Leitora Viciada 03/10/2012Este é um livro um pouco grosso e com uma fonte menor que o padrão da Novo Conceito e possui 57 capítulos, por isso demorei alguns dias para lê-lo. É uma história meio longa, porém boa. Repleta das mais variadas personagens. Foi uma leitura que me agradou e valeu cada hora mergulhada nela.
O livro possui toda a parte gráfica e editorial impecável. Apesar de grosso, devido ao material utilizado, não pesa.
É uma história bem moderna, devido aos assuntos abordados e diria que ao mesmo tempo em que é alto-astral e engraçada, é um livro maduro. Embora existam muitas cenas cômicas, a autora mantém o bom humor do início ao fim, mesmo nas partes tristes. Por ser Literatura Inglesa e não Estadunidense, acredito que existam características diferentes de outros chick-lits oriundos dos Estados Unidos. Não que eu seja especialista neste gênero literário, mas assisto a bastante filmes de comédias românticas.
Assim como os filmes ingleses, este livro possui um emaranhado de personagens e relacionamentos, uma teia de aranha do cotidiano que vai sendo tecida aos poucos e mostrando os mais diversos pontos de vista e deias. O humor é mais afiado e menos explícito, é mais sarcástico e adulto.
Porque a autora traz bom humor até mesmo nas partes tristes ou dramáticas. Isso não é um desrespeito com o ocorrido, apenas uma forma mais branda de tratar de determinado fato de forma mais natural.
Foi o que mais gostei do livro: desde cenas do dia-a-dia com acidentes domésticos, desencontros, confusões e má interpretação de falas, até acontecimentos mais tristes como doenças graves ou não, preconceitos, fofocas (leves ou pesadas) - tudo possui um tom de humor negro, é engraçado. Mesmo quando você pensa em como certa situação é triste, vem alguma cena engraçada, uma piada, um leve toque de humor para vermos como a vida sempre possui um lado oposto ao do sofrimento, por mais forte que a dor seja.
Existem diversos temas abordados no livro: divórcio, paixão, amor, homossexualismo, fama, luto, câncer, adolescência, amizade, traição, lealdade, desconfiança... mas o tema principal é: fofoca. Sim, o famoso "disse me disse".
Uma palavra ou frase interpretada de forma errada, e às vezes propositalmente, que se espalha e se funde com a verdade. Muitas vezes substitui a verdade.
Algumas fofocas podem ser inofensivas, fúteis e bobas, enquanto outras podem destruir vidas, relacionamentos. Outras são inventadas pela própria pessoa como fuga da realidade. Existe ainda aquela fofoca que a pessoa pensa estar espalhando pelo bem de alguém.
E além da fofoca: mentira. A mentira, contada pelos mais diversos motivos.
Então saber ou não a verdade, pensar que se sabe - traz diversão ao livro!
O livro trata também de celebridades ou subcelebridades, como uma fofoca e um tabloide da imprensa marrom (muito comuns na Inglaterra) podem detonar uma carreira ou a imagem de alguém.
Não apenas de fofoca, seja ela para o bem ou para o mal, o livro trata das falsas impressões. Taxar e rotular alguém pela aparência seja pelo estilo de vida ou pela forma de se vestir ou falar, pela casa em que vive, de onde vem, o emprego ou trabalho que exerce. Como isso pode ser perigoso, como podemos no enganar, sermos precipitados e até mesmo superficiais no julgamento ao próximo.
E tudo isso que existe no livro é real, não é? Rótulos, mentiras, fofocas, futilidade, superficialidade, julgamento precipitado. Isso acontece em qualquer local, qualquer cidade, bairro, condomínio, rua, prédio... Isso deve fazer parte do ser humano, é só observar quais são as revistas que mais vendem e as matérias mais acessadas nos grandes sites, em todo o mundo: fofocas!
A autora é muito habilidosa ao colocar isso a todo instante no livro. Você começa a pensar em determinada personagem como um tipo de pessoa e de repente, com ou sem motivos, percebemos que fomos injustos, que nos enganamos.
Que alguém pode parecer ser vil, insuportável, mas num momento de fragilidade começa a mostrar que tudo não passava de uma armadura de proteção. Que alguém pode ter a fama de já ter ficado com metade da cidade e ser excelente no sexo, mas será mesmo? E aquela pessoa que parece possuir uma máscara de tão falsa? Às vezes tudo parece uma baile de máscaras, ou melhor, à fantasia, cada um interpretando um papel perante os vizinhos. Você não sabe mais o que pensar. Será que aquela pessoa é mesmo boa? E aquela é má?
Será que ser você mesmo a todo instante sem se preocupar com o que pensam ou dizem de você pode ser seguro?
E conforme vamos nos aprofundando na história de vida e personalidade de cada pessoa envolvida na cidade do interior, começamos a perceber que existe muito mais complexidade por detrás do enredo do que meras cenas cotidianas.
Ao iniciar a leitura e ir até a metade eu pensava para onde estava sendo levada?
Eu já estava cativada por algumas personagens, como Tilly, a protagonista que se muda de Londres para o minúsculo vilarejo de Costwolds, para uma virada radical na vida como faz-tudo de uma empresa de decoração e do proprietário da mesma; sua melhor amiga Erin, que possui um brechó e começa a se envolver num relacionamento amoroso que dá o que falar; Max, o patrão de Tilly, decorador respeitado e excepcional, mas divorciado e um dos maiores alvos de fofocas do vilarejo; Lou, a filha adolescente, adorável e esperta de Max, que parece ser a mais ponderada no meio de tantos adultos loucos e rende ótimos diálogos; Betty, a cadela de Max e Lou, que gera cenas hilárias junto à protagonista, pois Tilly precisa cuidar de Lou e Betty para Max; Stella, a mais fofoqueira, fútil e barraqueira do local, que está irada ao ser abandonada pelo marido logo quando queria um bebê, você a odeia e ama; Kaye, a ex-mulher de Max, que vive nos Estados Unidos como atriz relativamente famosa de uma série de televisão, que passa um tempo com o ex e a filha e se torna amiga de Tilly; o professor atlético da escola de Lou, que atrai todos os olhares femininos (e masculinos!), embora seja comprometido; e por último e não menos importante, o garanhão da cidade, o viúvo sedutor Jack, que não para de investir todos os seus esforços em Tilly - é o romance central do livro.
E o que esse lado romântico de Dizem por Aí... tem de diferente de outros chick-lits? Até a última página não existe aquela certeza de "felizes para sempre". Tilly e Jack são como cão e gato. Eles estão apaixonados, fortemente atraídos um pelo outro, mas os boatos, as fofocas impedem de o relacionamento acontecer.
Parece que o galã já conquistou mais que todo o vilarejo, mas sim toda e qualquer mulher da região. E todas as pessoas que aparecem ter bom senso avisam Tilly sobre isso, que desde a morte precoce do amor da vida de Jack, ele tornou-se o mais disputado e concorrido solteiro local, mas nunca iniciai um relacionamento sério; nada além de uma ou duas noites. Todos que parecem amigos de Tilly a avisam para tomar cuidado com o conquistador e não se ferir.
Tilly é muito engraçada, teimosa, possui jogo de cintura e é inteligente. Ela quer se jogar nos braços dele, mas pensa na sua reputação, afinal agora vive numa cidadezinha e não quer ter má fama. Precisa do emprego, gosta do que faz (apesar de não possuir muitas regras ou rotina), porém como resistir à tentação, ainda mais que Jack é amigo, sócio e frequentador assíduo de seu ambiente de trabalho? E lindo, perfeito!
Ela começa a perceber que seus sentimentos por ele ficam mais intensos, mesmo não tendo um caso com ele, nada além de amizade. Eles se tornam cada vez mais íntimos, e ela se esforça cada vez mais para resistir. Afinal, por mais apaixonado que ele pareça, sempre existe um novo boato de uma nova mulher saindo com ele! E Tilly se descabela! E Jack não quer nem gosta de comentar sobre esse assunto, deixando Tilly mais insegura.
Ela vive em dúvida e começa a se meter nas fofocas, o que faz a história ser muito engraçada, ela querendo se aprofundar na história de Jack, nas suas conquistas amorosas... é cômico!
É muito difícil resenhar este livro sem soltar spoilers, portanto recomendo-o como uma incrível diversão, para quem gosta de ler sobre a vida de pessoas diferentes, mas todas interligadas, já que é um vilarejo de interior.
Uma protagonista bem estruturada, personagens marcantes, até mesmo os secundários e cenas sempre com uma pitada de humor, do drama à comedia.
Um livro que não se lê de um dia para o outro, embora seja leve e divertidíssimo; que começa devagar, meio estranho até arrebatar e conquistar o leitor, de forma lenta, como os filmes ingleses costumam fazer, até agradar em cheio.
Adorei a Tilly, o Max, a Lou e o Jack. Personagens inesquecíveis. Ahhh, até a Betty!
E Tilly, a estranha e a novidade dessa cidadezinha, como conseguirá conquistar a população, em meio a tantos burburinhos? Como ela conseguirá conquistar o seu lugar nessa sociedade própria? Será que ela irá mesmo se firmar num lugar tão diferente de Londres? E o monte de fofocas diárias sobre as pessoas do lugar (e sobre Jack!!), quais serão verdadeiras e quais serão falsas?
Tilly precisa descobrir, mesmo que ela não seja nem um pouco habilidosa ou sedutora como as bond girls, muito menos consegue bancar a agente secreta como o 007. Talvez ela esteja mais para uma atrapalhada versão feminina do Mr. Bean.
(Não resisti realizar trocadilhos com referências inglesas pops, seja da televisão, música, esportes, política, porque o livro contém muitas e muitas, cita até Girls Aloud e o casal Posh-Beckham! Não se preocupe, existem notas de rodapé explicando o que é o quê.)
Gostei tanto do livro que desejo ler outros dessa autora.