O ano da morte de Ricardo Reis

O ano da morte de Ricardo Reis José Saramago




Resenhas - O Ano da Morte de Ricardo Reis


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Valério 02/01/2014

O adeus à Ricardo Reis
Saramago brinca não apenas com as palavras, ao fazê-las qual música em nossa cabeça, mas também com enredos. Aqui, criou toda uma história em volta de um autor fictício, pseudônimo de Fernando Pessoa. Ricardo Reis, ao saber da morte de Fernando Pessoa, volta do RJ para Lisboa e se vê às voltas de uma vida que nunca decola. Não se resolve profissionalmente, tampouco em sua vida amorosa. Também, pudera: Ricardo Reis nunca existiu. E, ainda que consideremos que existiu como pseudônimo de Fernando Pessoa, morreu junto a este.
No livro, Ricardo Reis começa a ter encontros com o fantasma de Ricardo Reis e discutir os mais variados assuntos, de forma cômica.
Saramago aproveita para passar em revista a situação da Alemanha no início do nazismo, da guerra civil espanhola e do momento vivido por Portugal face às modificações na ordem mundial. Também cita a Itália, embora com menos pormenores. Acima da história de Ricardo Reis e do cunho histórico, a leitura de Saramago sempre vale por si só. É o tipo do autor que poderia descrever a cena mais sem graça, os acontecimentos mais cotidianos e comuns: Eu teria o mesmo prazer na leitura. O que Saramago faz com as palavras me parece quase bruxaria. Um encanto em forma de texto.
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Mirella 13/10/2015

Imperdível!
Livro maravilhoso! Para quem é fã de José Saramago e de Fernando Pessoa, é uma leitura obrigatória! Perca-se pelas ruas lisboetas... Não há como não viajar com este livro! Simplesmente imperdível! A meu ver é a única palavra que o descreve. Saramago, aqui, escreveu com uma sensibilidade inigualável.
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Lara.Emanuelle 18/08/2020

Três anos
Eu passei três anos com esse livro nas mãos. Terá um verdadeiro desafio nas mãos, pois encontrará uma leitura densa e complicada demais. Você vai estar lendo, bem tranquila e do nada tem um poema, uma descrição de fatos jornalísticos, ou, a depender do quão distraído no pensamento estiver, vai ter a impressão de não ter sido alfabetizada. Afinal, o estilo de escrita Saramago não facilita muito a leitura. Destarte, é um desafio que vale acatar.
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Rodolfo Vilar 09/01/2017

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS (OU O ANO EM QUE ME DESLUMBREI COM TAL LIVRO)
Era uma vez um sujeito chamado José Saramago, um homem diferente de sua época, de suas ideias e de seus conceitos. Acontece que esse sujeito de nome José era muito apaixonado pelas odes poéticas de outro sujeito chamado Ricardo Reis, tão apaixonado e deslumbrado que nunca passou pela sua cabeça que Ricardo Reis na verdade fosse Fernando Pessoa. Sendo assim, com a morte de Fernando Pessoa vai-se Ricardo Reis, e nosso amigo admirador dos dois grandes poetas, sendo na verdade apenas um, se encontra tristemente abalado por tal perda. Como sanar tal acontecimento? Como dar voz a figura tão importante que apenas se perde no tempo e no limbo do esquecimento de um criador? A resposta vem simplesmente da solução de escrever sobre a vida de homem não tão comentado e analisado quanto foi Ricardo Reis, um sujeito indiferente, de maneira um tanto apática e de poucas relações, perfazendo-se como um homem altamente culto, movido pelas paixões particulares e dono de uma inteligência sagaz. Somente Saramago para conseguir transformar um personagem como esse num dos livros mais lidos de seu repertório, como uma forma de ainda deixar mais vivo nosso saudoso poeta.

Para aqueles que não sabem, coisa que acho difícil de acontecer, Fenando Pessoa foi um sujeito obcecado em criar heterônimos para dar voz as suas criações. Mas o que ninguém entende é que Pessoa era realmente fanático, tanto que para isso criava elementos que davam vivacidade aos seus pseudônimos, usando de artifício a criação de personalidades, datas de nascimento e falecimento e inclusive, mapas astrais. Ricardo Reis, um dos seus principais heterônimos, era um sujeito altamente inteligente e da burguesia, sendo aclamado pelas suas incríveis Odes, onde glorificava suas paixões, sua admiração pela religião grega e inclusive a contemplação pelo corpo feminino. Segundo os registros de Fernando Pessoa, Ricardo Reis morou boa parte do tempo em Portugal, onde nasceu, mas também passou mais de dez anos no Brasil, onde trabalhou como médico, voltando a morar em Portugal sucessivamente. O que intrigou Saramago foi saber que Pessoa não necessariamente deu um ano de falecimento a sua criação, colocando então um ponto de interrogação na mente do autor para criar o famoso livro onde conta os últimos momentos de Ricardo Reis em Portugal, encerrando assim e dando uma história digna ao personagem que o cativou.

Logo no inicio do livro somos desembarcados junto com Ricardo Reis em Portugal, onde o mesmo volta depois de muito tempo para sua terra natal, já que Ricardo descobre que seu amigo, Fernando Pessoa, acaba de falecer. Tendo uma vida de burguesia, Ricardo Reis passa boa parte de seu tempo num famoso hotel da cidade, onde felizmente conhece o amor de sua vida e sua amante, amante essa que pelo destino das mãos de Saramago chama-se igualmente que uma das musas de seus poemas. O momento ápice da história de Saramago é quando Ricardo Reis vai visitar a cova de Fernando Pessoa, onde a partir daí ele passa a receber frequentemente a visita do fantasma de Fernando Pessoa. Desse ponto em diante o leitor irá acompanhar vários diálogos perfeitos entre os dois personagens, além é claro, de saber como a vida de Ricardo Reis se estabelece em Portugal, como ele observa seus amores em sua órbita gravitacional, e claro, entender também o momento politico que o país enfrentava naquela época.

Para os apaixonados por Fernando Pessoa, ler “O ano da morte de Ricardo Reis” é uma experiência única de entrada no mundo do poeta, onde somos fisgados pela filosofia do Pessoa, na qual o Saramago soube muito bem empregar em seu romance, e também, é claro, os momentos de sua fase de inspiração, desmistificando o ofício do autor como um sujeito transcendental de poderes mágicos. “O ano da morte de Ricardo Reis” transcende o significado do que é um romance para Saramago, trazendo para a narrativa elementos que combinam ficção, historicidade e biografia, mesmo sendo de um personagem criado pela mente criativa de outro sujeito. É uma leitura obrigatória, elementar e subjetiva para muitos admiradores dos dois, ou melhor, dos três sujeitos esplêndidos.

site: http://bodegaliteraria.weebly.com/biblioteca/o-ano-da-morte-de-ricardo-reis-ou-o-ano-em-que-me-deslumbrei-com-tal-livro
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Henrique 15/09/2017

Saramago genial
Livro denso, às vezes de leitura difícil, com muitas reflexões acerca do indivíduo, da vida e da humanidade. Final surpreendente. Excelente leitura.
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Michele.Bitioli 21/03/2018

RESENHA: O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, JOSÉ SARAMAGO
Um romance escrito em 1984, cujo protagonista é o heterônimo Ricardo Reis de Fernando Pessoa.
O personagem retorna a Lisboa em 1936, após uma ausência de dezesseis anos, então se instala observando e testemunhando o desenvolver de um ano trágico, através do qual o leitor é levado a sentir o clima sombrio em que o o fascismo se afirma na sociedade, atrevendo- se um futuro negro da história de Portugal, Espanha e Europa.
Na biografia de Ricardo Reis e de Álvaro de Campos, ao contrário da de Alberto Caeiro, não constam as suas mortes. Por isso, após a morte de Pessoa, o outor José Saramago aventurou- se a terminar a história de um deles, o que acha que “sabido é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo”.
Neste livro o autor cria a sua versão alternativa da história, a que poderia ter sido, fazendo uso de informações oficiais e misturando-as com fontes oficiosas.
Ao retornar para Lisboa, Ricardo Reis se hospeda em um hotel onde conhece duas mulheres, as duas personagens femininas que se relacionam com Ricardo Reis. Lídia – a musa das Odes de Ricardo Reis – e Marcenda são duas personagens centrais nesta obra e neste período da vida de Ricardo Reis. Como é apanágio de Saramago, as suas heroínas são sempre mulheres fortes e decididas. Lídia, empregada no hotel onde Ricardo Reis vai viver os primeiros tempos após a sua chegada a Lisboa, é senhora de si, apaixona-se pelo doutor Ricardo Reis mesmo sabendo das diferenças sociais que a impedem de poder ter uma vida social sem ambiguidades com aquele com quem se relaciona sexualmente. Marcenda, a jovem hóspede do hotel que todos os meses vem com o pai para uma consulta médica, encontra em Ricardo Reis uma pessoa mais velha que a trata como uma adulta e não como uma criança a quem se escondem verdades dolorosas.
No decorrer da história, Fernando Pessoa aparece várias vezes para Ricardo Reis como um fantasma.
Ao decidir se mudar para uma casa e sai do hotel, Lídia totalmente apaixonada por ele, o acompanha ajudando- o nos afazeres domésticos.
Um livro pós-modernista que aborda fatos históricos entre 1933- 1934, como a ascensão do fascismo e do nazismo na Alemanha e Itália; Portugal estava vivendo um dos piores períodos do salazarismo (ditadura de Salazar); Espanha começava a guerra espanhola e a ainda eminência de uma segunda guerra mundial.
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Babi.Dias 21/04/2018

QUE LIVRAÇO!
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Dani Ramos 10/05/2018

Ótimo!
Este foi mais um romance escrito por Saramago e seu jeito único de se expressar. Feito em 1984 e cujo protagonista é o semi-heterônimo, Ricardo Reis, de Fernando Pessoa. Embora seja mundialmente famoso, eu nunca li nada sobre o poeta português Fernando Pessoa e quando ?descobri? seu modo de escrita sendo inventada por trás de heterônimos, eu achei de fato incrível! Na verdade, não sabia que Pessoa possuía tantos heterônimos assim e partir de ?O Ano da Morte de Ricardo Reis?, que aprofundei mais em seu conhecimento e história.

O livro começa com Ricardo Reis desembarcando em Lisboa, no final de dezembro de 1935, após passar dezesseis anos residindo no Brasil, sobretudo depois de saber da morte de Fernando Pessoa ? decorrida um mês antes em Portugal. Pelo contrário de todos, Ricardo Reis não sabia de fato qual era sua intenção para voltar à Portugal: rever sua terra, começar uma vida nova ou retornar pela morte do amigo. E essa é uma incógnita que levamos ao longo do livro. Apesar dessa incerteza, Ricardo Reis decidi hospedar-se no Hotel Bragança, na rua do Alecrim em Lisboa. Lá, resolve passar alguns meses como um hóspede-inquilino, e ao decorrer do tempo, nasce uma amizade entre o Dr. Reis e os funcionários do local.

Com uma personalidade quieta e solitária, Ricardo Reis demonstra seus hábitos sendo uma pessoa observadora e imaginária, muito atenta as notícias do mundo e de Portugal e mesmo sendo contra a maioria das revoluções e acontecimentos históricos, Ricardo Reis singelamente nos dá um gostinho de seus pensamentos e opiniões quando discute sobre a política do país, o motivo de ter saído de Portugal há dezesseis anos e como gostaria que o governo fosse. E quando acontece a última noite do ano de 1935, Ricardo Reis decide visitar o túmulo de Fernando Pessoa no cemitério dos Prazeres. Com efeito, começaremos a ser apresentados as melhores conversas entre o autor e seu heterônimo.

Neste livro encontramos nitidamente o fascismo dando os seus primeiros passos na Europa e refletindo em Portugal. A base histórica está cheia de informações dos acontecimentos no mundo naquele momento, guerras em seus auges, movimentos revolucionários, um novo modelo de governo implantado no país, a ?mão de ferro, mas com luva de veludo? de Salazar e muitas outras notícias. Ao mesmo tempo, temos Pessoa indicando que seu ?tempo? na Terra estava a acabar: restava apenas oito meses até desaparecer de vez e explica que tal como estamos ao ventre de nossas mães ? não fomos vistos, mas elas sabem que estamos ali ? é o mesmo caso com os mortos, até passar o tempo e eles serem esquecidos. Logo depois, temos o destaque de duas personagens fundamentais no livro: Lídia e Marcenda. Ambas, distintas, determinadas e fortes (como todas as mulheres nos livros de Saramago), levará uma importância significativa para o desenvolvimento da história. Contudo, quando Ricardo Reis deixa o Hotel Bragança e aluga um apartamento aos arredores, é onde percebemos a vida e clima curioso de Lisboa. No inverno, descrito como chuvoso e triste. No verão, um calor infernal e desanimador. Pessoas de todas as classes e jeitos expondo seus ideias e modos. Intrigas contra o governo e revolucionários e como se não bastasse, Ricardo Reis ainda é observado pela ?polícia política? da época, querendo saber qual o motivo de seu retorno à pátria. Isso e muito mais encontramos em ?O Ano da Morte de Ricardo Reis?. Um livro completo e profundo. Digno tanto do escritor que o fez, como para o escritor que foi homenageado.
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Wagner 19/06/2018

CADA VEZ A PIOR ...

(...) Tudo está cumprido, o que Cristo disse foi, palavra de honra, qualquer pessoa popular sabe que é esta a verdade, Adeus, mundo, cada vez a pior. (...)

In: Saramago, José. O ano da Morte De Ricardo Reis. São Paulo: Planeta D’Agostini, 2003. Pp 56.
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Tatiana 14/03/2019

A mudança em "O ano da morte de Ricardo Reis"
O autor não é mas aquele que cria a partir do nada, mas sim aquele que lê e transforma, atualiza, dá novos sentidos e rumos àquilo que foi lido. O autor contemporâneo está sempre num exercício de intertextualidade, para o qual ele lança mão da paródia, entre outros recursos.
O livro O ano da morte de Ricardo Reis começa pela frase “Aqui o mar acaba e a terra principia”, esta é uma inversão da premissa camoniana: “Onde a terra se acaba e o mar começa”. Através desta inversão de sentido, Saramago propõe uma visão para dentro de Portugal, ou seja, uma volta à viagem Camoniana.
O autor, aqui, esta apontando para o momento pós-colonização, e indicando o rumo da nova viagem. Portugal neste momento se encaminha em direção à Europa, ao mercado comum europeu.
Saramago parodiou não só o texto Camoniano mas também um heterônimo de Pessoa. Deu a Ricardo Reis um novo perfil, uma vez que não se conformava com o fato de um sábio como ele ser passivo e apenas contemplar a sua época. Saramago como leitor de Pessoa teve a liberdade de interpretar o seu heterônimo e dar a ele um novo contorno.
Por este novo olhar, Ricardo Reis teria uma atitude mais ativa, pois para Saramago seria inconcebível um sábio se manter passivo, talvez até indiferente, diante de sua época. “Entra-nos no corpo a tentação da mudez, a fascinação da imobilidade, estar como estão os deuses, calados e quietos, assistindo, apenas”.( Ricardo Reis: 1998:49 )
Médico, educado pelos jesuítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de contentar-se em assistir ao espetáculo do mundo, como diz numa das epígrafes do livro:
“ Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”
Aqui, porém, ele se vê confrontado com os acontecimentos de 1936 em Portugal e fora dele: de um lado, a ditadura fascista de Salazar; de outro, a gestação da Segunda Guerra mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civil Espanhola, a expansão nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundo que decerto não era um espetáculo.
Adepto de uma filosofia céptica, baseada na renúncia à ação e no aperfeiçoamento interior do indivíduo, Reis percebe que não é fácil permanecer alheio ao mundo. Quanto ao “espetáculo do mundo”, este se apresenta demasiado inquietante para que ele possa contempla-lo com indiferença.
Ricardo Reis, no livro em questão, hesita entre viver o seu mundo ou o mundo da ação. Poderíamos dizer, até, que se trata de um dilema existencialista.
Saramago faz uma releitura das situações e dos comportamentos. O que se percebe é o aspecto da mudança. Lídia a musa de Reis, pastora, submissa, passiva aparece aqui como uma mulher de carne e osso, portadora de vontades, de atitudes, uma mulher de ação. O próprio Ricardo Reis que se auto-exilou no Brasil por ser monarquista, ao final do romance apresenta-se quase como um comunista.
Lídia representa o caminho pelo qual pode surgir um Portugal novo, ou seja, a sua fertilidade, o seu filho é o próprio renascer de Portugal. Renascer, este, que vem do povo, vem de uma mulher que representa o agir, o mover-se, o realizar. Para Saramago o “progresso” português depende do agir em detrimento da estagnação.
No livro, esta estagnação é representada por Marcenda. Seu braço paralisado é uma metáfora da situação de Portugal, incapaz de mover-se, realizar, agir, ir em frente. Reis ao se relacionar com as duas e ser incapaz de escolher entre elas, nos deixa observar o seu dilema existencial: estar paralisado apenas contemplando ou mover-se, agir.
A obra O ano da morte de Ricardo Reis resulta numa reflexão sobre a identidade portuguesa e numa “contribuição para o diagnóstico da doença nacional”. Reflexão esta que começa a partir de dois pilares da cultura portuguesa: Camões e Fernando Pessoa.
O objetivo de toda a obra de arte é a mudança. É o levantamento de questões para que os leitores procurem as respostas. É tentativa de transformar a visão oficial de mundo.
Saramago propõe esta mudança partindo da transformação do ponto de vista de Ricardo Reis. O novo perfil do protagonista dá margem ao levantamento de questões que levam à reflexão de que caminho Portugal deve tomar.
Assim como na obra tudo esta em transformação: a pastora Lídia passa a ser uma mulher de vontade, o próprio Reis torna-se mais dinâmico, a intenção do autor também é provocar em nós leitores uma reação, uma vontade de modificar a realidade. Transformar a estagnação do povo português em ação, numa tentativa de buscar uma nova visão de mundo, diferente desta oficial.
Poderíamos até, concluir que todas essas mudanças feitas pelo próprio autor representem uma metáfora da sua vontade maior, ou seja, a transformação de toda uma mentalidade do povo português. Como se a obra em questão fosse um microcosmos da sociedade portuguesa, e assim como Ricardo Reis adquiriu uma nova visão da realidade, o povo português também é capaz.
Saramago acredita que a “salvação” de Portugal só virá a partir de uma atitude, de uma transformação, de uma mudança. E reconhecendo que o papel da literatura é a transformação, propõe esta virada no pensamento português através de suas obras.
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Karina.Sousa 12/02/2020

Mais um
Este foi o único livro de Saramago que li, porque fazia parte de um projeto escolar. Não me arrependo de ter lido, mas honestamente nada demais acontece... Ainda assim, é um livro que tem o seu interesse. Aconselho para quem é fã do Saramago e para quem quer aprender um pouco mais sobre o contexto histórico da Europa da época.
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Rosa Santana 15/04/2020

O título do romance já diz o que José Saramago, esse renomado autor, detentor do Nobel de Literatura, se propõe a contar nas 415 páginas que se abrem diante do leitor.
Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 19 de setembro de 1.887. De formação jesuíta, estudou Medicina e se mudou para o Brasil, em 1.919 expatriando-se espontaneamente por ser monárquico e discordar da Proclamação da República Portuguesa. Não se teve mais notícias dele. Sua poesia apresenta uma visão contemplativa do ?espetáculo do mundo?, sem nele interferir, para voltar-se ao aperfeiçoamento interno, sem paixões: uma poesia clássica, fria, sem emoção, ao estilo pregado por Horácio, descrevendo mulheres diáfanas, irreais, deusas inatingíveis. Assim criou-o Fernando Pessoa, não dando data para sua morte.

Então entra em ação a narrativa de José Saramago, que poderia nos apresentar um Ricardo Reis tal qual fora criado, mas, surpreendentemente, ele o transforma em outra criatura, transcendendo a ?original?, se assim a pudermos chamar: leva-o para Lisboa em um navio em 30 de dezembro de 1935, um dia chuvoso e frio, dois dias depois que seu criador, Fernando Pessoa, foi sepultado. Coloca-o em contato com pessoas de carne e osso, que participam ativamente da política, da vida econômica e social de Lisboa; coloca Lídia, homônima de sua personagem na poesia, que, ao contrário daquela, nutre grande humanidade em si: por ele, então seu amante, pelo irmão, pelo filho de ambos que, ao final, está em seu ventre; coloca-o de frente com investigadores de Salazar, com a pobreza da cidade; e, mais, coloca-o cara a cara com nada mais nada menos do que com seu criador, o defunto Fernando Pessoa, que o vem procurar para longas conversas acerca de variados assuntos. Mas, sobretudo, daqueles concernentes à obra de cada um deles!
Por longa pesquisa feita, o autor vai levando o leitor para o ano de 1.936, contando-lhe fatos nacionais e mundiais das mais diversas áreas; fala da eleição na Espanha, em que vence os ?comunistas?, da consequente tomada do poder pelo general Franco, implantando a ditadura; da ação de Salazar, em Portugal, também ditador; Mussolini na Itália empreendendo guerra contra a Somália; Hitler ascendendo na Alemanha... Enfim, Ricardo Reis é colocado nesse cenário de guerra e de desigualdades sociais a que Saramago sempre combate! É esse o espetáculo do mundo que ele tem para admirar. A grande questão é: como não interferir, ficar passivo diante desse quadro de violência e de matança? Apesar de não ser o frio e distante ser criado por Pessoa, em alguns momentos senti vontade de sacudi-lo e dizer: reage! porque ele sente emoção diante dos acontecimentos, embora não seja o bastante para levá-lo a ação!
Assim acompanha ele o desenrolar dos fatos: diariamente compra jornais para contemplar a maravilha do mundo; recebe a visita da amante em seu apartamento alugado, até que ela decide não ir mais vê-lo; divaga pelas ruas e conversa com Fernando Pessoa! Até que este lhe diz que não voltará mais. Então, nosso protagonista diz que se vai, definidamente com seu mestre! E morre Ricardo por não ter mais a luz do seu criador!
Saramago com sua grande capacidade de construção, foi capaz de respeitar a personalidade de cada um dos envolvidos na narrativa, mas não sem dar pinceladas filosóficas segundo sua órbita! Os diálogos travados pelo criador com sua criatura, dirigidos logicamente pelo narrador, reabilitam, ainda que de leve, aos olhos do leitor o reacionário Fernando Pessoa que, como conhecemos emitiu opiniões que nos parecem desumanas acerca de assuntos concernentes às questões políticas e sociais da época. Assim, diz FP: ... você esquece a importância das contradições, uma vez fui eu ao ponto de admitir que a escravatura fosse uma lei natural da vida, das sociedades sãs, e hoje não sou capaz de pensar sobre o que penso do que então pensava e me levou a escrevê-lo (página 384)

Quem lê a narrativa vê, com certeza, José Saramago, Fernando Pessoa e Ricardo Reis: uma soma dos três grandes escritores, como diz esse trecho ao final, quando Reis e Pessoa se despedem do leitor, se encontrando, à nossa vista, pela última vez: ?Ricardo Reis tem uma curiosidade para satisfazer, Quem estiver a olhar para nós, a quem é que vê, a si ou a mim, Vê-o a si, ou melhor, vê um vulto que não é você nem eu, Uma soma de nós ambos dividida por dois.? (Página 394). Assim também, a soma dos três, dividida por três resulta em O Ano da Morte de Ricardo Reis!

Achei delicioso me deparar com vários trechos das criaturas de Fernando Pessoa, todos muito bem contextualizados, resultado da grande capacidade de escrita de Saramago.
Obrigada, Pessoa, pela genialidade da criatura, Ricardo Reis; obrigada, Saramago, por lhe dar vida, e fazê-lo descansar em paz.
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Pê Reck 18/04/2020

O livro mais...
Difícil do Saramago que li até agora. É o preferido de muita gente que conheço, mas eu achei só ok, um Saramago, ok.
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Leonardo 07/06/2020

Referências muitas
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" é um livro complexo por envolver uma imensidão de referências literárias, históricas, políticas, ideológicas e existencialistas. Talvez por essa fama de difícil, não figure entre os mais populares do escritor na atual geração de leitores em que me incluo. É inegável, entretanto, que se trata de uma obra grandiosa.

A história se passa no final de 1935 e o ano de 1936, em pleno avanço do fascismo na Europa. A ditadura salazarista vigora em Portugal, o avanço do nazismo se intensifica na Alemanha, a guerra civil espanhola se aproxima e o fascismo italiano mostra uma de suas faces mais cruéis na invasão à Etiópia. Era apenas o fascismo que vigorava, não havia resistência? Claro que sim, porém a fonte principal de informação de Ricardo Reis era o jornal, totalmente enviesado e sob forte censura em Portugal na época. Saramago retrata Portugal como um país que se diz tão grandioso, mas na realidade é uma nação pouco influente sobre os rumos da Europa, à mercê das verdadeiras potências. Ricardo Reis, sendo um monarquista, vê tanto os movimentos fascistas quanto os de resistência como puramente republicanos versus republicanos, e não toma partido diretamente.

A solidão de Ricardo Reis mostra-se muito no lado contemplativo do personagem e torna-se exacerbada à medida que ele se entrega ao marasmo da existência. Essa monotonia é constantemente quebrada por duas personagens chave, Lídia e Marcenda, completamente opostas em suas origens e classes sociais. Lídia é um nome recorrente na obra do “verdadeiro” Ricardo Reis ("É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece, que vivemos"), porém diferente da mulher evocada pelo poeta heterônimo, a Lídia na obra de Saramago é uma mulher do povo, entregue aos prazeres carnais e crítica da realidade. Além disso, o próprio Fernando Pessoa, já morto, constantemente surge nos mais inusitados momentos para dialogar com Ricardo. Estes trechos são profundos, cômicos e tomados de ironia, com certeza os pontos altos do livro e onde a genialidade de Saramago mais se mostra.

“[...] Acima dos deuses está o destino, O destino é a ordem suprema, a que os próprios deuses aspiram, E os homens, que papel vem a ser o dos homens, Perturbar a ordem, corrigir o destino, Para melhor, Para melhor ou para pior, tanto faz, o que é preciso é impedir que o destino seja destino [...]”

Este livro contém uma série de referências, que na minha experiência não foram proveitosas. Em outras obras saramaguianas a crítica a um sistema imposto é presente, mas em geral adquire um viés abstrato e se dilui na trama. Neste livro, a menção é concreta até demais e não senti uma fluidez entre temas históricos, referências a Fernando Pessoa e as relações pessoais que Ricardo Reis constrói em Lisboa. Jamais chamaria a este livro prolixo, o que me incomodou um pouco foram as divisões até demasiadamente óbvias nos capítulos, como uma receita (x parágrafos de relações pessoais, x parágrafos de caminhadas por Lisboa, x parágrafos de leitura de notícias sobre a situação na Europa, x parágrafos de diálogo com Fernando Pessoa). Da metade para o fim certos parágrafos se tornaram maçantes e pouco proveitosos, mesmo eu parando a leitura o tempo todo para pesquisar o fato/ pessoa histórica que ele se referia. Não posso deixar de dizer que o último parágrafo é genial (o último capítulo como um todo é excelente) e a jogada de palavras entre a primeira e a última frase do livro também é algo que só um escritor do calibre de Saramago escreveria de modo tão simples e com tanto sentido.
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