Coruja 07/05/2014Eu comecei a ler
O Jogo do Exterminador quase que ao mesmo tempo em que terminava
A Sombra do Vento - que foi minha última resenha. O Duda foi quem me emprestou esse volume (por isso cabe também na presente rodada do desafio) e eu o joguei para o início da minha fila de prioridades porque queria conhecer a história antes de assistir o filme.
A polêmica em torno da homofobia do autor também me chamou a atenção. Pelo que entendi do rolo todo, minha conclusão é Orson Scott Card é na verdade um completo maluco: ele já fez comentários sobre como o 11 de Setembro era algo necessário para dar uma justificativa para a caça aos islâmicos (?); comparando Obama com Hitler e afirmando que o presidente vai começar algum tipo de guerra de gangues contra seus inimigos (??) e sobre como o casamento gay está solapando a idéia de democracia (???).
Em todo caso... Duda me emprestou o livro antes de eu saber de toda essa confusão, mas quando comecei a ler, já tinha ouvido falar do Card o suficiente para prosseguir com cautela. Ao final das contas, contudo, posso dizer que o fato de achar o cara um imbecil não afeta o desfrute da história.
O Jogo do Exterminador é, certamente, uma das melhores e mais vibrantes histórias de ficção científica que já li. E vou confessar que não sou comumente uma fã de ficção científica – minha preferência sempre foi pela fantasia.
A história se passa num futuro pós-invasão alien, com o mundo dominado por uma organização militar que serve de defesa contra a possibilidade de uma repetição do episódio. Ender, o protagonista do livro, é um garoto de seis anos que é basicamente um gênio tático militar e, pela forma como se fala dele na história, o messias encarnado.
Não falo no sentido religioso, mesmo porque a ideia de religião é considerada tabu no universo da história. Mas Ender basicamente nasceu das tentativas de encontrar um novo grande comandante que possa liderar as forças humanas contra os ‘abelhudos’ (e devo dizer que embora os aliens aqui pareçam bem ameaçadores, achei um pouco difícil levá-los a sério com esse nome...).
Para tanto, Ender vai para a Escola de Guerra onde aprenderá tudo o que é necessário para ser esse comandante, embora não entenda completamente o que está acontecendo e seja constante manipulado para desenvolver as habilidades de que tanto irá precisar no futuro – isso é, se ele for, de fato, aquilo que a Esquadra Internacional precisa.
O Jogo do Exterminador é, francamente, brutal, em sua forma de expor toda a questão. Eu passei boa parte do livro me questionando se a ameaça de uma nova invasão era real ou uma desculpa para manter o controle político; se os fins justificam os meios na forma como as crianças são usadas como armas, como são encorajadas a um nível de sociopatia assustador.
Ender, em particular, está constantemente se questionando, em pânico com a possibilidade de se tornar como o irmão mais velho, de não apenas sentir facilidade em matar, como de gostar, de sentir prazer na violência. Seu dilema moral, sua luta para manter sua independência, seus valores, para aprender, para se defender, até mesmo para alcançar os outros meninos, não apenas ganhando o respeito, mas também a amizade deles – tudo isso nos prende, do começo ao fim.
E aí quando chega ao fim... quando chega ao fim, eu confesso que fiquei de queixo caído, sem acreditar no que acabara de ser revelado.
É interessante que, lendo
O Jogo do Exterminador, eu não encontrei nenhum das idéias peculiares que Card defende hoje em dia. Pelo contrário, Ender me passa a impressão de ser a favor da tolerância – de gênero (vide sua relação com a irmã, Valentine, e com Petra na escola), de religião (seus pais, Alai), de raça (de uma maneira mais extrema, não cor de pele, mas humanos contra alienígenas).
Por mais que não vá com a cara do Card, eu certamente indico o livro. A idéia toda é bastante original e o desenvolvimento dela é absolutamente fascinante.
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http://www.owlsroof.blogspot.com.br/2014/04/clube-do-livro-abril-o-jogo-do.html