J. Silva 23/03/2023
Antologia Poética
Organizada pelo próprio autor em 1961, "Antologia poética" traz notáveis poemas publicados ao longo da carreira e nos mais variados livros. Extraímos dessa obra basilar poemas que tratam do cotidiano, da vida e da morte, da infância e vida do autor e ao final, traduções de poesia e prosa de autores consagrados.
O contato com uma antologia proporciona conhecer o estilo do autor, sua evolução e as influências que guiaram seus textos. Por isso, que quando se fala em Manuel Bandeira é mergulhar na poesia modernista brasileira, que era marcada pela liberdade de criação, versos livres, aproximação entre a fala e a escrita, além de elementos regionalistas.
Ao longo da leitura, revivi as aulas de literatura do ensino médio e conheci outros textos, que me eram desconhecidos e que me impactaram profundamente. Ao final, com os poemas traduzidos, tive a oportunidade de conhecer os sonetos de Elizabeth Barrett Browning e ter despertado o interesse em conhecer mais a obra dessa poetisa.
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O último poema
Assim eu queria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
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Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d?água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
? Lá sou amigo do rei ?
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.