Katia Rodrigues 13/03/2021
Seu dotô me dê licença
Dono de uma poesia deliciosamente sonora e musical, herança de sua experiência como violeiro-cantador, Patativa do Assaré aborda com ternura, em sua criação poética, a força telúrica da cultura nordestina, o humor, o social, o folclórico e o romântico. Ao contrário do que se possa pensar, o poeta não foi um sujeito sem letras. Sua voz transitava entre a forma culta e a matuta, a depender do público e da mensagem.
Era um leitor ávido. Leu os poetas românticos, elegendo Castro Alves seu predileto, por sua poesia de denúncia e protesto. Por consequência, as questões sociais demarcaram de forma irrefutável a poesia de Patativa. Elas aparecem alicerçadas por um engajamento genuíno que foge da retórica vazia e se enche de um sentimento de pertencimento, de cidadania.
Vale ressaltar as belíssimas palavras do professor Gilmar de Carvalho, estudioso da obra de Patativa: “Patativa não é pássaro por acaso. Talvez nunca tenha tido uma simbiose tão forte entre pessoa e epíteto: é como se, magicamente, ele abdicasse da sua condição humana para gorjear poesia. Canto que traz, de modo contundente, a complexidade das questões filosóficas da dor, da finitude, do amor e da cidadania”.
Essa coletânea, organizada pelo escritor Cláudio Portella é uma excelente forma de conhecer um dos maiores poetas populares do mundo.