Leticia 08/08/2020Estamos fadados à repetição?O mundo como conhecemos foi devastado por uma guerra nuclear. No século 26, a ciência e a tecnologia são repudiadas, o conhecimento é tratado como uma espécie de “pecado”. Por isso, a parca documentação que sobrou é guardada em mosteiros, como uma forma de ser preservada e estudada.
O livro é divido em três partes (Fiat homo, Fiat lux e Fiat voluntas tua) e todas se passam no Mosteiro da Ordem de Leibowitz, em intervalos de mais ou menos 600 anos. A escrita é recheada de referências bíblicas e de críticas à religião e à ciência.
Um dos fios condutores da história são as tentativas dos monges em decifrar o que diz essa documentação antiga, tratada como “relíquia”. Interessante também a atmosfera de tensão que se estabelece nas relações entre os monges e deles quanto ao conteúdo dessa documentação.
Eu adoro esse o tipo de leitura: as descrições, os diálogos, os temas, tudo vai deixando o leitor imerso numa reflexão crescente e, de repente, o livro te entrega uma cena bizarra, uma frase engraçada, que te tira do torpor.
Recomendadíssimo, um clássico da ficção científica, filho único de Walter Miller Jr..
Segue o trecho de destaque (eu teria pelo menos uns 10):
“Os homens, quanto mais se aproximam de um paraíso por eles mesmos construído, mais impacientes parecem ficar com a sua obra e consigo próprios. Fizeram um jardim de prazeres e, progressivamente, tornaram-se infelizes à medida que crescia em riqueza, poder e beleza; talvez, porque então foi-lhes mais fácil ver que algo faltava nele, alguma árvore ou arbusto que não crescia. Quando o mundo jazia na escuridão e na tristeza, era fácil crer na perfeição e desejá-la ansiosamente. Mas quando tornou-se brilhante com a inteligência e as riquezas, começou a pressentir a estreiteza do fundo da agulha e a exasperar-se, pois nada mais havia a esperar. E agora iam destruí-lo outra vez — este jardim do Paraíso, civilizado e sábio — iam outra vez dilacerá-lo, para que o Homem pudesse voltar a esperar no meio da escuridão angustiosa”.