estiveram com elas durante a noite e não sabem o que aconteceu. Tudo que lhes interessa, Eguchi pensa, é o dinheiro. Seria uma maneira de dizer que em qualquer estágio da vida é fácil se perder. Isso é tão verdadeiro que Eguchi começa a lembrar de mulheres do passado e o amor parece estar ausente de todas as situações. Mesmo ao lembrar dos momentos finais com a mãe, ainda parece ausente o amor. Essa lembrança o incomoda, porque ao pensar nas mulheres de sua vida, a mãe aparece como a primeira. Não porque tenha feito sexo com ela, mas porque foi a primeira vez que tomou conhecimento de uma mulher em sua vida.

Todas as lembranças parecem falhas sob esse ponto de vista. Eguchi, por sua vez, não parece atentar para isso. É como se ele estivesse distante em todos os momentos, compelido por aquilo que se esperava dele, não por sua personalidade. Olhar o passado sem se reconhecer, sem conseguir se emocionar. Nunca houve real envolvimento naqueles momentos que vai lembrando. E nem existe aqui, evidentemente. Pois não há como, mesmo que ele toque a garota, a beije, nada do que faça poderá gerar envolvimento. Assim, no passado — onde ele podia fazer sexo com as mulheres —, ou hoje, o distanciamento em relação a todas as mulheres continua. Essa é a ironia da situação em que ele está agora. E o final do livro, que me desagradou bastante, é uma prova dessa falta de relação, de laços.

Às vezes, esse tempo que transforma ou reaviva sentimentos, traz ainda o esclarecimento. Não podemos dizer que seja o caso. Eguchi não parece ter compreensão do que realmente foi sua vida. Mas está lá, basta prestar um pouco de atenção em cada lembrança para chegar a essa conclusão. De modo que o livro deixa um sentimento bem ruim, não apenas pelo final, mas porque descobrimos que o tempo não o modificou, que a esperada maturidade, a sabedoria que deveria vir com o tempo e que seria alcançada na velhice, jamais chegará. Ele é apenas um homem que lamenta não ter mais o vigor do passado, não poder mais ter a mulher que desejar e nada do que viveu lhe ensinou coisa alguma. O homem que um dia retirou uma mulher, mãe de suas filhas, do período de latência da juventude e a levou à plenitude de sua vida, simplesmente não acompanhou o processo, não o fez com objetivo algum, apenas buscava satisfação imediata de seus desejos, nada mais.

O pior que poderia acontecer a uma pessoa ao chegar à velhice seria não ter aprendido nada, não ter sabedoria sobre a vida, não ter sido modificado pelas incontáveis situações que passou ao longo dos anos. Ainda desejar ser um adolescente só para poder sentir prazer.
Leticia Nassinger 13/04/2024minha estante
Eu li esse livro e fiquei com alguns questionamentos sobre ele e achei que sua resenha me respondeu alguns? obrigada


Marc 13/04/2024minha estante
Agradeço a leitura e o comentário, Letícia. Escreva sobre seus questionamentos em relação ao livro. É sempre bom para quem escreve e para quem vai ler, pois pode ajudar a compreender melhor.




Razuki 08/10/2020

"Gente velha corteja a morte!"
Um livro escrito na década de 60 que fala do corpo feminino com muito cuidado e doçura. Uma história simples que me prendeu do início ao fim sem me causar ojeriza, muito pelo contrário foi até prazeroso passear pelas memórias de Eguchi a cada noite com as belas jovens. Foi interessante ler sobre os homens que não são mais assim considerados por conta de uma condição fisiológica, seus pensamentos, medos e desejos. Foi uma leitura rápida, simples e prazerosa.

"Começou a perceber que a força mágica da vida de uma mulher não era pouca coisa."
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