fernando 05/01/2023
excelente
Da mesma dificuldade de expressar o que sentimos, compartilha Florbela Espanca, Nesses 162 versos, apesar de, magistrais e tocantes, ela termina-os dizendo:
"A minha dor não cabe, nem nos cem milhões de versos que eu fizera."
A incapacidade do ser humano de expressar exatamente o que sente me fascina, mas a beleza de quem tenta me fascina ainda mais.
Versos de amor, melancolia, depressão, saudades e desejo, um livro leve, fluído e tocante. Recomendo.
Alguns versos pra quem se interessar:
ALMA PERDIDA
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, alma doente
D'alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
CASTELA DA TRISTEZA
Altiva e couraçada de desdém
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
?!
Se as tuas mãos divinas folhearem
As páginas de luto uma por uma
Deste meu livro humilde; se poisarem
Esses teus claros olhos como espuma
Nos meus versos d'amor, se docemente
Tua boca os beijar, lendo-os, um dia;
Se o teu sorrir pairar suavemente
Nessas palavras minhas d'agonia,
Repara e vê! Sob essas mãos benditas,
Sob esses olhos teus, sob essa boca,
Hão de pairar carícias infinitas!
Eu atirei minh'alma como um rito
Às trevas desse livro, assim, ó louca!
A noite atira sóis ao infinito