Coruja 23/11/2013Nosso Homem em Havana é um dos livros que estava faz mais tempo na fila de espera na minha estante, de forma que o levei comigo na mala quando viajei em agosto – e fui lendo pedaço por pedaço a cada etapa da jornada, culminando no trem entre Veneza e Florença (enquanto meu vizinho da frente devorava um álbum de Corto Maltese e volta e meia me distraía com seus resmungos).
Curiosamente, eu acho que comprei esse livro justamente para lê-lo numa viagem. Inicialmente pensava que tinha ganho ele de alguém, mas tenho uma vaga memória de ler a sinopse e colocá-lo debaixo do braço – de forma que o carimbo de uma livraria em Belo Horizonte significa que o comprei quando fui a BH. Fora que ele é um volume de bolso, o que sempre prefiro quando quero ler algo em trânsito.
Seja como for, devo dizer que
Nosso Homem em Havana foi uma muito agradável surpresa. Eu não conhecia o Graham Greene, nem estou acostumada com o gênero de espionagem, de forma que não tinha criado nenhum tipo de expectativa. Creio que o que me levou a comprar esse livro foi a ligação com Cuba e a Guerra Fria, que é algo sobre o que tenho pouco conhecimento para além do visto nos bancos escolares.
Enfim... o homem em Havana é um inglês, representante comercial de uma firma que vende aspiradores de pó. O senhor Wormold é um cidadão pacato, que há muito se integrou a Havana (embora Havana não tenha se integrado tão bem nele). Abandonado pela mulher, ele tem como uma preocupação na vida a filha Milly, que alterna a vida entre ser uma católica devota e carola e uma provocadora de confusões – incluindo aí o fato de ter enrolado no seu dedo mindinho o capitão Segura, reputado torturador do regime conhecido como Abutre Vermelho.
Wormold é contatado por um agente do MI-6 que quer transformá-lo em espião. Mais por inércia que qualquer outro motivo, Wormold concorda... e se a princípio ele é um espião relutante, não demora muito, quando ele percebe o dinheiro que pode fazer com tal negócio (e, por conseqüência, assegurar o futuro de Milly), para que ele esteja inventando outros agentes, bases secretas, armas de destruição em massa e outras conspirações.
O que Wormold não esperava, contudo, é que os chefões da agência engolissem com tanto gosto suas mentiras. Tampouco, que suas histórias começassem a se tornar realidade. Ou ainda, que ele se tornasse alvo de agentes de outras nações.
A história se passa antes do golpe que levou os Castro ao poder, durante o governo de Batista. À época, esse gênero literário estava começando – Ian Fleming apenas começava a publicar sua série sobre o agente Bond, James Bond – e não acho que o livro tenha produzido um grande impacto, até por ser uma clara sátira. Hoje, contudo, diante dos escândalos e trabalhadas dos serviços de inteligência e espionagem, Greene soa bastante crível.
Greene sabia sobre o que estava escrevendo, tendo sido, ele mesmo, um agente. Por isso, ainda que o tom seja farsesco e alguns diálogos e situações, razoavelmente absurdas, ele consegue nos convencer que tudo aquilo é possível, é real.
Uma excelente pedida. Recomendado, sem dúvida.
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http://owlsroof.blogspot.com.br/2013/11/para-ler-nosso-homem-em-havana.html