Marian 27/03/2016Os Sobreviventes - A Tragédia dos AndesEm meio à tragédia, não era o otimismo que imperava. Era a Fé de muitos! Como uma prece de esperança.
"Era uma obrigação moral viver, por consideração a si próprios e por consideração às suas famílias." (pág. 69)
Livros de ficção são ótimos passatempos. Mas livros verídicos são inestimáveis!
O que era pra ser uma simples viagem de avião, tornou-se uma tragédia de infortúnio terror. Em 13 de Outubro de 1972, uma pane no avião causada por uma falha no motor, levou o avião da força aérea do Uruguai Fairchild 571 a cair no pico de uma montanha gelada nos Andes chilenos. Havia 45 passageiros a bordo. Entre eles jogadores de rúgbi, parentes, amigos e conhecidos. A dor da perda daqueles que se foram imediatamente a queda do avião poderia ser um alívio se eles pudessem prever o sofrimento dos dias que se seguiriam. Rodeados apenas de neve. Nenhuma forma de vida à vista. Escassez de alimentos e muitos feridos gravemente. Estudantes de medicina tomaram a frente e tentaram da melhor forma confortar e manter os sobreviventes, que recebiam pedaços mínimos de chocolate e uma pequena dose de vinho para continuar vivos. O alimento não era consistente e não duraria muito tempo. O frio era um problema digno de preocupação por parte de todos. Não havia cobertores, nem roupas suficientes para que se pudesse aquecer da neve. À medida que os dias passavam, as esperanças iam se perdendo. Com 8 dias, em vista dos resultados negativos, os chilenos cancelaram as buscas e os passageiros foram dados como mortos. Aqueles que ouviam pelo rádio do avião, caíram em desespero. Não havia nada que pudesse ser feito. Com o fim da comida e uma reunião convocada dentro dos destroços do Fairchild, os sobreviventes discutiram o problema que enfrentavam. Para sobreviver, deveriam comer a carne dos corpos dos mortos que se mantinham amontoados na neve do lado de fora do avião. Se não comessem, morreriam. A antropofagia tornou-se um ato que não podia abster-se. Foram obrigados a viver nas mais extremas e desumanas condições. Manter-se vivos era a questão. Entrando em acordo entre si, os sobreviventes decidiram que comeriam os mortos, pois ali só restava o corpo, a alma há muito já se fora. Alguns se agarravam a esperança de um resgate, outros já perdiam a fé. O resgate que era esperado não viria. Muitos, divididos entre a repulsa e o pecado se apavoraram com a ideia do canibalismo. Muitos acreditaram que a virtude estava na luta pela sobrevivência, que Deus não os puniria por tentar salvar-se e que as almas dos mortos já estavam salvas.
Alguns desejavam morrer, sufocados pela neve, tal a dor de suportar a perda de amigos. O sofrimento físico e espiritual era inimaginável. Sem esperanças, com a fé abalada, e sozinhos, os que ainda se mantinham fortes o suficiente, decidiram encontrar uma saída por si mesmos. Eles iriam conseguir se salvar. Seriam sobreviventes. "Escapar: era essa a obsessão dos novos otimistas." (pág 74)
"Em situações como esta, nem mesmo a razão pode compreender o infinito e absoluto poder de Deus sobre os homens. Nunca sofri como agora - física e moralmente -, embora nunca tenha acreditado tanto nele. (...) A vida é dura mas é digna de viver. Até mesmo sofrendo. Coragem." (pág 128)
É um livro com momentos fortes, intensos e constantemente repulsivos, mas trata de uma época real. É um livro memorável. Um livro digo de aplausos. Escrito com maestria. História traumática, porém infinitamente tocante. Heróis esquecidos, heróis invisíveis, pessoas que esqueciam de si para salvar os outros.
É um livro que mexe com as emoções. Não de forma carinhosa, romântica. Mas com fúria de lamentações por tantas vidas perdidas.
"A gente se lamenta de tantas coisas... Espero ter uma chance de corrigi-las." (pág 98)
Leiam. Uma leitura que deve ser lembrada e guardada na memória.