jota 13/06/2016Animalesco...A sinopse da Companhia das Letras, reproduzida aqui no Skoob, traz um bom resumo do que o leitor encontra em Animal Tropical, do cubano Pedro Juan Gutiérrez.
Apesar de conter histórias ou trechos bastante parecidos com aqueles narrados em Trilogia Suja de Havana, especialmente quando conta as ilíadas e odisseias sexuais do autor (uma máquina de fazer sexo) e da miséria em que vivem os cubanos (lembrando que o livro foi finalizado em 2000, embora as coisas não tenham mudado radicalmente com Raul Castro no poder), desta vez temos Pedro Juan aprontando não apenas em Cuba, também no verão da gelada Suécia.
Além do próprio PJG, claro, temos em Animal Tropical de um lado sua esfuziante amante cubana, a prostituta Gloria, e de outro, a pesquisadora Agneta, a mais ou menos recatada amante de Estocolmo. Duas mulheres de culturas distintas, completamente diferentes, mas somente até certo ponto, bem entendido - aquele ponto em que o autor se lança sobre elas (isso vale mais para a sueca).
Como no outro livro, estamos a um passo da pornografia - e da escatologia também - mas o que PJG faz é literatura de fato (ou alguém acha que a Companhia das Letras ia publicar um autor pornográfico?) mas de um jeito que choca um pouco o leitor tradicional - as coisas aqui são chamadas pelo nomes mesmos, não exatamente os científicos. Então os palavrões abundam...
Como em Trilogia a questão política cubana é muito pouco abordada mas isso não faz falta pois as denúncias de todo tipo saltam aos olhos do leitor enquanto PJG vai contando suas histórias. E algumas delas, mesmo trágicas ou sérias, chegam a beirar o absurdo e até mesmo se tornam cômicas ou engraçadas, depende. Como é o caso de um emprego que Gloria consegue num necrotério havanês, mas ao saber exatamente o que tem de fazer (argh!) o abandona depois de duas horas de trabalho.
Bem, PJG não é para todos os gostos e estômagos mesmo, mas é um autor vibrante, com sua ética particular, um escritor que combina ficção e realidade magistralmente, de modo a deixar os leitores sempre interessados em suas histórias, querendo mais. Na fila de leitura tenho dele ainda O Rei de Havana, mas não para já.
Lido entre 06 e 13/06/2016. Minha nota: 4,7.