Camille.Pezzino 04/01/2023
RESENHA #221: RELAÇÕES PERIGOSAS
Os mistérios de Christie sempre são recheados de personagens com motivos para matar a vítima, sendo assim, sempre ficamos na dúvida de quem pode ter cometido o crime. No entanto, em O brinde de cianureto, a escritora trabalha com afinco as relações problemáticas entre as pessoas.
Não que em outros romances não se tenha, mas, aqui, todos os relacionamentos entre todos os personagens (ou quase todos) denotam problemas ou toxicidade. Há sempre uma mentira, há sempre traições e problemas estruturais. Então, o primeiro ponto desse romance é toxicidade nas relações e como essas relações tóxicas podem levar a diferentes crimes.
Por exemplo, as irmãs Iris e Rosemary foram criadas em uma família completamente desestruturada; o mesmo vale para Victor, o primo, criado somente por Lucilla que, muito mais velha e sem o marido, negligencia partes da criação dele e o coloca em um pedestal imaginário; Ruth também tem problemas com Rosemary, que a maltrata; a vítima tem um caso com outro homem, o que mostra que George, seu marido, também, além de motivos, possui uma relação complexa com Rose; os pais de Alexandra – pelo menos, a mãe – fariam de tudo para encobrir um crime, usando jogos políticos etc. Dessa maneira, Agatha Christie brinca com diferentes possibilidades de crimes, desde assalto e tráfico até assassinato e negligência política.
Todos são plausíveis e possíveis, porque ela brinca, de uma forma mais complexa e acentuada, com as relações – muito perigosas – desse romance. Não obstante, há o desprezo entre classes sociais, questões sobre maternidade, desestrutura familiar, problemas psicológicos etc.
Mas, ao meu ver, o mais interessante no título da autora é a maneira como os crimes acontecem, bem como os jogos de poder. Ao levantar suspeita de membros de uma família de políticos, a escritora aborda como as pessoas usam e abusam do poder – ou podem fazê-lo – em benefício próprio. Mesmo quando dizem que não estão fazendo isso.
Assim, a crítica, para além das relações e das possibilidades dos crimes, denota a desestrutura familiar, principalmente, no que tange ao acobertamento de crimes feitos pelos filhos. Então, uma pergunta brilhante é suscitada pela autora: se você ama seu filho, você faz com que ele pague ou não pelos seus crimes?
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