A educação de uma criança sob o protetorado britânico

A educação de uma criança sob o protetorado britânico Chinua Achebe




Resenhas - A Educação de Uma Criança Sob o Protetorado Britânico


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Lucas_Deschain 21/03/2012

A História da África, por Chinua Achebe
Chinua Achebe é um dos mais conhecidos expoentes da literatura africana. Nigeriano nascido em 1930, vivenciou um dos períodos mais turbulentos da história do continente, pois até 1960 o território era um protetorado britânico, de modo que a luta pela independência, tanto da Nigéria como de países vizinhos – entre os quais Gana é uma referência – estivesse atingindo seu sangrento ápice na época em que Chinua crescia. O autor nasceu na aldeia de Ogidi, de origem Igbo, um grupo étnico que habita principalmente a porção a sudoeste da Nigéria.
Sua trajetória de vida, profundamente entranhada nas reviravoltas políticas de seu país e do continente do qual faz parte, lhe legou um conhecimento e experiências que fazem da coletânea de ensaios A educação de uma criança sob o protetorado britânico um livro de peso. Os dezesseis ensaios reunidos no livro se remetem a um período longo, que vai desde a década de 80 até o ano de 2009.
A recorrência de temas, de questões abordadas, de análises de livros feitas e referências históricas colocam o leitor em contato com o universo que o autor abarca com sua produção literária. Há várias referências, por exemplo, ao livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad, desconstruindo a visão primitiva e selvagem que ele lança sobre o continente africano; ou mesmo sobre os movimentos nacionalistas de Gana, que se tornaram exemplo e referência para outros países também reclamarem sua independência.
Sua formação na cultura Igbo lhe serviu de matéria-prima para suas obras de literatura (e também seus ensaios) bem como para sua formação política, afinal o “mundo” como ele o conhecia tinha as raízes identitárias fincadas na cultura de seu etnia. A dialética que envolvia a relação de seu povo com as autoridades do protetorado britânico moldaram a forma como ele buscou construir seus escritos, de modo que sua concepção de literatura fosse munida de um lúcido e agudo engajamento político.
Foi principalmente a partir de sua obra-prima O mundo se despedaça (com um título bastante expressivo levando em conta sua conturbada existência) que ele alcançou maior celebridade e passou a viajar para várias universidades do mundo para falar sobre a África e sobre o cruel processo de dominação ao qual ela estava submetida. Nessas viagens ele conheceu outros autores como James Baldwin e personalidades políticas como Martin Luther King.
As posições políticas assumidas por Achebe encontram-se calcadas no modo de vida Igbo que partilhou durante boa parte da vida, e que viu ser pressionado por todos os lados, seja pelo protetorado britânico, seja pelos ânimos nacionalistas, seja pela enxurrada neocolonial que se seguiu. Assim, a cultura Igbo (bem como outras culturas ancestrais da África, por extensão) lhe servem como base e contraponto a partir do qual ele enxerga a realidade da Nigéria.
Os ensaios se detém sobre vários assuntos dentro desse escopo, desde a celebração da cultura Igbo até a visão deturpada da África em livros infantis, bem como os caminhos políticos sobre os quais a África pode andar e as lutas que tem enfrentado ao longo de sua existência. O que coroa todos os ensaios, e faz de Chinua Achebe um grande escritor, é a preocupação humanista que percorre todos os seus escritos, sem se restringir ao humanitário e sem se tornar refém de ideologias tratadas em nível abstrato.
Foi aí que Achebe ganhou minha admiração. O ensaio “A África é gente de verdade” é uma chave de leitura para os demais. Nele, Achebe levanta a voz (como o fez na reunião da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico [OCDE], em Paris no ano de 1989) para proclamar que não são problemas econômicos, nem políticos, nem culturais que fazem a África padecer. Pelo menos não entendidos isoladamente. A África não é conjunto de países, é gente de verdade, vidas reais de pessoas reais, cuja existência repousa emaranhada nesses problemas acima citados, mas que não se limita a eles.
Menção honrosa tem de ser feita também ao ensaio “O nome difamado da África”, onde o autor explora o peso histórico da herança de séculos de colonialismo, exploração e senso comum sobre o primitivismo, atraso e pobreza do continente. Abundante de exemplos, o ensaio é o encarar pungente da condição a que tem sido submetidas as pessoas da África ao longo da História da humanidade.
A extensão temporal que abrangem os ensaios possibilita a Achebe enxergar um processo histórico deveras significativo para o continente africano, que vai desde os tempos tribais até os tempos neocoloniais, onde novas formas de dominação têm subalternizado diversos aspectos da vida africana.
Tudo isso faz de Chinua Achebe uma das vozes mais relevantes da história desse continente e de seu povo.
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