Queria Estar Lendo 08/06/2018
Resenha: The Falconer
The Falconer é o primeiro livro da trilogia escrita pela autora Elizabeth May. Situada em uma Escócia steampunk, essa história sobre uma guerra invisível entre o povo feérico e o mundo mortal roubou meu coração.
Aileana é uma dama da sociedade escocesa durante o dia - e uma caçadora quando a noite cai. Um ano atrás, sua mãe foi assassinada por um monstro, uma feérica poderosa e maligna que vem deixando um rastro de massacres por onde passa; Aileana passou a caçá-la desde então. Auxiliada por um feérico que pouco se importa com a própria raça, já que está em uma missão solitária particular para exterminar os seus inimigos, e através das próprias engenhosidades, Aileana vai acabar confrontando verdades que não esperava descobrir, em uma corrida contra o tempo para impedir que o mundo humano sucumba ao poder imortal.
Pense em uma história fodástica. Pensou? É essa.
"Todos acham que eu sou o único monstro aqui, mas o perigo real é aqueles que eles não podem ver."
The Falconer entrou para o meu hall de Ficções Fantásticas mais adorados; não só isso, mas também entrega uma história bem construída, personagens carismáticos, interações incríveis e uma das melhores protagonistas que a literatura já conheceu.
Aileana é tudo de poder e humanidade. Depois do trauma de ver sua mãe ser assassinada nas mãos de um monstro até então inexistente - uma vez que os feéricos são invisíveis aos olhos humanos, só detectados por mecanismos encantados ou por raros mortais que possuem a Visão -, Aileana cai de cabeça nesse mundo frenético e sobrenatural, cheio de perigos e de coisas desconhecidas. E ela se arrisca para ter sua vingança.
"Você acha que poderíamos existir sem momentos de vulnerabilidade? De arrependimento?"
Movida por esse sentimento corrosivo e crescente, Aileana encontra aliança junto a Kiaran, um feérico milenar, de passado misterioso e de objetivos ainda mais secretos. Tudo que ela sabe sobre ele é que Kiaran está disposto a ajudá-la nas caçadas, a treiná-la para se tornar uma guerreira capaz e, principalmente, a deixar seu caminho livre quando o momento da vingança chegar. Em meio às investigações para encontrar a Baobhan Sìth - nome dado à raça da feérica que matou sua mãe -, Aeliana descobre um selo que vem mantendo o mundo mágico separado do mortal; e esse selo está prestes a se romper.
Como Falconer, está em seu sangue o dever de proteger os humanos da ameaça sobrenatural; como caçadora, está em seu coração a ânsia de impedir que mais monstruosidades se espalhem pelas ruas do seu mundo. Como Aeliana, está em seu espírito garantir que mais ninguém viva a dor que ela viveu.
"Tudo se arrasta para o momento em que eles percebem que não sou a presa, afinal. Eu sou o predador."
Eu me apaixonei tanto por essa personagem que é até difícil falar mais a respeito. Aileana é forte, resiliente e determinada. Uma escocesa teimosa e bruta, aliás, sem farpas na língua quando se trata do que quer - pelo menos quando se trata de suas caçadas e de sua convivência com Kiaran e alguns outros personagens em específico.
Ela esconde todas essas características em suas andanças pela sociedade, mas os olhares das pessoas ao seu redor a veem como diferente; ela não faz parte da aristocracia, da normalidade e civilidade de Edimburgo. Ela não pertence aos bailes e aos vestidos; ela pertence às invenções, à engenharia, aos estudos, às artes milenares que Kiaran a ensinou a usar durante o combate. Lutando sempre para fazer o melhor para si mesma e para as pessoas com quem se importa, Aileana vai se ver muitas vezes confrontada entre o fácil e o correto. E isso pode acabar sendo sua ruína.
"Você me subestima," eu sussurro. "E esse é o seu erro."
Em relação ao núcleo aristocrático, muitas figuras carismáticas rodeiam a protagonista. Principalmente sua melhor amiga, Catherine, e o irmão dela, Gavin - que acaba de retornar para a Escócia e parece mais ligado a Aileana do que ela esperava.
Não espere triângulos amorosos; graças aos céus, o livro desenvolve a parte romântica de maneira bem inesperada e satisfatória. Gavin é, sim, um pretendente, mas ele está ali muito mais como apoio e amigo e confidente do que como peça no desenvolvimento amoroso. Ele é uma gracinha de personagem, amigável e simpático e corajoso na medida do esperado.
"As pessoas acham que é o amor, a ganância, a riqueza, mas vingança te dá vida. Fortalece. Queima tudo que você é."
Por falar em desenvolvimento amoroso; ah, Kiaran... Se meu coração não fosse de Jem Carstairs eu o daria pra você. Que feérico escocês cabeça-dura mais apaixonante!
Sabemos muito pouco sobre Kiaran, tal como a protagonista. Ele é um Daoine Sìth - uma das raças mais poderosas dentro do reino imortal -, e carrega esse poder nas caçadas. Também é um poço de segredos e sombras, mas está sempre presente para Aileana quando ela precisa. Não como um salvador, mas como um companheiro; ele não vai estender a mão para ajudá-la a levantar, vai incitá-la a fazê-lo porque sabe, tão bem quanto ela, que Aileana é capaz.
"Seus olhos não têm profundidade, como se estivessem em um infinito de espaço, profundo e sombrio. Exceto por traços dourados, cinzas queimando no abismo sem fim."
O relacionamento dos dois é muito importante para a história; não só emocionalmente, mas também pelas informações que Kiaran possui a respeito do que Aileana está confrontando. De colegas de caçada para confidentes, amigos e amantes, a trama desenvolve suas interações a ponto de causar arrepios em quem está lendo. É impossível, absolutamente impossível não amar os dois.
Quanto ao mundo criado pela autora - afinal, apesar de se passar na Escócia, temos um universo steampunk entremeado em uma guerra infinita entre magia e mortalidade -, é de encher os olhos; fui transportada para Edimburgo, para as paisagens frias e verdejantes e solitárias da Escócia, para cenários mágicos que ganhavam vida através da narrativa fluida de Elizabeth May. Se eu já considerava a Escócia um segundo lar graças a Outlander, agora ela é parte de mim.
"Aoram dhui," ele sussurra. "Eu vou adorá-la."
E a parte fantástica é, de fato, fantástica. Os feéricos são parte do desconhecido e por isso aterrorizantes. Não espere aquela coisa sensual e apaixonante de Corte de Espinhos e Rosas - com exceção de Kiaran e de Derrick, um pixie simpático que jurou lealdade a Aeliana (e com quem ela divide ótimas cenas cômicas) os imortais são medonhos. Toda essa ambientação deixa a história ainda mais interessante.
The Falconer é o livro perfeito para quem quer uma aventura inovadora e personagens intensos misturados à magia. Você vai terminar a leitura no chão, gritando e implorando por mais; e todo mundo sabe que só os melhores livros causam isso.
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