Crônica da Casa Assassinada

Crônica da Casa Assassinada Lúcio Cardoso




Resenhas - Crônica da Casa Assassinada


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Gladston Mamede 30/03/2019

Um domínio do português magnífico. Passagens de um lirismo surpreendente. Mas temas difíceis. O livro nos pega pelas entranhas e, confesso, tive que ler bem aos poucos: por vezes, um parágrafo e parava. O texto é excelente, mas o enredo chega a criar repulsa. Devagar, porém, degustei esse "livraço". Agora entendo por que é tido como um dos mais importantes romances da literatura brasileira. Efetivamente o é.
Silvana (@delivroemlivro) 30/03/2019minha estante
Livro sensacional! Pena que tão neglicenciado por leitores, editoras e formadores de opinião da área literária.




Cassionei 09/03/2019

ERA UMA CASA NADA ENGRAÇADA
Crônica da casa assassinada, de 1959, foi o derradeiro romance de Lúcio Cardoso, se não contarmos o inacabado e póstumo O viajante. Alguns anos depois de publicar o que seria sua obra-prima, teve um derrame cerebral. Com metade do corpo paralisado, passou apenas a pintar quadros, com a mesma atmosfera sombria de seus escritos.

Crônica é complexa, dolorosa, perturbadora, e talvez por isso não seja tão lida. Temas como o incesto e a homossexualidade perpassam o romance que traz a história de uma família decadente do interior de Minas Gerais, os Meneses, contada por diferentes pontos de vista, através de diários, cartas, depoimentos, em um vai e vem temporal que precisa de muita atenção do leitor para acompanhar. Não há propriamente um protagonista, em que pese Nina, a esposa de um dos donos da casa, ser a provocadora de todos os conflitos e objeto de desejo ou de repulsa por parte dos demais personagens. A casa, pode-se dizer, é a protagonista (assim como o cortiço da obra homônima de Aluísio Azevedo, pois tudo gira em seu entorno. Ela mostra ou esconde os problemas, ela vê e julga as atitudes de seus moradores, ela os protege e os expõe, ela vive, ou sobrevive, e, por fim, é assassinada.

Para Gaston Bachelard, em A poética do espaço, “a casa é nosso canto do mundo”, “nosso primeiro universo”, “um verdadeiro cosmo”. É nesse mundo peculiar criado por Lúcio Cardoso (com direito a uma ilustração do próprio autor no começo do livro, mostrando a planta baixa da casa e do pátio) que acontecerão amores proibidos, ciúmes, rancores, mortes. A data dos acontecimentos é imprecisa, provavelmente no começo do século XX, num espaço de tempo de mais ou menos 16 anos. Começamos a entrar no enredo a partir do diário de André, em que relata o velório de Nina, sua mãe, que sofreu muito naquela casa (“quantas vezes não fora julgada e dissecada sobre aquelas tábuas?”) e ao mesmo relembra a relação de amantes entre os dois.

Tudo no entanto é nebuloso para o leitor. Somente os outros capítulos, narrados por diferentes vozes (de Valdo, de Ana, de Demétrio, da governanta Betty, do farmacêutico, do médico, etc.) vão elucidar, ainda que com muitas sombras, o que aconteceu naquela casa. Uma das vozes desse coro de desgraças é a de Timóteo, o pederasta que vive como que trancafiado e isolado do resto da casa em um dos quartos, com as cortinas sempre cerradas. Vestindo-se com as roupas de mulher, a figura gorda e maquiada causa vergonha para o irmão mais velho, Demétrio. No entanto, é Timóteo o único inocente em toda a trama. Não se pode colocá-lo como um dos culpados pela morte da casa.

A propósito da polifonia do romance, um ponto negativo é que todas as vozes têm a mesma linguagem. Não há diferença do uso de palavras de André e a tia Ana, por exemplo. Isso não tira, no entanto, o brilho da estrutura elaborada por Lúcio Cardoso para nos apresentar a trama. Se a casa está se desestruturando, a edificação do enredo é bem sólida.

É também Bachelard quem diz que a casa simbolicamente nos remete à proteção, refúgio. Ironicamente, a casa da família Meneses não protege seus membros, desamparados que ficam pelas circunstâncias. E ela mesmo fica à mercê da destruição, ainda mais quando se deixa ser “invadida” pelas pessoas mexeriqueiras da cidade para assistir ao velório.

Em uma entrada no seu Diário, Lúcio Cardoso comenta a publicação de Crônica da casa assinada, reconhecendo alguns defeitos e prevendo que a obra “encontraria a mesma repulsa e a mesma prevenção” que tiveram os outros livros. Se há esse desdém até hoje, por outro lado é um romance que volta e meia vem sendo reeditado (atualmente pela Civilização brasileira) e mereceu até uma adaptação para o cinema, nas mãos de Paulo César Saraceni, em 1971, com a atriz Norma Bengell encarnando a personagem Nina. Entretanto, carece de um reconhecimento maior.


site: https://cassionei.blogspot.com/2019/01/era-uma-casa-nada-engracada.html
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Adriana Scarpin 06/03/2019

É um livro imenso em sua qualidade, a prosa do autor é de uma deliciosidade entre idas e vindas de pensamentos precisos e cheios de significado, curiosamente é isso que deixa um livro um tanto inverossímil, supostamente tecido sob o soar de diversas vozes há uma certa incredulidade que todos aqueles personagens escrevessem de forma tão íntima a um escritor consumado, como se todos eles estivessem na uniformidade e pico de sua escrita. Mas enfim, esse lapso não diminui a obra-prima que de fato é.
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Silvana (@delivroemlivro) 13/11/2018

Castigo e crime
"Enquanto Ana ia falando, eu próprio revivia o ambiente da Chácara naqueles tempos, todos nós acordados encadeados a uma rede insolúvel e de sentimentos partidos, uns vigiando os outros, sentindo a tempestade acumular-se, sem que pudéssemos fazer coisa alguma, porque jamais poderíamos prever de que lado romperia o raio..."

O sol castiga o jardim, castiga a casa. A casa castiga os moradores. Os moradores castigam a si mesmos. O crime: o aniquilamento lento, asfixiante, tóxico e, acima de tudo, elaborado, obsceno. Crônica da casa assassinada é um livro sobre autodestruição.

Nina é uma força da natureza: bela, livre, implacável, reativa, misteriosa e corrosiva. Ana, na aparência, é pura convenção, por dentro é corroída por uma mistura de desejo e inveja em lenta combustão.

Demétrio, o único que não tem voz própria, também fermenta em suas entranhas substâncias tóxicas. Valdo é o mais livre dos irmãos, tão liberto quanto um Meneses pode ser. E isso fará toda a diferença em seu destino. E há Timóteo: o irmão homossexual, extravagante, travestido com as roupas da falecida mãe. A vergonha da família, vive trancado em um quarto da chácara dos Meneses. Insuspeito vórtice da morte daquela casa. Mais tarde surge André, o Meneses adolescente: uma espécie de jovem Werther com ares de Raskólnikov.

E há um jardineiro...

"(...) condenamos tudo o que amamos, primeiro à agonia de nossa admiração, depois à insânia de nossos desejos."


Nas páginas iniciais, um choque. Nas finais, um susto. Espanto esse que inaugura uma espécie de sentimento de culpa que, por sua vez, gera uma inaudita vontade de voltar à primeira página e recomeçar a leitura.

Lúcio Cardoso é um mago: sua escrita é pungente, emocional e metódica ao mesmo tempo. Bruta, refinada, elegante. A atmosfera do livro sufoca, já a escrita é oxigênio puro. Crônica da casa assassinada é considerado um dos melhores romances da literatura brasileira. Eu diria que é um dos melhores romances da literatura. Dostoiévski, Faulkner, Mann, Cardoso.
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José Ricardo 06/11/2018

Nem tudo é o que parece..

"Crônica da Casa Assassinada" traz a história da fictícia família Menezes que, em meados do Século XX, no povoado de Vila Velha, interior de Minas Gerais, vai da glória à ruína; da aristocracia à decadência patrimonial e moral.
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De elevado tom psicológico, narrado sob a perspectiva de vários personagens, ora em forma de diário, cartas ou anotações, ora por meio de lembranças, o romance toca em temas polêmicos, sobretudo para os padrões da época de seu lançamento (1959). Nele, desfilam ciúmes, rancor, casos extraconjugais, violência física, relações incestuosas, transexualismo. Tudo isso, claro, colide com padrões éticos e religiosos, o que agrava ainda mais o cenário. É como se dissesse, por traz das aparências, ninguém é são.
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O livro retrata uma sociedade hipócrita. Diz ser o que não é, e não reconhece ser o que é. Mentira, manipulação, dinheiro, extravagâncias e futilidades são instrumentos para se atingir desejos pessoais, mesmo que em detrimento do outro. O outro, aliás, não passa de instrumento para satisfação de alguns. Não há empatia. Há interesses.
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Após conhecermos os irmãos Valdo, Demétrio e Timóteo Menezes e as esposas dos dois primeiros, Nina e Ana, bem como o jardineiro Alberto, o padre Justino e André, mediante uma leitura que demanda atenção, paciência e acuidade, a sensação que emerge é de que nunca mais seremos os mesmos. Individualismo e apego demasiado a dogmas e ao dinheiro embrutece e esfria as relações humanas. Escraviza-nos e nos leva à angústia, à dor e à solidão.
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Cílio Lindemberg 01/09/2018

Como morre a casa assassinada?
Como morre uma casa? Quem pode matar uma casa? E que parte tomam (ou não) os seus moradores nessa prática conhecidamente humana? É mesmo que tudo o que tocamos está, até certo ponto, destinado a morrer? A se desfazer? A tornar pó? Há não nem um tantinho de humanidade que salve o que na pele encosta? Na pele... Se, ao considerar o título, você está se perguntando se é de morte morrida ou de morte matada que a casa é dita de ser assassinada, digo eu, pois, que leia. rs

Valendo-se de uma rica linguagem metafórica e belas descrições, até mesmo das tragédias narradas, Lúcio Cardoso nos apresenta a história dos Meneses, proprietários de uma xácara em Vila Velha, no estado brasileiro de Minas Gerais. É acerca deles, de Valdo, Demétrio, Timóteo, Ana, André, entre outros, que se desenrola a história, especialmente com a entrada de Nina, figura central e protagonista, em suas vidas.

Cheio de mistério, romance, intriga, drama e imprevisibilidade, o autor constrói a obra de maneira inteiramente detalhista, sem economizar nas relações e implicações delas nas vidas das personagens. Possuindo 56 capítulos e contada em formato epistolar, Cardoso narra o destino dos Meneses e como as suas escolhas refletem o destino que cada um teve. Entretanto, sobretudo, sua obra se concentra na casa enquanto casa, e na casa enquanto Casa.

Com que frequência ouvimos palavras que designam conceitos físicos, casa, por exemplo, e pensamos unicamente no concreto, sólido e/ou visível aos olhos? É preciso, vez ou outra, sair desse modo convencional com o qual estamos habituados a ver o mundo e “adotar” olhos outros, de modo a crescer e acrescer. Embora pouco explorada (e isto apenas por não ser tão estudada quanto os outros clássicos), Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso, nada mais é do que, como cita Milton Hatoum às costas do exemplar que li, “Um dos grandes romances da literatura brasileira. Indispensável.” Recomendo! xD
Felps / @felpssevero 01/09/2018minha estante
Achei um livro impressionante, forte, sensorial. Li há pouco tempo e ainda não consegui resenhar, porque embora eu não seja uma pessoa que se choca facilmente, mas esse livro me deixou bem chocado.

(spoiler a partir daqui:)

A única coisa que não gostei muito foi o capítulo final, que eu acho que tira um pouco do impacto da obra em nome de uma reviravolta desnecessária. Você gostou?


Cílio Lindemberg 01/09/2018minha estante
Olha... Obrigado por comentar. :) E a mim chocou também, confesso, tanto às relações perigosas (sabes a quais me refiro), quanto ao último capítulo.

Apesar das páginas que ocupou é como se não tivesse tido o desenvolvimento merecido, o fato do último capítulo. E eu confesso que achei um tanto confuso porque ora o narrador parecia falar com uma mulher, ora, na linha seguinte, com outra mulher. Por várias vezes fiquei nesse: é essa; não, é aquela; até o último parágrafo, precisamente. hsauhusas Mas eu achei que foi algo de importância que não teve aquele destaque, talvez, mais para quem leu do que para os próprios personagens...


Marcos.Nascimento 08/10/2020minha estante
Já li. Muito legal!


Cílio Lindemberg 08/10/2020minha estante
Sim, sim! *0* Espero reler um dia. ^^




Leila de Carvalho e Gonçalves 16/07/2018

A Ruína E O Pecado
Lançado em 1959, "A Crônica da Casa Assassinada" é considerado o melhor livro de Lúcio Cardoso, um escritor disposto a traçar seu próprio caminho na literatura, livre de modismos e influências.

De cunho psicológico, o romance flerta com a poesia e prima pelo clima denso e angustiante. Aliás, ele é o resultado de uma proposta arriscada para a época, a medida que mescla diferentes vozes narrativas, trechos de diário, anotações e flash-backs. Em contrapartida, seu enredo é simples, retrata a decadência dos Menezes, uma família de fazendeiros de Minas Gerais que, movidos pela inveja e ambição, acabam destruindo uns aos outros.

Atraindo interesse, está um caso de incesto numa sociedade cuja noção de pecado está fortemente enraizada pelo moralismo e a religião. Na contramão, o escritor propõe a ideia de que Deus e o Diabo, isto é, o bem e o mal, ocupam lugares opostos, isto é, "pecador é quem que se isenta de experimentar a vida em sua plenitude, ao contrário daquele que a conhece em todas suas facetas e contradições".

Essa abordagem oferece um perfeito retrato da protagonista. Nina é uma carioca ambiciosa e dona de um passado suspeito que acaba enganada pela suposta riqueza de Valdo Menezes. Quando chega à fazenda e descobre qual é a real situação do marido, ela decide se separar, mas sua presença já havia mudado a rotina do lugar. Aliás, não é só ela, todas as personagens são moldadas com perícia e um bom exemplo é seu cunhado, Timóteo, um transexual ignorado pela família que passa os dias enclausurado em seu quarto.

Na realidade, este romance não é uma leitura fácil mas asfixiante e envolvente. Cardoso sabe transportar o leitor para a velha casa e, enquanto ela agoniza em ruínas, seus sons e odores parecem brotar das páginas do livro.

Para encerrar, segue um pequeno trecho: "Deus, ai de nós, muitas vezes assume o aspecto do mal. Deus é quase sempre tudo o que rompe a superfície material e dura do nosso existir cotidiano, porque Ele não é o pecado, mas a Graça. Mais ainda: Deus é acontecimento e revelação. Como supô-Lo um movimento estático, um ser de inércia e de apaziguamento? Sua lei é a da tempestade, e não a da calma." (Padre Justino).
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jota 15/09/2017

Crônica da decadência
O poeta pernambucano Manuel Bandeira ficou bastante impressionado com Crônica da Casa Assassinada (1959), do escritor mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) e registrou: "Os personagens do romance - Nina, Valdo, Ana, o coronel, o farmacêutico, o incrível Timóteo, todos, continuam a viver na minha imaginação, inapagáveis." E também na memória de muitos outros leitores, certamente. Pois são cerca de quinhentas páginas de reconhecida escrita fina, poética grande parte do tempo.

Além de volumoso, à primeira vista o livro pode parecer de difícil leitura. Não existe um narrador único: a narrativa é fragmentada, composta por cartas, anotações em diários, memórias, confissões e depoimentos; são vários personagens, cada um contando sua versão dos acontecimentos; a ação não segue linearmente, ela avança e volta no tempo; e por último, coisas extraordinárias acontecem. Porém não se trata de uma obra confusa ou hermética, de modo algum. Embora por vezes sua densidade torne a leitura dramática, tensa, asfixiante.

O prefácio de André Seffrin (Uma Gigantesca Espiral Colorida) situa o romance no tempo e na carreira de Lúcio Cardoso. A apresentação é de Fausto Wolff, que destaca o impacto da obra nas letras brasileiras, concluindo que "Quando o leitor sair da casa assassinada, certamente não será mais o mesmo e nem verá o mundo com os mesmos olhos." Muito antes do final, quando acompanhamos os diálogos travados por Nina e Ana, um dos pontos altos do romance, já temos a certeza de que estamos diante de uma indiscutível obra-prima. Mas o final mesmo (Pós-escrito numa carta de Padre Justino) é surpreendente...

Crônica da Casa Assassinada é um mergulho numa narrativa altamente introspectiva, com toques de Faulkner e Dostoievski, conforme Benjamin Moser (o autor de Clarice,) destacou na introdução da edição americana de 2016. Faulkner parece estar presente pela atmosfera de decadência social e moral criada com maestria por Lúcio Cardoso; já Dostoievski nos vem à lembrança pelas questões postas aqui e ali pelos personagens, discorrendo sobre o bem e o mal, o pecado, Deus (e o Diabo). Pensando em autores nacionais, podemos encontrar nessas páginas elementos presentes nas obras de Nelson Rodrigues (desejo e decadência) e de Clarice Lispector (introspecção, intimismo), de quem Cardoso foi amigo e mentor.

Para voltar aos russos, a família Meneses é daquelas que se encaixam perfeitamente na frase de abertura de Anna Karenina, de Tolstoi. A que diz que as famílias felizes são todas parecidas, mas que as famílias infelizes o são cada qual a sua maneira. A história dos Meneses é marcada por adultério, incesto, loucura e decadência, não apenas pela infelicidade em estado bruto... Lúcio Cardoso nos entrega personagens torturados, desesperançados, delirantes. Gente que vive entre as sombras e pelos cantos, sempre à espera de que uma tragédia se anuncie. E ela se anuncia e se realiza.

Desse modo, ler Crônica da Casa Assassinada se torna uma aventura literária, conforme escreveu Wolff: "sem perder o domínio da narrativa, o autor lança mão de todos os expedientes (antigos e modernos e os que ele mesmo inventa) para dar acabamento à sua obra máxima." Uma aventura da qual o leitor sai altamente recompensado, como somente as grandes obras costumam proporcionar.

Para finalizar, o elogio do crítico Wilson Martins, que escreveu que Lúcio Cardoso alcançou com este livro a "difícil vitória que é a autenticidade do anormal, a verossimilhança no extraordinário. À medida que a história avança, um dos sentimentos mais vivos do leitor é a admiração pela coragem do romancista, pelo desafio que propõe e aceita, ao mesmo tempo, ao invadir um dos domínios mais turvos da literatura e da vida." Por tudo isso vale demais a pena ler esta obra-prima de nossas letras.

Lido entre 22/08 e 15/09/2017.
Arthur 13/07/2018minha estante
resenha riquíssima! adorei!




Henrique Fendrich 23/05/2017

Épico, monumental, dilacerante, à altura dos grandes russos e acima de alguns deles.
@livreirofabio 24/05/2017minha estante
É realmente muito bom.


Maria 09/08/2017minha estante
A obra do Lúcio Cardoso é realmente magnífica. "Crônica da Casa assassinada" e "A Luz no Subsolo" nada ficam a dever "aos grandes russos".




Karla Lima 09/03/2017

Um crime contra as árvores que morreram para fornecer o papel em que foi impresso
Pegue o enredo de uma novela mexicana de segunda linha, adicione os elementos clássicos de um filme de Bollywood, leve para o interior de Minas Gerais da década de 1950 e deixe fermentar ao sol. Enquanto a mistura descansa, faça uma lista de todos os chavões que já leu (para um toque extra de mediocridade, ponha para tocar uma música de letra pobre e melodia contagiante). Quando a massa estiver disforme, sem cor e sem sabor, espalhe por 500 páginas de grande formato. Não imprima. Parabéns. Você criou uma obra bem próxima de Crônica da casa assassinada, e ainda preservou algumas árvores de uma morte inútil.

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Crônica conta a história da decadência da tradicional família Meneses e não poupa o leitor de nenhum melodrama: parentescos insuspeitos, casos extraconjugais, amores proibidos, relações incestuosas, suicídio. Embora o núcleo do argumento não seja ruim, este romance caudaloso, arrastado e rocambolesco tem dois problemas técnicos e duas características que sempre me incomodam em livros.

A construção dos personagens é inverossímil, pois enormes diferenças de idade e de educação não se refletem na linguagem. Assim, temos um padre já maduro e um rapazinho de apenas 16 anos que usam “exprobar” e “aleive”, e uma governanta que usa “réprobo” e “hausto”, tem “sentimentos infrenes” e usa mesóclise – em um diário! Todos dizem “transbordamento”: não há abuso, excesso, exagero, demasia: qualquer coisa desmedida é um transbordamento. E ninguém jamais tem uma ideia fixa nem fica obcecado, cismado ou encafifado com coisa nenhuma: ficam todos “obsedados”.

A questão da estrutura é mais grave. Não existe narrador onisciente, e cada capítulo é narrado por um personagem. Até aí, tudo bem, mas só até aí. Porque os personagens não falam, eles escrevem. Portanto, o autor precisou atribuir a todos eles uma “plataforma” para essa escrita. E eis que dois personagens mantêm diários; dois mandam cartas; dois dão depoimentos; três apresentam narrativas; um faz confissões, que nada mais são do que cartas; e um último personagem mantém um livro de memórias, que nada mais é do que um diário onde não se escreve todos os dias.
Deixemos de lado o fato curioso de haver tanta gente escrevendo, numa chácara, no interior mineiro, na década de 50. Vamos acreditar que era comum que se escrevesse à beça.
Primeiro problema: o leitor jamais descobre a quem são dados os depoimentos e por qual razão; jamais descobre a quem são feitas as narrativas e por qual razão; jamais descobre quem pegou um diário, uma narrativa ou uma confissão e observou: “Nota: na margem da página, está anotado que blá-blá-blá em uma tinta diferente”.
Segundo problema: o autor precisa que o leitor saiba como A e B se conheceram. Como não existe o tal narrador onisciente, o recurso do autor é fazer com que A mande uma carta a B recordando todos os detalhes da ocasião em que se encontraram, como, quando, onde, o que vestiam, o que comeram e beberam, como estava o clima, por onde caminharam, sobre o que conversaram... Além de cansativo, é irreal supor que anos e anos após os fatos alguém pudesse citar de memória a íntegra de conversas longuíssimas. Depois o autor precisa que o leitor saiba como C se sente em relação a D. Portanto, lá vai C dar depoimentos intermináveis, preenchendo páginas infinitas com descrições de seus sentimentos. Em seguida o autor precisa que o leitor conheça o ponto de vista de E sobre certo episódio. Que fazer? “A mesma coisa, mas fala diferente” – e lá vai o personagem E escrever, escrever, escrever...
Um último ponto, que não resisto a citar: o personagem F tem um diário; na última anotação, registra que passou mal, rodopiou e tombou. Outro personagem anota em seu diário que F passou mal e morreu. Pergunto: quem escreveu no diário de F “passei mal, rodopiei e tombei”?

Crônica é um monumento ao moralismo. Uma lésbica é expulsa, um gay que se traveste é condenado ao confinamento, um caso extraconjugal é redimido pela morte e variadas moléstias justiceiras recaem sobre todos que ousam fugir às normas. Os culpados são punidos com sofrimento, desesperança e câncer. Câncer, claro, não por acaso a doença que mais se presta a alegorias rasteiras. (Para uma análise do câncer como símbolo de degeneração moral, recomendo o excelente ensaio de Susan Sontag, “Doença como metáfora”.)

Por fim, valha-me Deus, o que fazer com tanta repetição? Os “vultos que se recortam à luz da lua” são dezenas; pares e mais pares de olhos se turbam (sim, “turbam”) e a todos eles, cedo ou tarde, “sobem lágrimas”; dos “corações confrangidos” eu perdi a conta – e de outras repetições também.

Não sei por que razão este livro e seu autor são tidos em tão alta conta; se alguém aí souber, faça a caridade de me contar.
Henrique Fendrich 23/05/2017minha estante
Monumento ao moralismo? Pelo contrário, no confinamento do Timóteo eu enxergo toda a crítica possível. Afinal, é o relato da sociedade que ele se propunha a decompor. Era a Minas Gerais tradicional que, como ele disse em uma entrevista, ele queria destruir. Sem falar que é no mínimo curioso ver um dos raros livros a tratar abertamente do incesto como moralista. Inclusive, um dos motivos para o Lúcio Cardoso ter sido renegado ao esquecimento é a sua falta de moralismo. Vamos pedir para um padre ler e ver o quão moralista ele acha esse livro. Porque nem no embate entre o padre Justino e Ana o padre sai vencedor.


Helton Prado 10/07/2017minha estante
Meu Deus! Quanta asneira!
Cada um tem o direito de gostar ou não de uma obra, e isso ninguém pode contestar, e não contesto. Mas comparar essa obra à "enredo de uma novela mexicana de segunda linha", "filme de Bollywood", entre outras classificações é de uma infelicidade enorme. Respeito sua opinião, mas creio que seus argumentos são fraquíssimos na tentativa de desqualificar um dos maiores romances de um autor brasileiro (ao meu ver ele e Grande Sertão são as grandes obras brasileiras do século XX).


Geovane 12/07/2017minha estante
Achei a mesma coisa: Enrredo cheio de coisas desnecessárias e linguagem monocromática.


Karla Lima 13/07/2017minha estante
bom saber que não estou sozinha, Geovane


João 04/08/2017minha estante
Karla, você disse tudo! Concordo em gênero, número e grau. Li até a página 118 e encontrei todos esses defeitos; defeitos esses que me encobriram até o que poderia haver de bom no romance. Como parece que eles persistem o livro inteiro, vou abandonar a leitura. Não podemos perder tempo com livros ruins.


Jumpin J. Flash 02/10/2017minha estante
Concordo totalmente.


Danilo.Santos 01/11/2017minha estante
Parabéns Karla: finalmente alguém pra dizer que o rei está nu! Acabei de ler essa porcaria melosa hoje e, quando vim aqui comentar, você já tinha dito tudo. Só não concordo com a comparação às novelas mexicanas: elas são bem melhores e divertidas!!


Danilo.Santos 01/11/2017minha estante
Ah sim, além de ser absurdamente prolixo e redundante, uma das coisas mais patéticas deste dramalhão é que todos os personagens (do coronel à governanta) escrevem num português pra lá de erudito e artificial, o que apenas soa pedante e ridículo.


Gabriel.Lima 29/03/2019minha estante
Olha! Finalmente alguém com sangue comentando as coisas por aqui! Pelo que vejo, na universidade a chupação de saco do Lúcio ocorre por quatro grandes motivos:

1º Diz que ele foi uma paixãozinha mal-resolvida de Clarice.

2º Ele é um autor "pouco conhecido" e pode ser citado como "uma grande influência" da nossa "maior escritora de prosa" (o que é uma mentira, já que é imperceptível a contribuição desse merda na escrita de Clarice).

3º Os múltiplos narradores e os diversos gêneros textuais ajudam a galera a achar ele "pós-modernão".

4º Rola um boato de que ele era gay.

Tô lendo aqui. Comi toda essa pilha que o pessoal bota. Comecei a ler e, em 10 páginas, cheguei na conclusão que ninguém, absolutamente ninguém no meu grupo de leitura, tem bom gosto. Vou terminar porque sinto agonia de abandonar romances. Mas, por Nossa Senhora, que escritorzinho... Vontade de tirá-lo do túmulo pra cobrar satisfações. Começo até a desconfiar de Clarice. Digo, como ela conseguiu manter um tesão secreto por um cara que escreve mal assim?


Lu Couto 25/09/2019minha estante
O tanto que amei essa resenha!!! Conseguiu dizer tudo que senti ao final da leitura desse livro. Obrigada.


Zé - #lerateondepuder 24/05/2024minha estante
Quanta energia desperdiçada para dizer que não gostou. Poderia ter desistido e colocado como abandonado.


Zé - #lerateondepuder 24/05/2024minha estante
Quanta energia desperdiçada para dizer que não gostou. Poderia ter desistido e colocado como abandonado.


Karla Lima 26/05/2024minha estante
vc tambem desperdiçou, ao vir aqui criticar: poderia ter desistido de opinar e ignorado meu comentario, rs, mas que bom que cada um pode escolher onde gastar a propria energia!




Fred Vidal 29/08/2016

Imperdível.
Crônica da Casa Assassinada é simplesmente um livro imperdível da Literatura Brasileira. Vale muito, muito a pena lê-lo.
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Fabio 02/01/2015

Um clássico nacional
Esse livro tem muita historia antes de começar a sua historia.
Ganhei de uma namorada e quando terminamos eu ainda não o tinha lido, decidi que só iria ler quando eu a esquecesse. Isso demorou 5 anos. Peguei o livro com o objetivo de finalizar em 15, no maximo 20 dias, mas logo nas primeiras 10 paginas vi que seria impossível. A diagramação que faz uso de quase toda a pagina, o tamanho da fonte e o texto denso me fez perceber que eu gastaria muito mais do que meros 20 dias, sem contar que iriam me exigir mais atenção do que outros livros que eu costumo ler.

Crônica da Casa Assassinada é um livro difícil. Custei para vencer o primeiro capitulo, que é na verdade, um desafio, um teste para leitor, se você conseguir passar por ele, pode seguir até o final. Em outras palavras, o livro começa ruim, mas vai melhorando.

O grande destaque são os personagens. A narrativa se volta muito ao desenvolvimento destes, e com o passar das paginas o leitor vai ficando cada vez mais intimo daquelas “pessoas”. A historia gira em torno de uma família Mineira no inicio do século passado, com suas tradições e a relação entre eles. Não tem nada de extraordinário, a gente apenas acompanha a decadência daquelas pessoas que vão se afogando em seus próprios sentimentos, nem sempre altruístas.

Outro destaque é a escrita do autor, algumas partes chegam a ser poéticas. Lúcio Cardoso tem uma forma característica de escrever, ao mesmo tempo que faz a historia andar, ele aprofunda nas reflexões dos personagens gerando passagens marcantes em seu texto. O que torna a leitura um pouco lenta mas muito cativante.
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Valério 28/10/2014

denso
Crônica da casa assassinada tem o casarão dos Meneses como um dos protagonistas do livro. Tudo se passa ali, e vemos a casa ir de seus dias de glória e destaque no povoado de Vila Velha, interior de Minas Gerais, a ruína, acompanhada por seus moradores.
A tragédia é completa, e ningúem escapa.
O drama é todo contado sob pontos de vista diferentes, a partir de cartas e diários dos personagens.
Desde a protagonista Nina até o farmacêutico, o padre e o médico de Vila Velha.
E a história se revela aos poucos, dramaticamente, com o poder de transmitir ao leitor toda a carga emocional (fiquei bem ansioso com os acontecimentos).
O ser humano é exposto em suas doenças psíquicas, em suas maldades e toda a sua baixeza.

No meio de tudo isso, Cardoso é muito profundo em analisar as razões da alma, com psicologia e filosofia.
Há trechos fantásticos e de uma profundidade encantadora, como quando se discute sobre o pecado e a necessidade que temos dele.
Um livro histórico, "estarrecedor" (a presidenta nos ensinou que este termo deve ser sempre utilizado)
Uma casa arrastada ao vórtice da desgraça consumada.
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