Paulo Silas 12/01/2020O livro reúne 50 dos 154 sonetos que foram escritos por Shakespeare, abrangendo assim quase que um terço de toda a produção do escritor nesse estilo de escrita. Trazendo tanto os sonetos em sua versão na língua originalmente escrita, como nas traduções para o português feitas por Ivo Barroso, essa edição permite ao leitor ter o contato e apreciar a forma com a qual Shakespeare trabalhava a composição de seus versos poéticos. É um livro que traz, portanto, a veia poética num estilo próprio de um dos maiores autores da literatura mundial.
A escrita, o amor, o sentimento de pertença, memórias, a morte, alegria, tristeza e a angústia são algumas das questões que aparecem nos versos de Shakespeare, sempre trabalhados com esmero, de maneira reflexiva e tocante. São versos que convidam o leitor a se perder em meio aos sentimentos que deles surgem, a viajar pelos pensamentos que de cada linha se originam, a voar longe pelas abstrações e concretudes que se tornam possíveis pela poesia do autor. Cada soneto acarreta nesse pelo menos mínimo refletir. Veja-se o soneto 12 como exemplo:
"Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir no carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza não questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate"
A edição da obra conta com uma nota introdutória de Ivo Barroso, responsável pela tradução dos sonetos, onde é narrada a pequena história de como se deram as traduções. Há também o prefácio feito por Antônio Houaiss em que se evidencia o primor do trabalho de tradução que foi realizado: "o leitor se comprazerá, por certo, na leitura dos sonetos de Shakespeare na recriação de Ivo Barroso, pois verá que são criaturas - a palavra é perfeita para o caso - que vivem vida vital em língua portuguesa. Mas se comprazerá mais ainda quando se puser a observar os prodígios de correspondências ou compensações isotópicas que foram consumados na transfusão tradutora". Há ainda, logo após os sonetos, para finalizar a obra, um estudo do soneto shakespeariano, assinado por Nehemias Gueiros, que fornece diversas e preciosas informações acerca do universo poético de Shakespeare nos sonetos. Uma edição rica, portanto, que vale a leitura!