Leila de Carvalho e Gonçalves 23/04/2019
?Rebecca? É ?A Sucessora? De ?Encarnação?
O romance ?A Sucessora? foi lançado em 1934 e desde então acumula inúmeras edições, entretanto estava fora de catálogo desde 1996. Logo, a iniciativa da Editora Instante de republicá-lo é muito bem-vinda, permitindo a uma nova geração de leitores entrar em contato com o talento de Carolina Nabuco e a polêmica que o envolve.
Representante do modernismo, de prosa intimista e psicológica, o livro exibe da história de Marina, uma jovem recém casada que, ao regressar da lua-de mel na Europa, vai morar na mansão do marido, o rico industrial Roberto Steen.
?Ao entrar no novo lar, ela fica impactada com um imponente retrato de Alice, a primeira esposa de Roberto que falecera poucos meses antes do novo casal se conhecer. A diferença entre as duas mulheres é facilmente notada, enquanto Alice era dona de uma personalidade exuberante e ícone da sociedade carioca, Marina, criada na fazenda da família, sempre levou uma vida simples e distante dos costumes liberais das grandes cidades. A jovem é então invadida por sentimentos de insegurança e inadequação originados das insistentes comparações e até às últimas páginas é impossível prever qual rumo tomará sua vida. Será que o amor entre ela e Roberto resistirá ao fantasma de uma mulher tão especial??
Paralelamente, o romance também exibe um interessante retrato da época. Por exemplo, a falta de perspectiva de uma parcela dos ex-escravos que preferem abdicar da liberdade e continuar servindo seus ex-senhores nas décadas seguintes a Abolição. Porém, também há temas mais amenos, como as festas religiosas na roça e o pitoresco carnaval no Rio de Janeiro, regado a batalha de confetes e a lança-perfume, que não passava de uma brincadeira inocente, isto é, não era inalada e quando esguichada provocava uma sensação fria e perfumada na pele.
Quanto a polêmica mencionada, resumidamente, o best-seller inglês ?Rebecca?, lançado em 1938, foi alvo de especulações por ser muito parecido com "A Sucessora". Investigações apontaram que Daphne Du Maurier, sua autora, poderia ter conhecido a história por intermédio de Victor Gollancz, seu editor. No caso, foi ele quem recebeu e rejeitou a tradução do livro para o inglês, realizada e encaminhada pela própria Carolina Nabuco que sonhava vê-lo publicada no exterior. Todavia, colocando lenha na fogueira, o mesmo tema já fora explorado no romance ?Encarnação", escrito por José de Alencar em 1893. Desta feita, Daphne du Maurier não teve acesso à narrativa, mas dificilmente a romancista brasileira, culta como era, não lera sobre o estranho triângulo amoroso formado por Hermano, Amália e a falecida Juliana. Como afirma o jornalista e estudioso de literatura Cláudio Soares: ?Rebecca" é a "Sucessora" de "Encarnação" e vale a pena conferir.
Finalmente, ?A Sucessora? foi adaptada para telenovela por Manoel Carlos e, produzida pela Rede Globo para o horário das 18 horas, foi exibida entre 9 de outubro de 1978 e 2 de março de 1979. Já, ?Rebecca? foi adaptado para o cinema e, intitulado ?Rebecca, A Mulher Inesquecível?, foi dirigida por Alfred Hitchcock, ganhando o Oscar de Melhor Filme em 1941.
Nota: O livro apresenta capa brochura com abas, foi impresso em papel Polen Soft creme de boa gramatura e tem confortável diagramação. Fontes escolhidas: Arnhem e Adan.cg.Pro.