Taís 05/01/2018
Realista e atemporal
Apesar de o título do livro carregar uma data, a narrativa é atemporal, bem como seus infinitos ensinamentos.
George Orwell se mostra extremanente fabuloso e engenhoso, quando cria um personagem (diga-se Winston) baseado inteiramente em perguntas, questionamentos em que muitas vezes nem nós conseguimos responder.
Um livro duramente realístico e intimidador, conforme a leitura vai avançando nos sentimos cada vez mais parte da obra, cada vez mais sentimos as mesmas aflições que os personagens, sempre nos perguntando no final se não estamos vivendo realmente num mundo/governo de "Grande Irmão".
De fato, esse livro não é para muitos. Na verdade, acredito que poucas pessoas que o leram realmente conseguiram captar toda sua essência. O livro é uma crítica em si. Muito mais do que criticar governos, hierarquias sociais ou modelos políticos, o livro critica a nós. Aos próprios leitores. Nos traz uma reflexão imensa sobre nossa forma de vida e de aceitação para todas as coisas que nos são impostas desde o nascimento até a morte - tudo sempre foi assim, ou estamos apenas fechando os olhos para a realidade passada?
Torna questionável nossa própria existência, colocando em dúvida se tudo que vemos, sentimos, olhamos e ouvimos são realmente fatos reais ou meros devaneios.
Além disso, o livro todo discute algo altamente relevante, mas que poucos dão à devida atenção: a linguagem. A narrativa se desenvolve mostrando as modificações da linguagem e o quanto ela interfere no pensamento, restringindo ações e sentimentos. Em "Novafala" nos deparamos com um novo linguajar, cujo objetivo é restringir a liberdade de expressão, em que faltando palavras suficientes para exprimir a vontade do indivíduo, logo não há vontade alguma. Essa modificação no vocabulário, nos mostra o quanto a comunicação, o falar, é importante nas nossas relações. Não há vida sem diálogo. E sem diálogo estaríamos sendo "vaporizados". Assim, a obra nos traz grandes surpresas e reviravoltas, além do medo que vai se desenvolvendo ao passo que cada vez mais ficção se funde com realidade.