Suruassossaurus 02/03/2024
A jornada pessoal de um samurai atrás da excelência
É estranho pensar que a maioria das obras japonesas que chegam até nós são, pelo menos na minha bolha, mangás e jogos. Pensando aqui este é o segundo livro de um autor japonês que li (o primeiro foi Battle Royale, de Koushun Takami) e, após ler Mushashi: A Terra ? A Água ? O Fogo, me questiono quantas outras obras interessantes desconheço, que foi mais uma excelente surpresa.
Sem se atentar muito à infância ou a um clima mais calmo para introduzir o leitor à trama começamos direto após a batalha de Sekigahara com o protagonista Takezo, futuro Musashi, e seu amigo Matahachi, acordando e se dando conta que de alguma forma sobreviveram. Os jovens que buscavam glória e riqueza na guerra recebem uma nova chance e cada um segue um caminho diferente, nos introduzindo personagens novos e seus dramas.
Não apenas de embates de katanas a história se sustenta. Me surpreendi pela quantidade de tempo dedicada à contemplação por parte de Musashi. A natureza, a civilização, as artes marciais, até mesmo as ocupações mais mundanas, como trabalhar com cerâmica, vira alvo da análise e do estudo do samurai que busca, através não apenas de embates contra guerreiros habilidosos, a maestria em sua arte.
Todavia ele, e na verdade praticamente nenhum personagem, é um exemplo de pessoa íntegra. Os personagens tornam-se críveis por suas diversas facetas e defeitos e o maniqueísmo que algumas obras históricas costumam ter não existe aqui. Musashi é alguém que por vezes sofre por ter escolhido um caminho solitário, pela ausência da mãe durante sua infância e pela agressividade do pai, todavia ele próprio se sabota e afasta (e mesmo foge) de pessoas que nutrem estima por ele e o querem perto, aceitando até mesmo a vida de andarilho. Desta forma o Jotaro, a viúva Okoo e sua enteada Akemi, a órfã Otsu, a velha Osugi e o Tio Gon, parentes diretos de Matahachi, somam à trama e geram eventos tão diversos que é difícil se entediar nesta leitura. Aliás, embora o livro seja sobre Musashi, meu personagem favorito é o monge Takuan, com seu jeito amigável e, por vezes, imprevisível de agir. Ainda que seja alguém amigável e de bom humor a maior parte do tempo é alguém ao mesmo tempo capaz de ajudar e punir as pessoas em prol do que, aos olhos do budismo chinês e de sua vivência de cidade em cidade, acha que seja o correto a fazer.
É uma leitura muito divertida e curiosa através da qual me foi possibilitado conhecer um pouco da vida japonesa nesta época. Comidas, costumes, festividades, religião, vestimentas, política são descritos sem se tornar cansativo e tornando a experiência mais rica.
Acho que o único ponto que me ?desanimou? um pouco é que há um duelo prometido há por um longo tempo e o livro acaba quando ele está prestes a ocorrer, me fazendo ficar mais ansioso ainda para ler a continuação.