jota 30/09/2011 Pais e filhos, amigos e amantesRússia, anos de 1860: um país atrasado, preso a uma economia agrária e feudal. A sociedade russa dividida entre aqueles favoráveis à ocidentalização e os defensores da tradição e continuidade.
Num tal cenário político como pano de fundo, durante o verão, Arkadi, jovem graduado visita a propriedade do pai, Nicolai Pietrovitch. Acompanha-o o amigo Bazarov, estudante de ciências naturais, mais ou menos o equivalente a um médico de província então.
Bazarov causa certo desconforto ao pai - mas principalmente ao tio de Arkadi, Pavel - ambos tradicionalistas, pois não reconhece nenhuma autoridade e tampouco aceita qualquer princípio sem provas. É, o que se chama, um niilista: não se enquadra em nenhum daqueles dois grupos divergentes.
O atrito entre Bazarov e Pavel, no entanto, muito mais do que no campo político, vai se desenvolver no plano emocional, evoluindo para um duelo bizarro - um dos pontos altos do romance, sem dúvida. Diálogos primorosos são trocados entre os dois homens.
Sim, também há mulheres nesta história, claro. Destaque para a sedutora viúva Odintsova, Katia, sua irmã, Fienitchka, concubina de Nicolai Pietrovitch, Arina, a mãe de Bazarov. Mas os personagens que levam a trama à frente são mesmo tios e amigos. E pais e filhos.
Ao fim, exceto por um personagem importante, entre os feridos e as feridas salvam-se todos. Pois nas histórias de Ivan Turgueniev acima das desavenças e lutas costumam pairar a amabilidade e a elegância. Não à toa, quase todo mundo nesta história gasta bem o seu francês. Oui.
Porque aprecio muito a literatura russa do século XIX, porque alguns capítulos são admiráveis (ou impagáveis, como o do duelo entre Bazarov e Pavel) ou demais comoventes (os finais), pela narrativa fluente de Turgueniev, só posso avaliar este clássico com cinco estrelas, não menos.
Lido entre 24 e 30.09.2011.