Ginete Negro 2.0 13/10/2023
"E se a fantasia for mais cruel que a realidade?"
É a partir da premissa acima que mergulhamos na leitura desse ótimo romance, o primeiro da trilogia da Companhia Negra. E ele, pelo menos no meu caso, me capturou logo de início: vemos as coisas sob o ponto de vista de Chagas, narrador-personagem, cronista e médico da referida Companhia Negra, que é uma companhia de mercenários. Só pelo nome já imaginamos que as batalhas e tomada de posição dependem de quem os paga. Mesmo assim, Chagas reflete sobre o papel da Companhia em meio às revoltas que tomam o seu mundo, bem como põe em xeque se ele mesmo está "do lado certo" desses conflitos.
Na verdade, meio que não existe um "lado certo"...
No início havia o Dominador, que comandava o mundo a mãos de ferro. Após conflitos com sua esposa, a Dama, que se sai vitoriosa por enquanto, o Dominador, do seu pouso em que está despertando, vai tentando reorganizar revoltas que minem a tentativa da Dama de restaurar o mundo sob o governo dela - que também é despótico... Nesse ínterim, a Companhia Negra é contratada pela Dama, por meio do Apanhador de Almas, um dos Tomados - magos antigos que se aliaram e depois rebelaram-se contra do Dominador -, e assim vai sufocando as revoltas que surgem em diferentes cidades.
Para cima e para baixo acompanhamos a campanha da Companhia sob a batuta da Dama - por quem Chagas nutre uma imensa e quase amorosa admiração, ao passo que a teme enormemente -, bem como conhecemos os ótimos companheiros de Chagas, dentre os quais, os magos Duende e Caolho (tipos de amigos inseparáveis que vivem se azucrinando), os demais mercenários da Companhia e, em especial, o Corvo - que resgata uma menina chamada Lindinha, surda, do estupro e quase assassinato.
É uma fantasia sombria, um pouco desbocada, cruel e sádica. Não há grandes reboleios de magia, mas ela está presente - sobretudo sob a ação dos magos e dos Tomados, principalmente o Apanhador de Almas e o Metamorfo, um Tomado que pode tomar qualquer forma corpórea.
E como estamos no terreno da fantasia, não posso deixar de fazer paralelos com outras obras do gênero (anteriores ou posteriores, claro), principalmente do modo como os Tomados me lembram (grosso modo) os Abandonados da série de livros "A Roda do Tempo" (estou no nono livro, e está sensacional).
Livro altamente recomendável. E vamos em busca da Rosa Branca (se você leu esse primeiro livro, já sabe que ela é).