marcelo.batista.1428 25/02/2024
Li essa obra junto com um clube de leitura (o primeiro e único que participei) em um ritmo que discutíamos um capítulo por mês. Foi bastante enriquecedor e fiquei empolgado em como minha percepção expandia em trocar impressões pormenorizadas com outros leitores, sobre a narrativa em si, mas também sobre fatos referentes a biografia do autor e da sociedade da época.
Não consegui acompanhar o grupo até o final, parei com a leitura e retomei meses depois, sem grandes expectativas, pois não era uma narrativa que estava me empolgando muito. Mas, para minha surpresa, muitos aspectos do livro tinham ficado em mim, e me levaram a uma leitura mais atenta a forma da escrita, aos temas abordados, as características dos personagens, e menos presa na história contada. E considero que isso foi um ganho.
Em várias resenhas que li, aponta-se o jogo de azar como tema principal. O ponto forte seria a descrição da atmosfera que ele traz, a empolgação e extrema euforia, junto com a perda da racionalidade e do senso de decisões lógicas, e a força que ele tem em prender as pessoas. La Baboulinka, a personagem favorita de 11 entre 10 leitores, retrata isso. Mas o jogador, na minha opinião, vivencia todo esse estado não no jogo, mas sim na sua paixão. A sua roleta é Polina.
Por outro lado, o que mais me interessou no livro foi como o autor, descrevendo seus personagens e construindo a sua história, conversa sobre status, ética, poder econômico, dignidade, confiança, respeito, honestidade, entre outros temas do humano. É um nobre que dispensa a dignidade para conseguir dinheiro, é um burguês que usa seu capital e sem ética vai atrás de status. Também a nobre sem qualquer etiqueta, mas confiável e honesta. O professor com tendências niilistas, que desdenha da nobreza e até mesmo do ganho financeiro, mas que se comporta com ética e dignidade com quem acha que mereça.
Fiquei com a impressão de que o autor poderia ter aprofundado mais em alguns personagens e que alguns caminhos da narrativa são desviados sem muitas explicações. Talvez seja a história real invadindo a ficção, pois tem-se o relato de que Dostoiévski tinha um prazo curto para entregar o livro, ou perderia o direito autoral sobre suas obras para um agiota (devido dívidas de jogo).
Frente a tudo isso, o que percebo em mim, é um olhar cada vez mais admirado à medida que me distancio do tempo em que finalizei a leitura. E esse encanto está menos relacionado a história em si e mais com a construção que o autor fez, nos permitindo reflexões sobre aspectos importantes da humanidade, tanto a nível individual, como a nível social. Foi uma boa leitura.