Túlio 07/02/2012
Simplesmente fantástico
“Salvemos a Criação, salvemos toda a Criação! Nenhum objetivo menor é defensável. Como quer que tenha sido o surgimento da biodiversidade, ela não foi colocada neste planeta para ser destruída por uma das espécies, qualquer que seja ela.”
Ano passado, enquanto buscava livros para escrever minha monografia, encontrei um que de início me interessou um capítulo apenas (o que abordava as espécies exóticas), mas tinha a temática de conservação da natureza, ensino de biologia e acabei me interessando e comprei assim que pude. Quando chegou, minha intenção era ler apenas a parte relacionada com a bioinvasão e só depois lê-lo inteiro. Mas só de folhear esse livro vi que devia ler ele todo de uma vez, mesmo que não aproveitasse mais nada na monografia, pois o que eu tinha nas minhas mãos era algo que me faria refletir muita coisa e mostrar para as pessoas que TODOS devem ajudar a salvar a vida na Terra, independente de quaisquer pontos de vista que possam ter.
O livro em questão é o dono da citação do início do post: A Criação: como salvar a vida na Terra, de Edward O. Wilson. Renomado biólogo americano, autor de mais de 20 livros, é considerado um dos mais proeminentes biólogos do mundo, tendo recebido diversos prêmios em sua carreira.
Para começar, esse livro não tem aquela linguagem científica que muita gente evita, bastante técnica. Seu texto é leve, de fácil leitura, fazendo com que o leitor se envolva com o que o autor quer dizer. Muitas vezes o autor conta relatos pessoais de suas viagens, pesquisas, infância e sempre faz um gancho com o que ele tem a dizer. E ele diz muita coisa...
Escrito como se fosse uma carta a um pastor de uma igreja, A Criação traz uma reflexão, quase um apelo, para que sejam deixadas de lados todas as divergências entre ciência e religião para assumir um compromisso maior, a defesa da vida. O livro mostra vários assuntos sobre as espécies do planeta e o que acaba com elas: introdução de espécies exóticas, ganância do desenvolvimento, negligência... Mostra muito do que tem que ser feito e também todos os riscos de não se fazer nada.
Wilson sempre se refere ao pastor como um amigo, mostrando que mesmo que tenham opiniões diferentes, ambos podem e devem agir da melhor forma que puderem, dentro de suas comunidades. Essa união é essencial, pois, nas palavras do autor, “a ciência e a religião são as duas forças mais poderosas da sociedade. Juntas, elas podem salvar a criação.”
Independente se você aceite a visão literal da Bíblia ou a teoria da evolução, você é chamado a agir na preservação da vida. Uma coisa não impede a outra: se você for criacionista, porque destruir algo que o próprio Deus criou? Não temos autoridade para isso. Mas se você concorda mais com a evolução das espécies e tudo o mais, sabe que foram bilhões de anos que a vida se desenvolveu no planeta e para que destruí-la para beneficiar outra? “Cada espécie, por mais humilde e quase invisível que nos pareça, é uma obra prima da biologia que vale a pena salvar.” Conviva com as diferenças...
No final, alguns capítulos tratam da educação e de como ela pode ajudar na preservação da natureza. Contando relatos pessoais, Wilson mostra que o sucesso da educação para o meio ambiente começa com o modo de como professor aborda esses temas com seus alunos, pois nesse momento surge a motivação para uma vida mais conservacionista.
Enfim, é disso que A Criação: como salvar a vida na Terra, trata: a preservação de toda a biodiversidade como compromisso assumido por todos, independente de credo, raça, opinião. Vale a pena ler, sem compromisso. Não o encare como um livro que quer te fazer a todo custo salvar o planeta. Apenas escute o que ele tem a dizer e depois tire suas próprias conclusões.
E encerro esse post com mais um trecho desse livro, o mesmo trecho que o autor encerra sua carta ao pastor, reafirmando que mesmo que tenham diferentes visões da criação, ambos devem agir em sua defesa.
“Pois seja como for que as tensões acabem se desenrolando entre os nossos pontos de vida opostos, seja como for que a ciência e a religião aumentem e diminuam de importância na mente dos homens, permanece o compromisso, ao mesmo tempo humano e transcendental, que nós dois somos moralmente obrigados a compartilhar.”