spoiler visualizarLismar 27/01/2018
A Maior História Já Contada
O meu primeiro livro de José Saramago, e não podia ter começado tão maravilhosamente bem.
O meu interesse por essa obra partiu após ver algumas opiniões, um tanto exacerbadas na verdade, sobre esta em determinados sites, como a seguir:
"Tomara que esse escritor que se achava tão conhecedor de deus para escrever uma obra tão porca, esteje (sic) vendo a grande asneira que é usar o nome de Deus numa história tão nojenta. "
"Resposta do próprio Senhor Jesus a saramago e seus admiradores:
"“Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12:36-37).""
"Saramago partiu para a eternidade. Infelizmente, para ele, longe de Deus. Não daquele que ele classificou de beberrão de sangue e cobiçoso de poder terreno. Saramago virou as costas ao único que sempre esteve de braços abertos para ele, o Deus único e verdadeiro que providenciou a salvação em Cristo Jesus. Acabou-se Saramago no abismo do ateísmo."
E como sempre me interessei por obras polêmicas, quanto mais ardência e ranger de dentes nas pessoas certas, melhor, fui ceco conferir esse livro.
E mesmo com todo o hype, mesmo sabendo de todos os elogios de certa passagem em uma determinada barca, José Saramago ainda assim conseguiu surpreender-me e maravilhar-me com sua escrita atípica, mas encantadora.
Por falar em sua estrutura narrativa, de início pode ser difícil ao leitor que não está acostumado com as obras; os parágrafos são homeopáticos, e não há travessões ou aspas entre os diálogos, contudo, o português sempre inicia um novo com letras maiusculas, facilitando no entendimento do conteúdo; mas logo que se adapta, a leitura flui que é uma beleza.
Aqui, o autor constrói de forma impressionante os costumes, leis e culturas da época: A passagem dos sacrifícios no Templo de Jerusalém é espetacular, assim como o relacionamento de Maria com José, em, que Saramago aproveita para explorar, quase sempre com uma deliciosa ironia, a submissão que as mulheres tinham para com seus maridos. Contudo, apesar de se notar uma alta sujeição entre de Maria para José, percebe-se a existência de um grande amor entre o casal. Ponto muito alto para Saramago que não caiu no didatismo barato, armadilha contumaz a escritores bastante limitados.
A caracterização, desenvolvimento dos personagens também é feita de forma sublime. Por exemplo, a descrição de Herodes que é impressionantemente assustadora, que reflete muito bem seu estado de espírito: Putrefo, fétido, decomposto.
Quanto a Jesus, podemos dizer que é o Messias mais humano já demonstrado: Blasfema, transa e se masturba, além de ser, e porque não, um pouco hipócrita?! Prega o perdão, mas nunca perdoou sua mãe e seus irmãos por não terem crido que ele tinha se encontrado com Deus.
Mas o que adorei, o que me impressionou mesmo foram os diálogos desse Evangelho. Creio que tenha sido o livro com as melhores confabulações que já li. Principalmente a conversa entre Deus, Jesus e o Diabo. Foram praticamente 40 páginas de oratória do mais alto nivel.
Posso dizer que este é o melhor livro que já li. Pela primeira vez torci realmente pelo protagonista. Fiquei arrepiado como jesus ficou ao saber de seu destino, friamente articulado por Deus. Não importa o que fazia, quanto fugia, a Implacabilidade de Jeová é capaz de fazer corar o próprio Satã. Como o fez. Fiquei tão revoltado quanto aquele que estava destinado a ser O Cristo quando seu Pai descortinou o véu do tempo e demonstrou toda a tragédia e carnificina que seu martírio iria resultar. A lista de mortes e formas de execução citadas pelo altíssimo é aterradora.
Enfim, O Evangelho segundo Jesus Cristo considero uma leitura obrigatória para quem quiser ler a versão definitiva sobre a história mais contada do ocidente.