Gabriella 07/08/2021
"Convivi tempo demais com a dor. Sem ela, não vou saber quem sou"
Não costumo ler sci-fi (nem sei se já li algum além desse) então não tenho como comparar muito mas eu gostei desse livro. Até mesmo para quem não gosta/costuma ler o gênero é um livro bom. A leitura flui muito fácil - eu demorei para acabar esse livro mas foi mais uma coisa minha - e o escritor equilibra muito bem o tanto de coisa que acontece no livro com se aprofundar no personagem do Ender.
Cada capitulo do livro, desde o começo, temos uma curta conversa entre dois homens que com o decorrer vamos entendemos mais e sabendo mais sobre quem eles são. Porém a historia é toda do Ender. Os outros personagens são apenas pessoas na vida dele, e é assim que a enxergamos. Exceto pela irmã do Ender, a Valentine, que ganha um pouco mais de profundidade por um período do livro, mas de qualquer maneira o Ender é o centro aqui.
Ele é um "terceiro" (terceiro filho, que é algo digno de preconceito nesse mundo, algo incomum) e no mundo apresentado, o governo, que o livro fala de modo que o entendemos (mas não é tão explorado) monitora as crianças com literalmente um monitor que passa para eles tudo que eles pensam/fazem/veem e conforme eles vem o potencial na criança, o monitor vai ficando. Até eles acham alguém a altura e levam a pessoa para a escola de combate, em uma nave no espaço, para treinamento - e detalhe a criança nao ve/fala mais com a família até se formar.
E é assim que acompanhamos Ender, que nunca teve uma vida boa/leve. Na escola o menino sofre bullying e em casa a mesma coisa, pelo irmão Peter, que é um mini psicopata que odeia ele. A única pessoa que ele conta é a irmã.
Até que ele é escolhido para a escola de combate e lá, adivinhem, ele sofre ainda mais.
É bem legal acompanhar a jornada do menino, o livro tem muitos cenários diferentes. Muita coisa vai acontecendo e mudando. Orson sabe escrever passando o tempo de forma natural e narrando muito bem os fatos acontecidos.
Ender é um menino inteligentíssimo e é maravilhoso ver como ele lida com as situações da vida, ele é muito bem escrito, equilibrado em sua mente em atitudes entre a criança e a não criança que o obrigaram a ser. Gosto muito de como o Ender olha (e reflete) para o mundo.
Os cenários em que ele vive são bem interessantes, tudo que ele tem que passar e enfrentar. Os jogos, os combates. O livro me surpreendeu bastante e eu nunca sabia pra onde ele ia e o que ia acontecer.
Os abelhudos (alienígenas) são muito bem pensados aqui... muito interessante. Quem eles são, como agem.
O final é muito legal. Gostei muito de tudo que aconteceu.
Recomendo muito esse livro, mesmo para quem não é fã do gênero, é um livro legal de ler. O próprio escritor diz que a acessibilidade do livro é proposital, para que qualquer pessoa pudesse ler e entende-lo.
Você pode ler e ficar tipo "ok, que estória ótima" e seguir sua vida mas também se parar para refletir sobre toda abordagem do livro - gera uma ótima reflexão (acerca de muita coisa). O escritor conta varias maneiras que o livro foi interpretado e usado.
Para quem tem no livro, a introdução do Orson é muito MUITO boa. É interessante que ele começou o livro todo pela ideia da sala de combate (que é ótima), ideia que fluiu na mente dele aos 16 anos; e ao ler e estudar e refletir e afins, sobre liderança militar, treinamento militar e o futuro surgiu a sala de combate do livro, que moldou o resto da historia.
Além disso, a ideia de usar crianças: para mim a primeiro pareceu irreal, principalmente Valentine e Peter e tudo que eles fizeram. Porém, lendo sobre a carta que um grupo de crianças superdotadas enviaram ao Orson, comecei a ver o livro como algo real e possível - gostando mais ainda que elas fossem usadas. "O jogo do exterminador insiste em tratar as crianças como pessoas" "Forcei o publico a ver a vida dessas crianças daquele ponto de vista - o ponto de vista a partir do qual os sentimentos e as decisões delas são tão reais e importantes quanto os de qualquer adulto"
"A estória de O Jogo do Exterminador não é este livro (...) é aquela que você e eu vamos construir juntos em nossa memoria. Caso a estória signifique algo para você, então, quando se lembrar dela depois, pense nela não como algo que eu criei, e sim como algo que fizemos juntos." - O.S.C