Ique 24/06/2012Garotas de Vidro - Blog Entre Páginas de Livros Um livro perturbador que é capaz de tirar o sono de muitos leitores. Em sua própria visão, Lia nos conta o drama de sua vida, desde que começou a lutar contra a balança.
Lia é uma jovem de apenas 18 anos que está cursando o último ano do colégio. Porém, nos últimos meses ela está doente, com anorexia. A garota tem 1,65m de altura e está obcecada a ficar cada vez mais magra. Ela conta todas as calorias dos alimentos que consome, e procura sempre comer o mínimo possível e tomar muita pouca água.
Isso tudo começou a partir de uma aposta feita com a sua melhor amiga, Cassie, quando na virada do ano elas fizeram uma aposta para ver quem ficaria mais magra, e consequentemente perfeita, na visão da sociedade. Só que para conseguir cumprir isso, elas viverão o maior pesadelo de suas vidas. Esse fato foi uma das causas que distanciou a amizade das garotas, elas eram amigas a mais de 9 anos, porém a preocupação da família de Cassie falou mais alto para separar a amizade das meninas por um tempo.
Poucos meses depois, Cassie foi encontrada morta em um quarto de motel, sem nenhuma explicação evidente. Isso abalou a todos, principalmente a Lia, pois a sua amiga havia ligado para ela 33 vezes antes de morrer pedindo ajuda, 33 VEZES! Porém ela não atendeu o telefone, e agora, está com a consciência pesada, esse número nunca mais vai sair de sua cabeça, assim como a sua possível culpa na morte da amiga. Esse acontecimento também piorou a doença de Lia que começou a ficar cada vez mais magra. Ela recusa a ajuda de todos que estão a sua volta prestes a ajudá-la, como sua mãe, madrasta, de seu pai e nem mesmo da sua meia irmã, de quem gosta tanto. Lia sabe do seu problema, mas não consegue contornar a situação.
... ela ligou.
trinta e três vezes.
você não atendeu.
corpo encontrado em um quarto de motel, sozinho.
você a deixou sozinha.
deveria deveria deveria ter feito algumaqualquercoisa.
você a matou.
Tento arrancá-los da minha cabeça me concentrando em
voz alta. "Estou subindo as escadas. Estou entrando no quarto.
Estou ... "
você a deixou sozinha. P.97
A vida pessoal de Lia também era conturbada, já que ela ficou sem amigos desde quando brigou com Cassie. Os pais são separados e vivem brigando quando se encontram, e sua mãe e ela sempre acabavam entrando em conflito quando se encontravam e tentavam conversar.
Lia se vê em auto controle, fazendo as coisas automaticamente, e sempre que comia muito ou era forçada a comer, logo vomitava para tirar o excesso de calorias de seu corpo para permanecer magra e alcançar a meta de sua massa corporal e a perfeição. A jovem também se insultava e se cortava para fugir dos seus problemas e diminuir a sensação de fome ou cobiça por algum alimento.
Resta a Lia tentar encontrar um controle de sua vida, esquecer um pouco de seu passado, comer como uma pessoa normal e livrar-se do fantasma da Cassie. Será que ela vai conseguir fazer isso antes que acabe se matando?
Uma porta se abre e fecha e sopra o cheiro de gengibre e cravos e açúcar queimando no meu rosto e no meu cabelo. Até agora, hoje sou 412 calorias. Vou queimar tudo e mais algumas centenas se encontrar forças para subir na máquina de step. Eu poderia comer metade de um cupcake (150) ou metade dele (75). Eu poderia raspar a cobertura e comer só a massa.
Eu não deveria. Não posso. Não mereço. Sou uma gorda gigante e tenho nojo de mim mesma. (...) Sou uma hipócrita feia e malvada. Sou um problema. Sou um lixo. (...) Quero comer como uma pessoa normal, mas preciso ver meus ossos ou vou me odiar ainda mais (...). P.197
Garotas de Vidro foi o primeiro livro que eu li que trata de transtornos alimentares, um assunto pouco explorado na literatura e que ao mesmo tempo está cada vez mais próximo de nós. Muitas garotas como Lia, tentam buscar a ''suposta'' perfeição comendo cada vez menos para ficar cada vez mais magra. Isso acontece muito com modelos, e acaba sendo na nossa sociedade atual, a perfeição, mas sabemos que é mentira. Esse quadro está mudando lentamente, e é importante buscar ajuda para pessoas anoréxicas e ter em nossas mentes a consciência de que magreza não é sinônimo de perfeição.
O livro foi escrito em primeira pessoa, e Lia nos conta sua vida de maneira que podemos imaginar perfeitamente todas as dificuldades sofrida por ela, o que torna a história chocante e um pouco perturbadora, o que também deixa o livro viciante.
Laurie escreveu sua obra através de vários relatos de leitoras que entravam em contato descrevendo as lutas diárias contra os transtornos alimentares que agiam como a Lia no livro, expelindo a comida através do vômito, cortando a pele e outros atos característicos dessas pessoas. A autora também pôde perceber de perto a fragilidade e a dificuldades dessas pessoas, para transcrever para o papel e o resultado ficou muito bom.
O título da obra ficou bom, Gatoras de Vidro se retrata da fragilidade das pessoas com transtornos alimentares, mas o título original ''Garota gelada'' ficaria melhor, pois em diversas vezes na narrativa podemos ver a utilização desse termo. A capa permaneceu com o padrão da original, sem nenhuma novidade. Quanto a diagramação, ficou muito boa, a editora mais uma vez fez um ótimo trabalho.
- Você não está morta, mas também não está viva. Você é uma garota gelada, Lia-Lia, presa entre dois mundos. Você é um fantasma com um coração que bate. Logo você vai cruzar a fronteira e ficar comigo. Estou tão empolgada. Tenho tanta saudade. P.190
O único problema do livro é que em algumas partes ele tende a ficar confuso, principalmente no início, mas logo o leitor vai se acostumando com o ritmo frenético que a autora procede na narrativa. A autora utiliza o processo de repetição de palavras e as vezes risca algumas palavras como em Estilhaça-me, os termos em que ela faz isso é quando a Lia quer comer, mas em sua concepção não pode.
Gartotas de Vidro é um livro que eu indico para todos os leitores, é difícil não gostar da narrativa.
Blog Entre Páginas de Livros (Em breve esta resenha estará disponível no blog)