Mari 09/01/2010
A Náusea - Sartre
Romance de 1938, narrado em 1ª pessoa e em forma de diário, trata-se de um prelúdio do Existencialismo, que teria em Sartre (com sua obra-marco O Ser e o Nada, publicada em 1943) seu maior expoente.
A história passa-se na França e tem como narrador-personagem Antoine Roquentin, um historiador letrado e viajado, que se instala na cidade de Bouville para escrever a biografia do Sr. de Rollebon, figura pitoresca que vivera na cidade durante o século XVIII. Roquentin se decepciona não só com a biografia em que está trabalhando, mas com a sociedade e as condições humanas, sendo acometido por uma estranha sensação de aversão a existência - eis a Náusea. Essa terrível Náusea da própria existência torna a vida cada vez mais insuportável para Roquentin.
"As coisas não vão bem! Absolutamente não vão bem: estou com ela, com a sujeira, com a Náusea. E dessa vez é diferente: ela veio num café. Até agora os cafés eram meu único refúgio, porque estão sempre cheios de gente e são bem iluminados: já não haverá nem isso; quando me sentir encurralado, em meu quarto, já não saberei onde ir."
As personagens mais interessantes que passam pela trama são o "Autodidata" e Andy. As cenas com essas personagens, repletas de discussões de grande profundidade intelectual, juntamente aos devaneios constantemente narrados por Roquentin, formam o valor do romance.
"Autodidata" é um funcionário da biblioteca municipal, que se propôs a instruir-se sozinho, pretendendo ler toda a biblioteca. É um personagem humanista e socialista, contraponto claro a Roquentin, niilista e profundamente desacreditado. Roquentin acredita que o "Autodidata" não está preparado para lidar com suas idéias e com o problema da existência.
Anny é um antigo amor de Roquentin, por quem ele ainda nutria certos sentimentos e que reencontra no decorrer da história; porém, vendo-a tão diferente e desesperançada, não encontra o conforto que esperava, e eles, claramente, se perdem para todo o sempre. Ele fica muito abalado ao perceber que já não havia sentimento algum entre eles, exceto repugnância - repugnância de existir, repugnância de que outros existam, a repugnância que existe em tudo que não tem sentido. Anny é uma personagem particularmente interessante pela sua idéia da vida como interpretação: ela acredita que ocorram situações privilegiadas, que podem, através dos artifícios corretos, transformar-se em momentos perfeitos. Roquentin nunca foi capaz de fazer isso com ela, eis sua desilusão com seu próprio ideal de existência.
Após o episódio do encontro com Anny, Roquentin deixa definitivamente Bouville e muda-se para Paris. Aos 30 anos, vê-se um homem sem perspectivas, perseguido pela Náusea da existência, sem tampouco desejar morrer - "já há coisas demais sem isso."
Romance pesado e truncado, mas essencial para entrar no pensamento desenvolvido pelo Existencialismo, tão presente na nossa sociedade contemporânea.
Recomendo, além da leitura integral da obra, um passeio por http://www.mundodosfilosofos.com.br/analise-obra-a-nausea-jean-paul-sartre.htm, que contém uma análise mais aprofundada e filosófica da obra.