Artemisia1 23/07/2013Caprichado, mas não o melhorPor já conhecer o estilo do autor (Um estranho no espelho), já esperava por personagens abundantes e bem construídos, além de uma história cheia de reviravoltas. Este é um livro sobre intrigas políticas e isso fica bem evidente principalmente nas 40 primeiras páginas, recheadas de descrições e apresentações de personagens. Por este motivo, me senti um pouco desencorajada a prosseguir com a leitura. Quase desisti, mas como é de Sidney Sheldon que estamos falando, resolvi dar um crédito para o autor e não me arrependi. Depois que o pano de fundo é explorado, a ação entra em cena e o texto fica mais fluido. Vamos aprendendo junto com Mary as regras de conduta esperadas de uma embaixadora e – mais importante – em quem confiar. Esse último quesito, aliás, nunca é plenamente respondido ao longo do livro e, mesmo nas últimas 05 páginas, ainda ficamos na dúvida. É muito bacana perceber o amadurecimento da personagem ao longo das páginas, pois, apesar de sua inteligência ficar evidente, ela era um tanto quanto inocente no início e logo vai se transformando numa mulher cheia de ardis para conseguir seus objetivos. Às vezes quando eu achava que ela estava perdendo o jogo, ela vinha com uma solução mirabolante. Longe de ser a donzela em apuros, se mostra forte e corajosa, o que me fez torcer muito por ela.
Talvez o ponto negativo – que nem pode ser chamado de negativo, pois é uma característica do autor – seja a descrição dos personagens e a quantidade deles. Meu Deus! São tantos personagens secundários, dos quais Sheldon descreve brevemente o histórico, fisionomia e personalidade, que eu fico perdidinha! Mas isso é um problema que eu tenho particularmente, decorar nomes e tal, por isso uso a técnica de “Fichamento de personagens” para este tipo de livro, daí fica mais fácil.
Achei primorosa a descrição que Sheldon faz do luto de Mary. A transição dos sentimentos, passando pela vontade de morrer, raiva de Deus, raiva do mundo, superioridade pela sabedoria que o sofrimento traz, a solidão, a necessidade de seguir em frente, o conformismo... Enfim, transcreve com exatidão essa fase da vida pela qual todo ser humano passa.
Quando a história chega ao seu clímax, já é impossível parar de ler, pois em cada página há uma reviravolta. Embora o tema de Um estranho no Espelho tenha me cativado mais, ainda assim recomendo Um capricho dos deuses.
Pg. 133
- Ele está em paz – diziam a Mary.
E uma centena de outros clichês. As palavras fáceis de consolo, só que não havia nenhum consolo. Não agora. Nem nunca.
Ela acordava no meio da noite e corria para os quartos dos filhos, a fim de se certificar de que eles estavam seguros. Meus filhos vão morrer, pensou Mary. Todos vamos morrer. Pessoas andavam calmamente pelas ruas. Idiotas, rindo e felizes – e todos vão morrer. Suas horas estavam contadas, e as desperdiçavam em estúpidos jogos de cartas, assistindo a filmes tolos e a partidas de futebol americano sem o menor sentido. Acordem!, ela tinha vontade de gritar. A terra é o matadouro de Deus, e somos o Seu gado. Será que não sabem o que vai lhes acontecer e com todas as pessoas a quem ama?
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