spoiler visualizarHenrique965 13/12/2023
Não é uma suruba!
Certo, não sei fazer isso. Esse negócio de resenha não é comigo, mas... Sinto que se eu não deixar algo sobre essa obra a memória vai me trair, e sinceramente não gosto de ter que reler livros que realmente não me marcaram muito. Nikeche, antes de mais nada, é uma dança de amor. E faz sentido o título, porque realmente o livro é análogo a isso. Uma dança de relações, pode-se dizer até que é uma bagunça, no ponto de vista moral que temos hoje, aqui no Brasil pelo menos, esse livro soa como uma profanidade sem tamanho. E aqui cabe um ponto muito legal, é incrível como Paulina consegue escrever certas coisas de maneira tão interessante, que inconscientemente deixamos de lado o incômodo que certas cenas trazem. Vale dizer outra coisa: minha relação com a Rami no livro foi de amor e ódio. Isso porque ao mesmo tempo em que cenas mostravam claramente o quão submissa ela era, em contrapartida vinham outras adiante, e mostravam o poder que ela tinha, a liderança nas atitudes, a coragem, a força. Eu realmente fiquei fã dela ao longo do livro, me impressiona a forma com que ela lidou com certas coisas. Só o fato de ela se unir às rivais, mostra o quão além ela sempre foi, o quão sensata ela é. Certas cenas me incomodaram sim, peguei ódio do Tony, um homem que não é homem. Me incomoda também o ambiente apresentado, todo patriarcal, que praticamente cospe nas mulheres, que coloca umas contra as outras, que louva o marido como um Deus. O que o livro mostra, e isso é o que eu acredito ter interpretado, é a força e o empoderamento feminino, é lindo ver como Rami é uma mulher que, ainda que seja submissa ao seu marido em várias cenas, vai se libertando aos poucos no decorrer do livro. Foi lindo ver Tony tomando um sacode de todas as esposas no final, sendo rejeitado- afinal, o feitiço virou contra o feiticeiro. E falando nisso... o final... uma surpresa, mas ainda sim meio brochante. Eu realmente fiquei surpreso ao descobrir a gravidez da Rami, mas eu realmente queria ver o Tony morto- de verdade dessa vez (que Deus me perdoe). Mas sinto que a autora conseguiu dar um final mais cruel pra ele, a vida. A vida sem vida, sem amor, sem mulher, a vida em solidão. Esse foi o final triste de Tony, viver como suas esposas de poligamia sempre viveram- na solidão. Tony, no final, vive como Rami no começo do livro, e isso é bonito. É bonito ver o ciclo com que a autora encerra, ainda que eu prefira um final mais esclarecedor- e sinto que faltou isso, mas foi um final bonito. Eu sinceramente gostaria de ver Rami vivendo com alguém que ela merece, nem que fosse como amante de um marido das rivais- e é exatamente assim que imagino o final implícito deixado, até porquê Rami irá dizer no capítulo 40 como ela quer viver: "Amar um homem? Nunca mais! Hei de arranjar um que me ame a mim.", "Hei de ser segunda esposa de alguém, tal como dizia a Lu.", "Quero ser uma alma solta". Rami quer se libertar, acredito que ela não se casa novamente, nem com Levy nem com ninguém, irá viver como suas rivais viviam, e se repete o ciclo. Incomoda o livro? Talvez. Contar assim é estranho, é estranho dizer que Rami juntou suas rivais, e oficializou uma poligamia, é estranho dizer que existia reuniões para as esposas escolherem novas mulheres para seu marido, é estranho. É estranho imaginar um sistema polígamo, em que uma semana Tony é da Rami, outra da Ju, outra da Lu, da Saly, da Mauá etc etc etc. É muito estranho! E eu confirmo, mas... Leia, porque a autora consegue mostrar isso de uma forma que pareça menos estranho, eu realmente não consigo falar sobre esse livro sem ser julgado como um maníaco que leu um surubão.