Guilherme 23/08/2018
Pink Floyd - quando os gigantes caminhavam sobre a terra.
Aquela velha frase de que "o rock morreu" hora ou outra sai da boca de algum roqueiro sexagenário, arrotando amargura e nostalgia dos anos passados. Por muito tempo eu achava isso uma bobagem, que o rock'n roll continuaria vivo enquanto algum adolescente revoltado descarregasse sua ira juvenil ouvindo algum disco do Nirvana. Mas quanto mais o tempo passa, mais sou convencido de que sim, o rock morreu, ao menos a concepção de "rock'n roll" que temos não existe mais.
Pra começar, acho que todo fã de rock de hoje em dia é um nostálgico nato. Desde o cara velho que viveu tudo aquilo até às gerações xis ípsilon zê, que descobriram esse mundo mitológico nas páginas de revistas extintas e discos velhos. Eu mesmo, descobri tudo isso aos pouquinhos, num mundo sem internet (é, não sou tão jovem assim), fragmentos de músicas, fotos e vídeos que iam construindo um mistério e fascínio gigantescos por figuras do rock. Aquela maquiagem bizarra do Kiss, Kurt Cobain destruindo sua guitarra no palco, as mensagens subliminares ocultistas nas obras do Zeppelin. Tudo era fascinante e misterioso.
Esses personagens fazem parte de um outro mundo, que não existe mais. O público mudou, os artistas também. Na sua busca por originalidade e relevância artística o rock foi ficando cada vez mais distante do público ou mais açucarado para atingir públicos maiores. O resultado disso é que não temos mais o gênero como protagonista na cena atual da música pop, mesmo com bandas clássicas enchendo estádios ao redor do mundo com suas músicas imortais, não houve uma renovação relevante no rock desde o grunge, lá no começo dos anos 90. Vão-se aí quase 30 anos sem grandes novidades.
Isso é ruim? Essa pergunta não tem uma resposta, talvez sim ou talvez não.
Toda essa introdução serve pra começar a falar sobre o livro que acabei de ler, "Nos Bastidores do Pink Floyd", biografia que destrincha de maneira muito parcial todas as fases da banda, do nascimento dos integrantes até meados de 2007.
O Pink Floyd é e sempre foi a minha banda favorita, na minha opinião não tendo rival em qualidade e originalidade. Nesse quesito a banda se mostra um personagem ímpar na história da música pop. Mesmo entregando obras irretocáveis e lendárias, o grupo nunca se deu muito com o estilo de vida típico de grandes nomes do gênero, com festas luxúriosas e toneladas de drogas.
A finesse britânica dos integrantes, criados em meio a pompa acadêmica de Cambridge, na Inglaterra, estudantes de artes e arquitetura que viveram a ascensão e declínio do movimento hippie. Do florescimento da rebeldia contra o sistema, regados a drogas e amor livre até a ressaca do declínio do sonho de paz e amor. Tudo isso serviu de pano de fundo para a ascensão do Floyd que nasceu e foi até o final de sua jornada sendo inovador.
Por detrás de uma muralha de isolamento a banda entregava discos regularmente, um sobrepondo o outro em questão de qualidade e popularidade. E nesse ambiente aparentemente fértil para a criatividade, os egos iam crescendo e tomando formas abissais, o que resultaria em despedidas amargas e máguas que perseguiram os integrantes da banda para sempre.
O Floyd faz parte de uma geração de bandas que fazia o experimentalismo e erudição o ingredientes comuns em mega hits radiofônicos. Álbuns conceituais, músicas de 15 minutos e shows grandiosos que eram consumidos por milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo. Isso tudo também não existe mais.
Esses conceitos não são mais tão bem vindos assim, e boa parte das bandas antigas que amamos viraram objetos de adoração de velhos e novos fãs, um certo mundinho que "não é pra qualquer um". Um pouco egoísta eu sei, mas meu instinto hispter exclusivista não deixa de gostar disso.
O rock talvez tenha morrido, mas nossos heróis de outrora continuam povoando a nossa imaginação.
Long live to rock'n roll.