Tamara 17/08/2019
Há vários anos tenho o hábito de ler as obras de Jodi Picoult, e ela foi uma das primeiras autoras de drama que conheci, e de certa forma foi uma das responsáveis por eu gostar tanto desse gênero. Dessa maneira, quando iniciei em seus livros e comecei a pesquisar tudo que ela já havia publicado, me deparei com o título de A menina de vidro, uma obra cujo enredo que conheci pela sinopse jamais saiu da minha cabeça. Porém, apesar de desejar muito lê-lo, eu não podia, pois era uma obra que jamais tinha sido lançada em e-book, e como sou deficiente visual esse é o meio pelo qual realizo minhas leituras. Mas, bem recentemente, foi com uma empolgação enorme e também muita surpresa que descobri que a editora Verus lançou em versão digital esse que era o sonho literário da minha vida, e com rapidez, logo o adquiri e pude lê-lo e comprovar que essa história cumpriu todas as minhas expectativas e mais um pouco, e que é tão impactante quanto eu imaginava.
A menina de vidro é um livro que nos arrebata, prende e nos deixa ali, grudados nas páginas só para descobrir o que vem a seguir, mas também é o tipo de história que não proporciona uma leitura fácil, pois apesar de termos uma escrita completamente fluída, bem feita e bem conduzida, os diversos dilemas morais que surgem ao longo do livro, os diversos sentimentos que ele nos causa e as impressões que ele nos deixa são muito marcantes, e por vezes requerem alguns minutos ou horas para serem digeridos, pois muitas vezes vão contra tudo o que pensamos e sentimos, e durante todo o tempo eu ficava me questionando como agiria se estivesse no lugar de cada um daqueles personagens e em alguns momentos ficava horrorizada com os argumentos, e em outros fui levada às dúvidas, tanto quanto os personagens o foram. Encontramos nessa trama a história de Charlotte, uma mulher que foi mãe solteira de Amelia, e após alguns anos quando conheceu Sean, um homem bom e dedicado, logo casou-se com ele, e o casal passou a tentar engravidar, nascendo então dessa união Willou, uma menina linda, inteligente mas quebrável literalmente, pois ela nasceu com Osteogênese imperfeita, ou também conhecida por doença dos ossos de vidro, com a qual a menina veio a ter dezenas de fraturas, inclusive dentro da barriga da própria mãe, e a partir dessa perspectiva, o livro tem início no dia do nascimento da criança e então começamos a conhecer a saga de cuidados, sofrimentos e amor dessa família. Foi assim que anos depois do nascimento da menina, Charlotte, a mãe resolve processar a obstetra responsável pelo nascimento de Wilou, mas o problema é que a obstetra era também a melhor amiga de Charlotte, e a alegação foi que caso a médica tivesse descoberto sobre tal doença antes, isso teria dado-lhe a oportunidade de informar para a mãe de Willou que aquele bebê poderia ser abortado, e apesar de os desejos do aborto não corresponderem aos reais sentimentos da protagonista, ela alega que precisa apresentar isso diante do tribunal, dizendo que o nascimento de sua menininha foi indevido, a fim de ser indenizada e com esse dinheiro proporcionar uma vida melhor para a criança, para suprir todas as necessidades causadas pela doença.
Apresentando a trama dessa maneira, é fácil imaginar que não gostaríamos do livro, e realmente, em vários momentos diante dos argumentos apresentados eu senti muita raiva, mas ao mesmo tempo, tudo que é apresentado aqui nos faz refletir profundamente, nos emociona e nos toca, transformando essa em uma história única e inesquecível. Apesar de a história girar muito em torno desse processo, dos dilemas morais e de outras discussões em um embate jurídico, há também uma série de temáticas secundárias de grande importância, como o que isso faz com a família de Charlotte, a maneira como cada membro da família reage aos problemas, e também podemos acompanhar de maneira muito sensível a vida da inteligente e forte Willou, que para mim foi uma verdadeira lição de coragem e me marcou muito. Além disso, algo muito interessante que esteve presente na construção dessa história é o fato de podermos acompanhar a narrativa sendo feita pelo ponto de vista de várias vozes, e podemos ouvir Charlotte, Amelia, Sean, Piper, a advogada da família e também Willou, o que nos mostra a história através de vários ângulos diferentes e nos proporciona a oportunidade de compreender um pouco sobre cada um deles.
Talvez, mesmo se ficasse horas falando sobre essa obra provavelmente eu ainda não conseguiria expressar o quanto ela me tocou, então só tenho a dizer que a minha recomendação é de que aqueles que gostam do gênero drama o leiam, mas antes de tudo é preciso saber que esse não é um livro com final feliz, é um livro com realidade, com esperança, coragem e com pessoas que erram e acertam muitas vezes e nos mostra que mesmo quando nosso objetivo é consertar, ainda assim podemos simplesmente quebrar tudo ainda mais.