luci 15/06/2012
uma histórias das muitas histórias.
Há muitas maneiras de se escrever uma história. Deixando de lado os já proclamados erros factuais, listados em qualquer site por aí, a construção do texto de Spitz tem uma fórmula óbvia.
Após tantas décadas desde o final da banda, era de se esperar que algúem, por fim, conseguisse contar a história dos quatro caras de Liverpool que, com suas individuais histórias de vida, acabaram por formar, reinventar e terminar a maior banda da história da música até os dias de hoje. Bom, isso continua a ser esperado, porque não é ao que se dedica o livro de Spitz. Bom vendedor de seu material, o autor conta a história a partir do mito, lançando o recurso da leve distorção dos fatos e da construção narrativa parcial para incrementar uma história que, honestamente, não precisa disso. Desde o início, sua história caminha para a contrução do ponto de vista que carrega, e que não deixa muito espaço para a interpretação dos leitores. Desde o começo, Spitz escolhe as palavras e constrói seus parágrafos de modo a apontar para o culpado da separação da banda - notadamente John Lennon, cego pela influência de Yoko.
Apesar de não enxergar a história dos Beatles desta maneira, entendo que outros fãs a entendam desta forma. Eu sou fã dos Beatles, e, especialmente de John. O problema aqui é o esforço quase caricatural do autor em provar seu objetivo desde o começo, tornando-se quase insultante do meio para o final do livro. Em certas horas, não pude evitar achar graça da insistência dele em construir - de novo - mito de Yoko Ono, como destruidora dos Beatles. Se Paul e George brigam, a culpa é de Yoko. Se Eastman e Klein chegam às vias de fato, demonstrando a desarmonia e agressividade que já existia entre os 4 beatles havia muito, a culpa, novamente, é de Yoko. Spitz se esforça tanto em contar a história que todos querem ler, que às vezes parece até um pouco ridículo. Sem mencionar a confusão de citações que ele justapõe, de qualquer forma. Acompanhando as citações e as referências, a história que ele quer contar se torna mais clara.
No meu ponto de vista, qualquer iniciativa que se proponha a mergulhar nesse terreno perigoso que é a história dos Beatles - O Mito merece crédito. O esforço, a dedicação são incríveis. Mas, passadas tantas décadas, acho que os fãs de música merecem alguma coisa que fuja do clichê e da displicência. Seria bom a recordação de que os Beatles foram 4 jovens e não apenas 2 egomaníacos desde o começo. Onde está o Ringo neste livro? A única parte essencialmente dedicada a ele é o resumo da história de sua vida até entrar na banda. Depois, ele é apagado completamente, sendo usado apenas para corroborar fatos e opiniões sobre a vida dos outros.
No fim, fiquei com a impressão de que The Beatles - A biografia podia ter sido escrito por uma daquelas meninas de 13 anos que acompanharam a banda de perto, arrasada porque eles tinham se casado, ou se divorciado, ou tomado ácido. Muitos preconceitos tingem as páginas, dando um tom irritantemente conhecido à história.
Seria de bom tom, pra variar, reconhecer que cada biografia é, em si, uma resenha.