thai 07/12/2022
Uma dança, um pedido, um apelo
É fato que ?Niketche?, ilustre obra de Paulina Chiziane, foi plenamente lido nesse ano de 2022, pelo menos entre o grupo seleto de estudantes vestibulandos ansiosos para a realização da prova da UERJ. Eu, inclusa nesse tal ?grupo seleto?, fui agraciada por uma leitura tão poética, porém, ainda assim, tão contempladora da psique feminina e, sobretudo, humana.
?Niketche? conta a história de Rami, mulher solitária e desiludida, além de presa a um relacionamento escasso com seu esposo, Tony. Acontece que Rami descobre estar inserida em uma relação poligâmica compulsória, presente este cedido por seu amado Tony. O homem da relação, na posição de merecedor de respeito e posse, entende-se por conquistador e no pleno direito de expressar suas vontades carnais e físicas. Rami se sente desolada, por um instante.
A narrativa, no entanto, muda quando Rami, decidida a se encontrar no meio de tantas mulheres, reúne as esposas de Tony em uma espécie de ?junta feminina?. Agora empoderadas pela nova faceta de Rami, as mulheres, antes submissas, entendem-se por empreendedoras e conquistadoras.
Tony, por fim, de um jeito encantador para o leitor - que, espero eu, torce pela realização de Rami ?e agregadas?- torna-se ?pequeno pequeno? ao final da narrativa, quando a questão feminina toma forma e, as mulheres, uma a uma, compreendem seu real valor.
Consigo ressaltar, assim, que Paulina, com linguagem sensível e trechos marcantes, expressa uma grande problemática não só para as mulheres do seu entorno africano, visto que cada uma das esposas do Toni tem uma descendência distinta, porém também para a mulheridade no geral. Nomeadas como ?mulheres-metonímia?, Rami, Ju, Lu, Mauá e Saly expressam o feminino geral, além de mostrar questões de gênero de forma urgente, porém acalentadora.
Ler esta obra de Paulina foi um presente pra mim, como mulher, como jovem nessa tão extenso mundo e, acima de tudo, como pessoa.