Pilantrinha 29/08/2022
O INTANKÁVEL Stephen King
Antes de mais nada, quero me dar os parabéns. Tá maluco, só sendo completamente perturbado para ler esse tijolo de dois quilos. Tem que estar com muita raiva da própria vida para fazer uma besteira dessas, então parabéns para mim!
Vamos lá!
Eu já tenho uma certa afinidade com o Estevão Rei e seus calhamaços absurdos, então numa tarde decidi: vou ler essa presepada. E cá entre nós, uma boa decisão. Esse livro tem um dos inícios mais arrebatadores que eu já tive o prazer de apreciar. Isso se você entender 500 páginas como um início.
Olha, é bom demais! Tem toda essa história da supergripe e como ela vai devastando tudo sem querer saber de nada. É um tanto desesperador ler sobre uma epidemia viral enquanto ainda vivemos o resquício de uma epidemia viral, mas esse começo é arrebatador, você fica preso.
Infelizmente, o segundo arco é mais fraco e o livro perde um pouco a força. É um problema? Não. Nesse momento temos um desenvolvimento mais lento dos personagens, fazendo com que criemos empatia com eles. Eu acho que aqui o King pesou um pouco a mão e chega a divagar (mais do que ele geralmente já faz). Personagens secundários que não têm muita importância na trama recebem backgrounds absurdos só para morrerem pouco tempo depois. Você fica com uma sensação que leu à toa em alguns momentos.
E aí chega a parte mais louca dessa história: a rinha de crente.
Lá pela metade do livro você vai entender que essa história tem uma presença muito forte da religião, especificamente o cristianismo. É um duelo de Deus contra o Diabo travado pelos seus capangas, basicamente. Na minha humilde opinião, a forma como essa "luta" é feita empobrece um pouco a história e abre espaço para muitas resoluções do tipo Deus ex machina.
Temos um vilão que é figurinha carimbada em outras obras de King, Randall Flagg, travando uma luta contra Mãe Abagail, a mulher mais velha do Nebraska. E o que é essa luta? Basicamente o Flagg fazendo truques de mágica e aparecendo no escuro para assustar as pessoas e a Abagail tendo visões e recitando passagens da bíblia. Eles também surgem nos sonhos dos sobreviventes.
Quando esse lance místico começa é até interessante, mas depois fica meio massivo. Tudo se explica com "é um plano de Deus, você não entenderia". Que, para mim, é só uma forma preguiçosa que o King arrumou para concluir seus problemas sem que as pessoas apontassem a falta de lógica nisso. Para quem já conhece o autor de outros carnavais, sabe que ele funciona quase sempre assim. Em boa parte dos seus livros (principalmente os calhamaços) ele tem conclusões absurdas e pouquíssimo criativas, utilizando sempre um artifício pobre e batido.
King é a máxima do "se a jornada é boa, pouca importa para onde você está indo". Porque nós não sabemos, e ele também não.
No mais, esse é um bom livro, mas nada de outro mundo. Não consigo encontrar justificativas para o tamanho dessa obra, acho ela inchada. O ritmo também é prejudicado, e você tem a sensação de "ler livros diferentes" (o que é engraçado, porque a obra é dividida entre livro I, II e III, e a divisão é CLARÍSSIMA). O ponto alto, como sempre, são seus personagens. O véio sabe muito. Todos os personagens aqui são muito interessantes e funcionam como seres humanos em um apocalipse, é divertido acompanhar suas histórias. As tramas são interessantes e fazem sentido, talvez se ele tivesse focado mais entre os problemas entre as pessoas e não entre forças sobrenaturais superiores, a coisa funcionasse melhor. Sob a Redoma é um bom exemplo disso.
E antes de acabar, mais uma vez eu reclamando do sexo em um livro. A galera deve achar que eu sou contrário a ideia de bater virilha, não é possível. Mas falando sério, o King tem muitos problemas quando ele insere sexo em suas obras. Aqui você vai ler bastante sobre, e na maior parte é desnecessário. Tem uma cena aqui que um cara coloca a pistola em outro. E eu não estou falando em sentido figurado.
Mas é isso. A Dança da Morte é um épico, muito bom, mas enorme. E quanto mais material, mais chance de errar e acertar. No final o saldo é positivo, a história vale a pena, mas se encontra atrás de outros monstros do nosso Rei. Tenham coragem e leiam esse tijolo, vocês vão gostar.
Bebam água, comam frutas e malhem braço! Segurar esse paralelepípedo por horas de leitura me fez lembrar de pagar a academia (mas não necessariamente ir rs). Valeu!